Mais calma nos preços: o país volta, após oito anos, a ficar dentro de seus compromissos de meta da inflação (Paulo Fridman/Bloomberg)
J.R. Guzzo
Publicado em 12 de julho de 2017 às 18h00.
Última atualização em 12 de julho de 2017 às 18h00.
São Paulo – Ninguém é louco de dizer que a economia brasileira não está indo assim tão mal como se diz todos os dias, porque ela vai muito mal — e o mundo político faz todo o esforço humanamente possível para que vá pior ainda. Um país com quase 14 milhões de desempregados, como é o Brasil de hoje, vive necessariamente momentos de tragédia econômica, sobretudo quando se considera a guerra sem trégua movida contra qualquer mudança pelas forças empenhadas em manter seus privilégios, seus custos irracionais e sua intransigência em consumir o máximo que podem da riqueza nacional.
Também não ajuda em nada a fraqueza de um governo sem autoridade, jurado de morte pelo comando do Ministério Público e extorquido o tempo todo por parlamentares chantagistas que se apresentam como “independentes”. Mas os números da economia, por menos atenção que se preste neles, parecem não vir do mesmo país doente. Há fatos positivos em diversas áreas-chave — e fatos, como se sabe, não desaparecem de acordo com os desejos de quem, por um motivo qualquer, não gosta deles.
Temos assim que o saldo das exportações brasileiras de junho foi um recorde histórico; já passou dos 36 bilhões de dólares no primeiro semestre de 2017, o melhor resultado jamais obtido desde que tais cifras começaram a ser contabilizadas quase 30 anos atrás, em 1989. No ano, o total do superávit deve ultrapassar os 60 bilhões de dólares — número que pode ser maior ainda e também é inédito. Pouco se falou disso. Ao contrário, o grande barulho do mês em matéria de comércio exterior foi o horror apresentado nas manchetes e nos noticiários de rádio e TV diante da suspensão das importações de carne brasileira pelos Estados Unidos.
Como em geral acontece, não foi dada atenção à notícia de fato relevante: o total das exportações de carne brasileira, no mês de junho, cresceu em vez de diminuir e deve bater nos 7 bilhões de dólares até o fim do ano. Não há outro país que exporte tanta carne quanto o Brasil. Como assim, se deveria estar tudo indo para o diabo, com a “carne podre”, o “banditismo” dos frigoríficos, o “perigo” público que a indústria brasileira de proteína representa para a saúde mundial e para o equilíbrio ambiental do planeta? Há mistérios que só a mídia poderia explicar.
A agricultura, essencial na formação do saldo, terá em 2017 os melhores resultados de toda a sua história. A produção de grãos vai passar dos 230 milhões de toneladas, quase cinco vezes mais do que o total colhido apenas 40 anos atrás; a soja, sozinha, responderá por 105 milhões de toneladas; o milho, por quase outros 90 milhões. A indústria brasileira, uma espécie em via de extinção no governo de Dilma Rousseff, cresceu em junho; cresceu uma miséria, mas cresceu em vez de diminuir.
Além disso, cresceu pelo segundo mês consecutivo — e dois meses, no Brasil de Temer, Janot & Joesley mais o resto da tropa, já fazem uma série histórica. A inflação de 2017 deve ficar em torno de 4%, talvez menos ainda; o país volta, após oito anos, a ficar dentro de seus compromissos. A meta inflacionária estourou no segundo governo Lula, em 2009, e nem é preciso dizer o que aconteceu com Dilma: nunca mais, nem uma vez, a meta foi cumprida, sendo que, em seu último ano completo na Presidência, a inflação chegou a passar dos 10%. O crescimento da economia como um todo continua inexistente, mas estar em ponto morto é sempre melhor do que andar em marcha a ré, como era no tempo da presidenta. Estávamos muito mal e com viés de piora, como diriam os técnicos em finanças — agora estamos apenas mal.
Não há a menor necessidade, para ninguém, de gostar do atual governo da República; talvez nem seja possível. Também é certo que um amontoado de estatísticas não faz uma verdade científica. Mas ignorar que a atual equipe econômica é patentemente melhor do que a do governo Dilma-PT — talvez não 1 000% melhor, mas uns bons 900% — é agredir a realidade. Salvo para os interessados de sempre, não há nenhum proveito nisso.