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João Farkas fotografa beleza e destruição do Pantanal e foge dos clichês

O fotógrafo João Farkas fez dez viagens em seis anos para revelar a beleza do Pantanal; agora as imagens ganham edição em livro

Lagoas salinas de Nhecolândia, no Pantanal: longe de clichês (João Farkas/Sesc/Divulgação)

Lagoas salinas de Nhecolândia, no Pantanal: longe de clichês (João Farkas/Sesc/Divulgação)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 05h01.

Última atualização em 27 de agosto de 2020 às 10h35.

Entre 2014 e 2019, o fotógrafo brasileiro João Farkas, acostumado a fotografar a Amazônia, a Bahia e a fazer retratos, topou o desafio de conhecer o Pantanal. Lá, foi surpreendido. “Como todo mundo, eu tinha uma espécie de cegueira cognitiva em relação ao Pantanal. A gente acha que já conhece e entende, que é um paraíso protegido, mas não. Ao vivo, conhecemos toda a sua complexidade”, diz.

Durante anos, Farkas contou com o apoio de fazendeiros locais a fazer seu trabalho e chegar a lugares quase inacessíveis, voar de monomotor para captar imagens aéreas e presenciar eventos raros, como a grande florada dos ipês. Agora as imagens saem no livro Pantanal, pela Edições Sesc São Paulo. Em 160 páginas, a obra traz mais de 80 imagens e pequenos textos explicativos de sua autoria. ­CASUAL conversou com João Farkas.

Por que fotografar o Pantanal?
As coisas estão mudando rapidamente. É um bioma enfrentando incêndios, mudança no regime de cheias e erosão do solo. Os próprios fazendeiros estão sofrendo, sabem da gravidade e me chamaram para ir lá. Os pantaneiros são apaixonados pela região, eles têm muito orgulho e senso de responsabilidade. Fiquei fascinado pela beleza local, mas também pela fragilidade. É preciso conhecer o Pantanal antes que desapareça.

Como escolheu as fotos que entraram no livro?
Foram mais de 10.000 imagens para depois escolher cerca de 80. Como a região já foi muito fotografada, precisava de algo diferente e longe dos clichês. Optei por menos imagens descritivas e mais imagens plásticas e abstratas. Eu me inspirei muito em artistas como Van Gogh, Tomie Ohtake e Monet. A ideia, também, era impactar. Estamos em uma sociedade hiperinformada, e sem fotos surpreendentes não conseguiria a atenção do público.

De quais clichês o livro tenta fugir?
Sempre fotografam a onça, o jacaré, o galho seco com uma ave contra o pôr do sol, a boiada passando no rio. Quis fugir disso. Dá para buscar novos olhares, inclusive para documentar as ameaças. O livro também traz retratos. O rosto dos pantaneiros é muito característico. Eles são mais melancólicos. Talvez pela solidão daquele espaço tão isolado, pela vida difícil que levam.

Que impacto espera causar com as imagens?
O Pantanal está ameaçado e isso terá graves consequências econômicas. É preciso chamar a atenção para a beleza e para a destruição. Respeitar a natureza, mostrar sua beleza e ao mesmo tempo produzir de maneira responsável. Ou achamos uma saída comum, de preservar e produzir, ou viveremos no incêndio e na seca e sob boicote internacional.


(Divulgação)


FILME

Realidade questionada

O vencedor do Oscar Charlie Kaufman lança na Netflix um suspense psicológico sobre passagem do tempo e identidade | Guilherme Dearo

(Divulgação)

O roteirista e diretor Charlie Kaufman não é um cineasta de filmes fáceis. Seja ao escrever Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, seja ao dirigir a animação Anomalisa e o grandioso Sinédoque, Nova York, ele entrega um desafio aos fãs, que saem profundamente afetados por questões existenciais. Cheios de dúvidas, mas nunca indiferentes.

Após cinco anos sem novidades, Kaufman trabalha com a Netflix para lançar Estou Pensando em Acabar com Tudo, sua nova empreitada de toques existenciais e surrealistas. Jessie Buckley (de Chernobyl), que tem alguns pensamentos suicidas, aceita visitar os pais de seu namorado (Jesse Plemons, de Black Mirror) numa fazenda durante uma noite de neve intensa. No jantar, a aparência de normalidade dos pais, interpretados por Toni Collette (Pequena Miss Sunshine) e David Thewlis (Harry Potter), logo dá lugar a um estado incômodo e onírico que faz a protagonista questionar a existência das coisas ao redor (e também sua própria) e a refletir sobre arrependimento, velhice e solidão. Kaufman baseou o roteiro no premiado romance de mesmo nome do canadense Iain Reid.

Estou Pensando em Acabar com Tudo | De Charlie Kaufman | 4/9, na Netflix

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