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Youtuber gestor? Influenciadores investem em educação empreendedora

Youtubers diversificam receita com a oferta de novos produtos e serviços que considerem oportunidades de negócio

Gabriela Bordin, influencer na área de maquiagem e beleza: Youtuber fez curso sobre empreendedorismo (Flávio Florido / Ricardo Yoithi Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)
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Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2021 às 11h00.

Última atualização em 7 de junho de 2021 às 05h20.

Por Gabriel Jareta, do Jornal de Negócios do Sebrae-SP

Os dias de “blogueirinha” já ficaram para trás na vida de Gabriela Bordin. Aos 28 anos, graduada em estética e com quase 80 mil seguidores no seu canal no YouTube, ela agora é uma influenciadora empreendedora, uma carreira que está se tornando a cada dia mais profissional e mais rentável. No caso de Gabriela, que criou seu primeiro blog sobre beleza em 2010, quando morava em Florianópolis, o trabalho como influenciadora de beleza e estética nas redes sociais é o que garante 100% da renda dela todo mês (além do canal de vídeos, ela tem 36 mil seguidores no Instagram).

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“O meu grande diferencial é minha formação em estética, hoje são poucas pessoas que trabalham com beleza e que realmente tem a teoria por trás”, diz Gabriela. Segundo ela, a carreira como influencer também é fruto de muito planejamento e da coragem de ir para a frente das câmeras. “Quando eu tinha o blog, o pessoal pedia tutorial de maquiagem no YouTube, mas eu era muito tímida, nunca me imaginei falando em frente a uma câmera. Até na escola eu faltava no dia de apresentar trabalhos”, lembra.

O primeiro grande passo veio no início de 2015, quando ela finalmente resolveu gravar e publicar um vídeo na internet. “Foi quando eu decidi que ia fazer de tudo para trabalhar com redes sociais, queria levar conhecimento, levar autoestima, levar esse conteúdo de forma leve e fazer diferença na vida de quem está me assistindo”, diz.

Com o retorno positivo que ela obteve, passou a se dedicar cada vez mais à produção de conteúdo e se mudou para São Paulo com “a cara e coragem”, como ela diz. Na época, em 2017, tinha apenas 5 mil seguidores e não sabia como obter renda do canal além do ad revenue o rendimento dos anúncios que são exibidos no seu vídeo.

Aos poucos, Gabriela foi formando um público de interessadas em dicas de maquiagem e também de frequentadores da Rua 25 de Março, famosa pelo comércio popular em São Paulo. No canal, ela fazia “tours” pelas lojas mostrando atrações e novidades. Mesmo com o público crescente e o reconhecimento de algumas marcas de produto de beleza, ainda faltava o outro grande passo: tornar-se, de fato, uma empreendedora. Embora ela tivesse um CNPJ, não sabia nada sobre como lidar com uma empresa.

Foi aí que ela soube das primeiras turmas do projeto Influenciador Empreendedor, um piloto iniciado neste ano no Escritório Regional Capital Sul do Sebrae-SP e que tem como objetivo levar informações sobre gestão e mercado para quem está tentando se posicionar na internet.

“Já fiz outros cursos de influenciadores digitais, mas o que abriu minha mente foi a parte de negócios. Entender que tenho uma empresa e preciso tratá-la como empresa. Estou na internet há seis anos, mas eu não entendia que o dinheiro que entrava devia ser separado, na minha cabeça era tudo meu”, conta.

Abrir os olhos

A ideia do projeto Influenciador Empreendedor surgiu da experiência da analista de negócios do Sebrae-SP Helena Costa de Andrade. Ela mesmo já teve seu blog e chegou a participar de eventos e fazer divulgações, e entendia que esse é um mercado que está em franco crescimento e atraindo cada vez mais jovens.

De acordo com a revista Insider, as marcas devem investir US$ 15 bilhões (cerca de R$ 78 bilhões) no mercado de influenciadores digitais em 2022. “Em gerações anteriores o sonho era ser modelo ou jogador de futebol, mas hoje a geração de dez a 21 anos quer ser youtuber”, diz.

Na prática, o que Helena observou foi que grande parte dos youtubers e influencers, mesmo aqueles com milhares de seguidores, não sabiam como formular o preço de um “publi” (uma publicação paga por uma empresa dentro do canal ou perfil) ou fazer um plano de negócios. “Os influenciadores têm um ‘gap’ grande na parte de gestão. Eles sabem muito de marketing digital, mas não sabem de business: precificar, fazer branding, prospectar, fazer uma proposta de valor”, explica.

O curso, inicialmente formulado com cinco aulas, passa por temas como comportamento empreendedor, proposta de valor, monetização e formalização. Os participantes vão desde quem já atua como influenciador digital como quem quer dar seus primeiros passos nesse mercado. Também é direcionado para os “influenciadores experts”, aqueles que são voltados para um nicho determinado, como cabeleireiros, personal trainers ou nutricionistas, por exemplo.

De acordo com Helena, embora muitos tenham a imagem que os influencers vivem de “recebidos” aqueles presentinhos mandados por marcas e citados pelos blogueiros é possível se planejar para ganhar bem com a influência digital. Segundo ela, entre anúncios, publis e infoprodutos, um influenciador com 100 mil seguidores consegue faturar até R$ 15 mil por mês.

“Conheço gente que largou o trabalho para viver de influenciador. O fator carisma conta muito, mas a pessoa precisa ter um propósito, falar sobre aquilo que ela realmente tem paixão”, afirma.

Para Gabriela Bordin, passar pelo curso do Sebrae-SP a fez abrir os olhos. “Foi surreal, eu nem sabia que precisava fazer a declaração anual de MEI, nunca ninguém tinha me falado sobre isso. Os influenciadores não conversam entre si sobre questão de valores, é tudo muito vago. A gente tira um valor da nossa cabeça, não sabe se está cobrando pouco ou muito”, diz.

Hoje, ela já tem um “media kit” com tabela de valores e contratou uma assessoria de vendas, que faz o contato com as marcas. Permuta, agora, só quando é muito estratégico. Para o futuro próximo, ela pretende lançar um curso de maquiagem, abrir o foco para falar de viagens e, quem sabe, ter sua própria marca de cosméticos.

Diversificação

Os influencers com muita rodagem já perceberam que o caminho para expandir o faturamento é não depender apenas do que é monetizado pelas redes sociais por meio de anúncios. Um dos youtubers mais populares do mundo hoje, o americano Ryan Kaji tem apenas 9 anos e quase 30 milhões de inscritos nos seus canais, onde ele basicamente mostra sua rotina de brincadeiras e desafios. Seu faturamento anual estimado é de US$ 30 milhões, dos quais 60% a 70% são de produtos licenciados, como uma linha de tênis.

No Brasil, os principais influenciadores digitais já pularam das redes sociais para o mundo dos licenciamentos e da televisão (ou streaming), como é o caso do humorista Whindersson Nunes, que chegou a ser dono do canal com maior número de inscritos no país e hoje investe também na carreira musical e na de ator.

Já o animador Ronaldo Souza, dono do canal Gato Galáctico, com mais de 14 milhões de assinantes, estruturou seu negócio em várias frentes o que também proporciona diferentes fontes de receita. Aos 30 anos, ele se define como um empreendedor e hoje fatura R$ 4 milhões anuais com o canal, criado em 2013 a partir de uma música infantil que viralizou.

“O vídeo ficou muito famoso, teve muitos compartilhamentos e o revenue (a receita) acabou sendo bem alto. Essa foi a grande faísca que me fez pensar que eu poderia empreender a partir do canal. Por isso eu larguei tudo, larguei emprego, larguei toda a estrutura financeira que eu estava me apoiando para trabalhar 24 horas no canal”, lembra.

Souza conta que se dedica muito ao estudo de livros sobre empreendedorismo e à observação de modelos de negócio que deram certo. Hoje, além do licenciamento de inúmeros produtos, livros e jogos, está investindo em uma “aceleradora de carreira” de novos influenciadores.

“Existem muitos influenciadores que têm tudo a ver com as mensagens que nós queremos passar, que é algo família, amigável, sem palavrão e que projeta bons valores”, diz. “São oito anos de carreira no YouTube, a gente acaba sabendo um monte de atalhos que quem está começando não sabe”, completa.

Para Letícia Diniz Gonçalves, professora na Escola Superior de Empreendedorismo Sebrae-SP e especialista em audiovisual, aquilo que era considerado um canal de comunicação na internet passou a ser um canal de negócios, uma verdadeira ferramenta de vendas.

E isso inclui novidades como o TikTok e o Pinterest. “Comunicar-se hoje é crucial. Você pode usar seu talento para vender um produto associado, pode ser até um aspirador de pó, mas é preciso explicar como aquilo funciona e vai mudar sua vida”, diz.

Segundo ela, essa comunicação, para ser efetiva, deve incluir temas como storytelling, boa oratória e “call to action” ou seja, o “chamado para ação, que significa transformar sua audiência em leads, os possíveis compradores dos produtos.

“Todos os clientes estão nas redes, mas existem tantos players que é preciso saber como dizer: ‘vem comigo que eu sou melhor’, explica. E não necessariamente é preciso entregar algo físico o chamado infoproduto (que pode ser desde um e-book gratuito até um curso completo em vídeo) é um dos principais meios de obtenção de receita. “Se eu tenho um canal sobre pães, posso oferecer um e-book gratuito ensinando a fazer pão, em que eu capto um e mail para depois vender um curso pago ou mesmo utilizar seus dados”, diz.

Uma questão incontornável, de acordo com Letícia, é que a pandemia mostrou o quanto é necessário estar presente nos meios digitais. “Há o termo ‘figital’, que é a presença física e digital, e a pandemia apressou essa demanda. Não só uma questão de sobrevivência, mas de crescimento. Mesmo quando a pandemia passar, esse híbrido vai fazer parte da realidade”, diz.

“O nativo digital recebeu um celular tocando Galinha Pintadinha antes de fazer um ano de idade, é uma geração que já entende que tudo é uma questão de experimentar e corrigir a rota. Nossa meta é mostrar para o imigrante digital que ele também precisa estar nesse ambiente”, conclui.

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