Startup de realidade aumentada é nova vítima de guerra comercial
Agora, as startups do Vale do Silício que pretendem captar recursos na China estão sentindo efeitos
Mariana Fonseca
Publicado em 10 de setembro de 2018 às 14h16.
A startup de realidade aumentada Meta estava prestes a captar recursos de financiadores chineses quando o principal investidor congelou o acordo a pedido de uma autoridade chinesa que citou a guerra comercial .
Este é o mais recente sinal de que as tarifas impostas pelos EUA aos produtos chineses e a repressão ao investimento estrangeiro em empresas de tecnologia dos EUA estão causando calafrios no Vale do Silício. Pequenos fabricantes de hardware já estão sofrendo com o aumento das tarifas, e agora as startups que pretendem captar recursos na China estão sentindo os efeitos.
O CEO da Meta, Meron Gribetz, disse que havia garantido um investimento de US$ 20 milhões com uma empresa chinesa de private equity e uma entidade imobiliária. Outros financiadores também concordaram em se comprometer, mas poderiam recuar agora que o principal investidor está relutando. A reversão levou Gribetz a dar uma licença de 30 dias a quase dois terços de seus cerca de 100 funcionários.
"O governo chinês enviou um pedido oficial para que nosso principal investidor reavalie o acordo com base nas medidas recentes do governo Trump", disse Gribetz, em entrevista por telefone. "Foi um grande choque para nós."
Fundada em 2012 e com sede em San Mateo, na Califórnia, a Meta é uma das muitas empresas de grande e pequeno porte que trabalham com realidade aumentada, a tecnologia que sobrepõe imagens digitais ao mundo real.
A Meta produz um headset que permite que arquitetos, fabricantes de automóveis e outros clientes controlem hologramas 3D com as mãos e visualizem informações e projetos. Os investidores chineses estão injetando dinheiro em realidade aumentada e realidade virtual, e a Meta já conta com a Tencent Holdings e a Lenovo Group como financiadores.
Tensões
As tensões entre as duas maiores economias do mundo vêm aumentando, e o presidente dos EUA, Donald Trump, deve impor tarifas a mais US$ 200 bilhões em importações chinesas (e ameaça adicionar outros US$ 267 bilhões).
Além disso, as aquisições e os investimentos chineses nos EUA caíram para o nível mais baixo em sete anos, de acordo com a Rhodium Group. Para piorar a situação, uma lei atualizada dá ao Comitê de Investimento Estrangeiro nos EUA (CFIUS, na sigla em inglês) uma autoridade mais ampla para examinar e potencialmente barrar acordos estrangeiros por razões de segurança nacional.
"Minha sensação é que Pequim quer que os investidores chineses desacelerem os investimentos nos EUA e esperem", disse Steve Klemencic, diretor administrativo da Ankura Consulting Group, que assessora clientes sobre questões relacionadas ao CFIUS.
A piora da situação poderia afetar especialmente as empresas de realidade aumentada e de realidade virtual. Muitas startups dos EUA estão buscando financiamento na China, onde os acordos dessas tecnologias com participação chinesa aumentaram 23 vezes desde 2014, para quase US$ 1 bilhão no ano passado, segundo a CB Insights.
"O governo chinês entende que a realidade aumentada e a realidade virtual são o futuro da computação", disse Gribetz. "Qualquer empresa que precise levantar quantidades significativas de capital, fabricar bens de maneira econômica e conquistar mercados ávidos pela adoção antecipada precisa ter uma presença na China."