PME

Site conecta sua empresa a empréstimos com taxas menores

A Nexoos é um marketplace de “peer to peer lending” para PMEs, com a promessa de taxas até 70% menores do que as vistas nos bancos

Nicolas Arrellaga, Murilo Bassora e Daniel Gomes: sócios fundaram a Nexoos após uma inspiração no mercado britânico de empréstimos coletivos (Nexoos/Divulgação)

Nicolas Arrellaga, Murilo Bassora e Daniel Gomes: sócios fundaram a Nexoos após uma inspiração no mercado britânico de empréstimos coletivos (Nexoos/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2018 às 18h45.

São Paulo – Conseguir crédito para financiar um negócio nascente não é uma tarefa fácil. As instituições financeiras ficaram mais receosas quanto à inadimplência durante a crise econômica e isso se refletiu em um crédito menor (e mais caro).

Diante desse quadro, empreendedores buscam novas maneiras de viabilizarem seus negócios. Várias startups já aproveitaram a oportunidade e lançaram modelos de negócio focados na obtenção de recursos para pequenas e médias empresas.

É o caso do Nexoos. O negócio se inspirou em empreendimentos britânicos e no modelo de peer to peer lending, ou P2P. Nesse tipo de empréstimo, pessoas emprestam para pessoas sem a intermediação de instituições financeiras na hora de aplicar o dinheiro. Para suavizar os riscos dessa operação, cada investidor coloca apenas uma parte dos recursos pedidos, em um modelo de “empréstimo coletivo.”

“Nossa grande missão é fomentar o crescimento de pequena e média empresa por meio de financiamentos, conectando-as com pessoas que queiram investir”, resume o cofundador Daniel Gomes.

A ideia de negócio atraiu o interesse dos empreendimentos e dos investidores. Ao todo, o Nexoos já concedeu mais de 36 milhões de reais em empréstimos para mais de 280 empresas.

Ideia de negócio

Daniel Gomes fez carreira no mercado financeiro, trabalhando em empresas como Itaú Unibanco e Rio Bravo Investimentos. O desejo de abrir seu próprio negócio, porém, levou-o a um curso de Empreendedorismo e Tecnologia em Londres (Inglaterra) no ano de 2014.

“Fiz uma imersão nas fintechs e conversei com fundadores. Vi lá um movimento de plataformas que faziam empréstimos coletivos, oferecendo taxas melhores para as empresas. Não havia nada parecido no Brasil”, afirma.

Em um setor financeiro muito concentrado, com poucos bancos fornecendo créditos a juros altos para pequenas e médias empresas, Gomes enxergou uma oportunidade de negócio. Ele se juntou a outros dois sócios, Nicolas Arrellaga e Murilo Bassora, para tirar a ideia do papel em terras brasileiras.

Os empreendedores passaram todo o ano de 2015 pesquisando as regulamentações para negócios de peer to peer lending e afinando a tecnologia da plataforma. Uma aceleração pela Oxigênio, da empresa Porto Seguro, ajudou a formatar a empresa.

“Um grande desafio que tivemos é a parte regulatória. Empréstimo por aqui é sinônimo de banco”, conta Gomes. “Por isso, atuamos como correspondente de uma instituição financeira. Cuidamos de toda parte de atendimento, mas os contratos de empréstimos são feitos com base na Socinal [ instituição financeira do Rio de Janeiro focada no mercado PME].”

Cerca de um ano e meio depois da ideação, em setembro de 2016, a Nexoos fez sua primeira operação de empréstimo. Contando o recurso dos sócios e um investimento-anjo conquistado na mesma época, o investimento inicial no negócio foi de um milhão de reais.

Equipe da Nexoos

Equipe da Nexoos em escritório (Nexoos/Divulgação)

Como funciona para as pequenas ou médias empresas

A pequena ou média empresa que quer obter um empréstimo pelo Nexoos deve entrar no site, clicar em “quero um empréstimo” e começar seu cadastro. Nele, responde perguntas sobre o motivo do empréstimo e valor desejado.

Caso o negócio seja elegível, a startup pede documentos e extratos que comprovem as receitas. Para participar do Nexoos, a PME deve faturar pelo menos 200 mil por ano, ter um CNPJ ativo e não possuir protestos trabalhistas ou negativações financeiras relevantes. Não há restrição por setor do negócio.

Em dois dias, a startup responde se a pequena ou média empresa foi aprovada ou não para o empréstimo. Se for, a oferta é publicada no site e fica disponível para investidores. Os pedidos podem variar de 25 mil reais a 500 mil reais, com média de 120 mil reais.

Cada proposta tem o prazo de sete dias, mas Gomes afirma que as empresas costumam ser financiadas bem antes de o tempo terminar. Entre 3 a 5 dias após a finalização do acordo de empréstimo, a empresa já recebe os recursos pedidos. Todo o processo ocorre de forma online.

De acordo com o sócio, a taxa de juros praticada pela Nexoos pode ser até 70% menor do que a vista em bancos tradicionais para esse tipo de empréstimo. As taxas praticadas pela startup variam de 1,4% a 2,6%. Contando impostos, remuneração da Nexoos e remuneração da instituição financeira, o custo efetivo total para a pequena ou média empresa vai de 2,0% a 3,6% ao mês.

O grande diferencial da Nexoos para conseguir reduzir tais taxas de juros é uma análise de crédito automatizada, com o uso da Inteligência Artificial.

“Esse é o grande valor que a gente traz ao mercado, em termos de inovação e solução. A gente faz uma análise baseada em tecnologia, acessando informações que o mercado tradicional não acessa.”

Um restaurante, por exemplo, pode ser avaliada também pela avaliação que os consumidores deixam na internet e pela presença em marketplaces de entrega, como o aplicativo iFood. “Por mais que o negócio não possua tanto tempo de vida - e seja por isso recusado nos grandes brancos -, o machine learning pode nos ajudar a dizer quais dessas variáveis se correlacionam com empresas boas pagadoras.”

Como funciona para os investidores

Quem quiser investir nas pequenas e médias empresas deve se cadastrar no Nexoos e aportar um valor mínimo de 6 mil reais em sua primeira aplicação. Depois, o investidor possui a liberdade de definir quanto quer emprestar, com um mínimo de 2 mil reais e um máximo de 5% do valor total solicitado pela PME.

O mínimo de 6 mil reais foi criado para estimular a diversificação da carteira. Isso impede que os investidores emprestem para apenas um negócio e corram uma chance grande de inadimplência e perda dos valores aportados.

“Nossa operação envolve risco, então quem empresta precisa já ter outras aplicações. Os investidores na nossa plataforma geralmente já possuem contato com investimentos sofisticados e buscam maior rentabilidade”, afirma Gomes. Hoje, o Nexoos possui 10 mil investidores cadastrados, com mil deles com aportes ativos.

“Nosso investidor possui um retorno médio de 23% ao ano, descontando já as possíveis perdas ao longo do processo”. A cada parcela (e juros) paga pela empresa, o credor recebe sua parte da rentabilidade. A carteira indicada de investimentos ronda empréstimos para entre 30 e 40 empresas.

Planos para 2018

O Nexoos já atingiu seu ponto de equilíbrio, com todo o lucro sendo reinvestido no crescimento da startup. O negócio não abre faturamento por estar fechando uma rodada de investimento Série A no momento, com detalhes ainda não divulgados.

Para 2018, a meta é chegar a 200 milhões de reais em empréstimos financiados, com mais 1.500 empresas adicionadas à plataforma. “Antes, estávamos consolidando nosso modelo de negócio. Agora é nosso momento de crescimento”, defende Gomes.

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