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Na saúde “dá para gastar menos e pagar mais”

Wilson Pollara, secretário de Saúde da cidade de São Paulo, promete economizar 4 bilhões de reais por ano reorganizando o atendimento municipal

Pollara, secretário paulistano: “Há locais ociosos, enquanto 
outros têm fila” (Germano Lüders/Exame)

Pollara, secretário paulistano: “Há locais ociosos, enquanto outros têm fila” (Germano Lüders/Exame)

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Flávia Furlan

Publicado em 21 de setembro de 2017 às 05h18.

Última atualização em 21 de setembro de 2017 às 05h18.

São Paulo – O município de São Paulo tem estrutura de sobra para prestar serviços à população. Essa é a visão de Wilson Pollara, secretário de Saúde da cidade. De acordo com seus cálculos, há um excedente de 36% na rede de unidades básicas de saúde, de 9% no número de unidades de pronto-atendimento e o dobro de hospitais necessários. No entanto, como opera de maneira desorganizada, o sistema acaba gerando desperdícios e é ineficiente no atendimento.

Numa reestruturação que já está em curso, Pollara estima ter de trocar algumas unidades de endereço e delimitar parte das cirurgias realizadas nos hospitais. Sem fechar nenhuma unidade, ele quer ocupar locais ociosos e reduzir a demanda onde há filas. “Se essas coisas não forem feitas, quanto mais dinheiro puser na saúde, mais vai para o ralo”, diz. Aos 68 anos, Pollara está para lançar um livro sobre sua experiência profissional intitulado A Saúde Tem Cura (editora Pensando Juntos).

EXAME – O que, de fato, está mudando no sistema de saúde da cidade de São Paulo? 

Wilson Pollara – A rede que forma o sistema de saúde municipal precisa de uma clientela de 1,5 milhão de pessoas para funcionar sem desperdício. Em São Paulo, são 6,5 milhões de pesministsoas que dependem do sistema público. E há sobra de estrutura. Precisamos de 328 unidades básicas, mas há 448 funcionando e 14 em construção, e de 32 unidades de pronto-atendimento, mas há 35 em operação e 13 em construção. A cidade tem 70 hospitais públicos, metade deles estadual, e 11 000 leitos, sendo que o necessário é metade disso.

EXAME – Haverá o fechamento de estruturas existentes? 

Wilson Pollara – Nada vai fechar, mas poderá mudar de endereço se estiver atendendo pouca gente. A sobra do sistema vai diminuir, pois haverá demanda e fluxo de atendimento, coisa que não acontece hoje porque alguns locais ficam ociosos e outros com fila. O que não pode ocorrer é uma unidade básica com uma só equipe custar três vezes o que custa a de cinco equipes. E temos 125 unidades básicas com menos de cinco equipes. Vamos contratar mais pessoas. Há 1.227 equipes e precisamos de 1.500. Teremos de chamar 712 médicos de concursos e 509 que estão fora da função.

EXAME – Nessa estrutura, como ficam as unidades de assistência ambulatorial, as AMAs?

Wilson Pollara – As AMAs são um desvio da rede do sistema de saúde. O cidadão tem um especialista à disposição, consulta com ele uma vez e não há um prontuário. A AMA é ruim, não trata e consome 850 milhões de reais por ano. Essas unidades vão virar ambulatório de especialidade ou unidade básica. Dessa forma, elas vão passar a ser reconhecidas pelo Ministério da Saúde e receberão financiamento federal.

EXAME – Quanto tempo levará para mudar o sistema?

Wilson Pollara – Até meados do ano que vem ele estará mudado. Estamos fazendo reuniões nas regiões da cidade para combinar o que fazer com cada unidade, porque nesse sistema é preciso estipular as funções de cada estrutura da rede. E isso vai cortar muitos gastos. Estimamos  uma queda de 30% a 40% no custo de saúde do município, hoje em 10 bilhões de reais. Tirando o desperdício, dará para remunerar melhor os médicos e os hospitais.

EXAME – O Corujão da Saúde reduziu a fila de exames em São Paulo. Mas como resolver de vez?

Wilson Pollara – No Corujão da Saúde, que usou hospitais particulares para fazer exames da rede pública à noite, de uma fila de 500.000 pessoas, 150.000 não precisavam mais estar nela, ou porque fizeram exame na emergência ou porque a doença já tinha mudado. E 90% dos exames deram um resultado normal. O excesso de pedidos se resolve com informatização e protocolos de atendimento. Fila sempre tem, mas precisa andar.

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