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Startup Gupy recebe investimento de R$ 40 milhões durante a pandemia

Empresa de recrutamento e seleção planeja usar o capital para aperfeiçoar sua tecnologia para processos seletivos totalmente digitais

Mariana Dias, presidente da Gupy: aporte foi feito pelo fundo de investimento brasileiro Oria Capital (Germano Lüders/Exame)

Mariana Dias, presidente da Gupy: aporte foi feito pelo fundo de investimento brasileiro Oria Capital (Germano Lüders/Exame)

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Carolina Ingizza

Publicado em 14 de maio de 2020 às 08h30.

Em um momento que empresas congelam contratações e buscam alternativas para sobreviver, a startup de recrutamento e seleção Gupy conseguiu nadar contra a maré. Com uma estratégia focada na adaptação de produtos e no oferecimento de novos serviços para o departamento de recursos humanos, a empresa cresceu 25% no primeiro trimestre. Os resultados são tão positivos que, em meio à crise causada pelo novo coronavírus, a startup recebeu um investimento de 40 milhões de reais da gestora de fundos Oria Capital.

Segundo a fundadora e presidente da Gupy, Mariana Dias, a empresa estava de olho em uma nova rodada de investimentos desde 2019. As primeiras conversas com a Oria sobre um aporte aconteceram antes da pandemia, mas mesmo com a covid-19, a gestora manteve sua palavra e não alterou o valor de mercado da startup. “É um fundo de muita robustez, com experiência no mercado de tecnologia, pode nos ajudar neste momento”, afirma a presidente.

Segundo Paulo Caputo, sócio da Oria, apesar da crise, o mercado está ativo e com capital disponível para investimentos em bons negócios. “Temos uma gama enorme de oportunidades de mercado e de excepcionais empresas para investir, como a Gupy”, diz.

Com o capital, a startup planeja acelerar o crescimento da operação — que triplicou em 2019. Aproveitando que cada vez mais empresas investem em processos digitais na área de RH, a Gupy quer se expandir pelo Brasil, melhorar sua plataforma atual de recrutamento e lançar novas frentes de serviços, permitindo um processo seletivo totalmente online. “Queremos tornar a plataforma mais robusta para o RH, o gestor e os candidatos”, diz Dias.

A empresa planeja inserir funcionalidades para facilitar o uso do software pelo celular e permitir integrações com os sistemas de folha de pagamento, por exemplo. Parte do dinheiro também será investido na inteligência artificial da empresa, chamada Gaia, que foi alimentada até então com os dados de mais de 10 milhões de candidatos que chegaram até a Gupy ao longo dos anos. 

Os novos desafios exigem mais pessoas. De maio a julho deste ano, a empresa vai contratar mais 30 empregados para o seu time, composto hoje por 150 funcionários. Boa parte das novas vagas são para as equipes de tecnologia e produto. “Acreditamos que o bom produto se vende mais fácil e exige menos esforços para reter clientes. Nossa área de produto já tem mais de 50% do time da Gupy. Com o investimento, vamos reforçar isso”, afirma a fundadora.

Trajetória da empresa

A Gupy foi criada em 2015 pelos empreendedores Bruna Guimarães, Guilherme Dias, Mariana Dias e Robson Ventura. A ideia para um negócio voltado para RH surgiu da experiência de Mariana como funcionária da gigante de bebidas Ambev. Como trainee da turma de 2011, ela percebeu que embora houvesse um grande volume de candidatos para as vagas anunciadas, a saída de funcionários também era grande. Por isso, ela e seus colegas começaram a pensar que talvez não estivessem recrutando as pessoas certas.

Dias acabou tendo uma ideia de negócio: um algoritmo preditivo que indica qual candidato tem potencial de crescer dentro da empresa, com base nas características dos funcionários atuais com desempenho acima da média. Para começar o empreendimento, ela chamou a colega de Ambev Bruna Guimarães e o irmão Guilherme Dias. Em busca de alguém para desenvolver a tecnologia, encontrou Robson Ventura, que se uniu ao time de sócios. 

Ao todo, 40 mil reais foram investidos para criar a Gupy. No ano seguinte, a startup foi acelerada pela Wayra, programa de inovação aberta e empreendedorismo da Telefônica/Vivo. Em 2017, a empresa recebeu um investimento de 1,5 milhão de reais dos fundos de investimento Canary (Loft, Volanty) e Yellow Ventures (Neon, Buser). Dois anos depois, em janeiro de 2019, o negócio recebeu um aporte de 11,5 milhões de reais dos fundos Valor Capital (Pipefy, Cargo X) e Maya Capital (Kovi, NotCo). 

Covid-19: uma nova rota

Mariana Dias estava segura de que em 2020 a empresa iria repetir a alta performance registrada no ano anterior. Os dois primeiros meses do ano foram de crescimento sólido, com fevereiro tendo o melhor resultado mensal dos cinco anos de história da empresa. Em março, os primeiros sinais da crise causada pela pandemia do novo coronavírus apareceram, com os clientes congelando temporariamente a abertura de vagas. 

Como o software da empresa exige um pagamento de mensalidade fixa, independentemente do número de contratações, a Gupy precisou mostrar que conseguiria trazer valor para o departamento de recursos humanos mesmo durante a crise. “Paramos para ouvir. A gestão de pessoas nesse momento é complexa, há muitas dores e dúvidas”, diz Dias. 

Depois de um mapeamento dos principais problemas do RH na pandemia, a startup colocou no ar o portal “Juntos a distância é possível” para  as empresas clientes. Por lá, além de informações sobre como conduzir um recrutamento online e cursos gratuitos sobre temas de interesse do RH, a Gupy oferece acesso a outros serviços complementares para o processo seletivo, como o da startup Jobecam, que permite a realização múltiplas entrevistas por vídeo.

No ar há cerca de um mês, a nova plataforma já deu bons resultados com as empresas clientes, como Via Varejo, Renner, Ambev e Grupo Pão de Açúcar (GPA). Muitas companhias estão aproveitando o momento de baixa contratação para trabalhar em outras áreas, como marca empregadora e comunicação com candidatos, o que aumentou o volume de acessos no software da Gupy. Os processos seletivos também não estão totalmente paralisados. Em abril, a startup ajudou um único cliente a contratar cerca de 6.000 pessoas. 

Durante a pandemia, o foco da startup é em serviço. A equipe de sucesso do cliente está trabalhando ativamente para pensar em mais formas de ajudar o profissional de RH na sua nova rotina. O churn (que mede o quanto uma companhia perde clientes) da Gupy é de menos de 1%. Para a presidente, o sucesso na retenção é resultado dessa estratégia. “Temos um time de atendimento que é próximo das empresas e oferece um suporte rápido”, afirma.

Satisfeitos, os clientes antigos estão indicando os serviços da startup para outras companhias na crise. Assim, o crescimento da empresa se mantém e os planos de duplicar o tamanho da operação em 2020 seguem viáveis, especialmente depois do aporte.

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