Startup quer mostrar que a computação quântica vale, sim, todo o hype
Responder a uma pergunta de forma mais rápida ou barata que um supercomputador já seria grande alegria para equipe da Rigetti
Mariana Fonseca
Publicado em 7 de agosto de 2018 às 15h00.
Última atualização em 7 de agosto de 2018 às 15h00.
Poucos campos do setor de tecnologia são tão atraentes ou complexos quanto a computação quântica. Há anos seus defensores prometem máquinas capazes de decifrar as mensagens codificadas mais impenetráveis, desvendar as propriedades secretas do mundo físico e humilhar os supercomputadores.
Mas a Rigetti Computing, uma das startups mais proeminentes e mais bem financiadas do campo, gostaria simplesmente de reduzir as expectativas gerais.
No momento, o desafio da Rigetti é o seguinte: conseguir resolver com um computador quântico pelo menos um problema que uma máquina convencional não consegue resolver. Até mesmo responder a uma pergunta de forma mais rápida ou barata que um supercomputador já seria uma grande alegria para a equipe de físicos e matemáticos no escritório da startup em Berkeley, Califórnia.
Até agora, isso não aconteceu. Hoje, seu laptop consegue resolver praticamente tudo o que um computador quântico pode fazer, e com a mesma rapidez.
A Rigetti não é a única a se debruçar sobre esse enigma. Nem a International Business Machines e nem o Google, que têm computadores quânticos mais poderosos, afirmaram ter conseguido uma “vantagem quântica”.
Esse termo, que parece ameaçador, se refere ao momento teórico em que um computador quântico conseguirá fazer algo com mais eficiência do que um computador tradicional. É o equivalente do setor a um momento de avanço muito singular, só que mais nerd e obscuro ainda.
“Hoje, estamos concentrados na busca da vantagem quântica”, disse Chad Rigetti, fundador da empresa. “A computação quântica não tem uma evidência incontestável capaz de mudar uma empresa”, disse ele. Se conseguir, “o efeito não será sutil”, disse Rigetti.
A Rigetti já avançou bastante para ser uma startup. Ela emprega ex-pesquisadores de primeira linha da Nasa, da Raytheon e das universidades de Berkeley, Stanford e Yale.
A companhia fabricou seu próprio computador quântico sem ter acesso aos orçamentos bilionários de pesquisa e desenvolvimento das outras companhias que investem nisso. Mas ela tem US$ 119 milhões, dos quais mais de metade veio de uma transação não informada de capital de risco no fim do ano passado. Rigetti optou por não divulgar o investimento para evitar aumentar ainda mais as expectativas.
Agora, tanto Rigetti quanto sua empresa acreditam que têm algo de que se gabar – apesar das diversas questões que, como ele rapidamente adverte, ainda poderiam dar errado. A startup criou um microchip para computadores quânticos que teria mais do sêxtuplo de qubits – a unidade de medida básica da potência de um computador quântico – que as máquinas atuais da Rigetti.
O processador seria mais potente que o computador de 50 qubits da IBM e que a máquina de 72 qubits do Google. Rigetti espera construir um computador que funcione com 128 qubits nos próximos 12 meses. Se tiver sucesso, esse poderia ser o computador quântico mais potente do mundo e talvez consiga superar os supercomputadores tradicionais.
“Estamos progredindo muito rapidamente, de modo exponencial, em todas essas frentes”, disse Rigetti. “Tudo avança para um momento de grande progresso, e essa é a vantagem quântica.”
Mesmo se a Rigetti tiver sucesso e superar o Google e a IBM – e nada garante isso –, a empresa ainda não sabe para que a máquina serviria. Os pesquisadores têm suas teorias preferidas: análise mais efetiva de enormes bancos de dados, modelos precisos de átomos de hidrogênio ou inteligência artificial avançada. Nada isso foi comprovado.
“Acho que a primeira demonstração da vantagem quântica virá na aprendizagem de máquinas”, disse Rigetti. Mas alguns de seus funcionários acham que a modelagem de químicos ou moléculas orgânicas são opções igualmente prováveis como primeiras aplicações.