Revista Exame

Recife é o novo polo da economia criativa

Com um aeroporto eficiente, uma robusta rede de banda larga e o foco voltado para o mercado global, a velha terra dos mascates se tornou uma das melhores cidades do país para fazer negócios


	Aeroporto de Guararapes: eleito pelos usuários como o melhor do Brasil em 2013
 (Infraero)

Aeroporto de Guararapes: eleito pelos usuários como o melhor do Brasil em 2013 (Infraero)

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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2014 às 12h59.

São Paulo - No início do mês, o grupo Fiat Chrysler anunciou a instalação de um centro de tecnologia automotiva em Recife. O imóvel de uma antiga tecelagem, desativada há 20 anos, foi cedido para a montadora pelo governo de Pernambuco para abrigar o empreendimento, que exigirá investimentos de 500 milhões de reais e empregará 1 000 pessoas, entre engenheiros, técnicos e outros profissionais.

O centro de pesquisa deve ser inaugurado em dois anos, mas a divisão de desenvolvimento de software começa a funcionar em breve, com 35 funcionários, em uma casa no Porto Digital, como é conhecido o polo de tecnologia da informação da cidade, localizado no bairro do Recife Antigo.

O novo centro de tecnologia trabalhará em sintonia com outros núcleos de pesquisa e desenvolvimento da Fiat no mundo, colocando Recife no mapa global da engenharia automotiva. “O que quero da indústria é a inteligência”, diz o prefeito, Geraldo Julio. “Enquanto as fábricas produzem na região metropolitana, a inovação fica na capital.”

A escolha de Recife não se deu apenas por conveniência da Fiat, que está erguendo uma nova fábrica de veículos em Goiana, na região metropolitana. Segundo a pesquisa da consultoria Urban Systems, Recife tem hoje a melhor infraestrutura do Brasil para negócios, além de excelente capital humano.

Tanto em telecomunicações como em transporte, Recife leva vantagem sobre outras grandes cidades brasileiras. Conta, por exemplo, com um porto e um aeroporto em seu perímetro urbano.

Em um levantamento feito pela Proteste Associação de Consumidores em 2013, o aeroporto de Guararapes foi considerado o melhor entre os 14 mais movimentados do país e o único que recebeu a classificação “bom”.

Teve avaliação positiva em sinalização, banheiros e lugares para sentar (recebeu notas baixas em procedimentos de segurança e acesso por transporte coletivo, apesar de ser bem localizado e contar com uma estação de metrô).

No setor de telecomunicações, a rede de banda larga fixa de Recife está muito acima dos padrões brasileiros. Cerca de 35% da população tem acesso a conexões com velocidade acima de 12 megabits por segundo, enquanto a média nacional é 9%.

A rede de fibra óptica atende o Centro de Convenções de Pernambuco, que há três anos recebe a Campus Party, o maior evento de tecnologia do país, e conecta universidades e núcleos de pesquisa. Os equipamentos municipais estão sendo conectados por uma rede pública Wi-Fi.

Desde sua fundação, no século 16, a “terra dos mascates”, como eram conhecidos os comerciantes portugueses que atuavam na época em Recife, mostrou sua vocação para comércio e serviços. Logo a cidade se firmou como um polo de distribuição de mercadorias, com forte atividade alfandegária.


Mais de 400 anos depois, essa vocação comercial e burocrática foi redirecionada para a economia criativa — expressão cunhada pelo consultor bri­tânico John Howkins para se referir ao uso do conhecimento como principal insumo produtivo. E o grande impulso para essa virada foi a fundação, em 2000, do Porto Digital, que criou na cidade um novo ambiente de negócios, orientado para o mercado global.

O parque tecnológico nasceu com três empresas e 46 pessoas — hoje são 230 companhias e 7 000 funcionários. ­Nesse grupo há startups e muitas micro e pequenas empresas, mas também algumas grandes, como as multina­cionais Microsoft, IBM e Accenture.

No total, o faturamento do Porto Digital supera 1 bilhão de reais por ano. “Não houve um único ano em nossa história que tivemos perda líquida de empresas”, afirma Francisco Saboya, diretor-superintendente do Porto Digital. Até 2020, a meta é ter 20 000 pessoas trabalhando no local. 

Uma das empresas atraídas pela boa infraestrutura do Porto Digital é a ­consultoria Accenture, instalada na área há três anos. “Antes de escolher Recife, estudamos dez cidades e analisamos fatores como capacidade de crescimento, custos, excelência universitária e qualidade dos profissionais”, afirma ­Flávia Picolo, diretora da Accenture. “Recife é a cidade que oferece a melhor combinação.”

A Accenture é a maior empregadora na área de tecnologia da informação na cidade. Conta com 500 funcionários e, com a demanda crescente por seus serviços, abriu em 2013 um novo escritório em Recife. Sua meta neste ano é crescer 50% e chegar a 750 funcionários. 

Embora tenha a melhor infraestrutura entre as cidades brasileiras, Recife enfrenta vários problemas. O calcanhar de aquiles é a mobilidade urbana.

Há alguns projetos em andamento, como a implantação de dois corredores viários, a abertura de faixas exclusivas de ônibus e a construção de ciclovias, mas, como ocorre em outras metrópoles, Recife tem sido pressionada pelo aumento da frota de carros — ganha cerca de 100 000 novos veículos a cada ano.

A prioridade da administração pública é desenvolver meios de transporte não motorizados e facilitar os deslocamentos porque, definitivamente, engarrafamentos e atrasos não combinam com os negócios.

“Nosso transporte urbano ainda é um gargalo”, diz Antônio Alexandre, secretário municipal de Desenvolvimento e Planejamento Urbano. “Mas a Copa do Mundo viabilizou muitos investimentos, e esperamos mudar essa situação.”

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