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Fintech de sucesso está onde você menos espera: no frapuccino do Starbucks

José Renato Hopf, que mudou o varejo no Brasil, dá sua análise sobre como empresas de consumo estão adotando serviços financeiros próprios

Produtos do Starbucks: rede de cafeterias vê ótimos resultados com seu próprio aplicativo de pagamentos móveis (Starbucks/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 7 de junho de 2018 às 11h51.

Última atualização em 7 de junho de 2018 às 11h57.

São Paulo - A concorrência não está mais apenas naquelas empresas que atuam no mesmo setor que o seu - o próximo competidor pode chegar de qualquer canto do mercado. As fintechs que o digam: a empresa com o sistema de pagamentos móveis mais popular dos Estados Unidos (e do Ocidente) é ninguém menos que o Starbucks , de acordo com uma pesquisa eMarketer.

Pode parecer estranho, mas a rede dos cafés e frapuccinos processa mais pagamentos do que serviços como Apple Pay e Google Pay. São mais de 23,4 milhões de usuários previstos para 2018, ou 40% dos 55 milhões de americanos que fazem pagamentos móveis dentro de estabelecimentos comerciais.

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Mas, por que varejistas como o Starbucks poderiam fazer soluções de pagamento mais aceitas pelos consumidores do que as feitas pelas próprias fintechs? A resposta fala muito sobre o mundo em que vivemos hoje: dados. Quem tem esse poder pode oferecer soluções melhores do que instituições financeiras estabelecidas ou nascentes.

Quem faz a análise é José Renato Hopf, fundador da Getnet e hoje CEO da 4all, empresa que ajuda negócios no processo de transformação digital. O empreendedor é considerado um dos homens que revolucionou o varejo no Brasil e palestrou no Fintech Conference, evento realizado pela StartSe.

“O acesso à tecnologia pelo smartphone permitiu que muitas coisas mudassem rápido. Mas o que mais mudou foi o poder ter passado para as pessoas. O novo ponto de venda, no varejo, é o consumidor.”

De Starbucks a 99

Para Hopf, um ponto curioso de empresas com grande valuation do Vale do Silício é ter uma plataforma que concentra diversos serviços, inclusive os feitos pelas fintechs. Basta olhar para a forma como o Airbnb processa os pagamentos dentro do seu próprio site, por exemplo.

A grande mudança que a transformação digital provoca é na concepção do próprio consumidor, que está cada vez mais exigente. Quem possui as melhores informações sobre os clientes pode sair na frente e aproveitar o polpudo mercado das fintechs. Apenas no Brasil, o Goldman Sachs estima que as mais de 300 fintechs brasileiras possam gerar 24 bilhões de dólares nos próximos dez anos.

Foi o que aconteceu com o Starbucks e seu aplicativo. Uma boa experiência do usuário e a construção de uma base fiel de clientes ao longo de anos faz a ferramenta ser responsável por 12% de todas as transações da rede nos Estados Unidos, segundo dados do último quadrimestre da empresa.

Pela ferramenta, os usuários pagam seus comes e bebes por meio do smartphone - e, com isso, ganham créditos para compras futuras. Já o Starbucks consegue usar o app para colher ainda mais informações de seus clientes e aprofundar relacionamentos, encontrando novas formas de monetização.

Segundo Hopf, a estratégia do aplicativo já rendeu um aumento de 300 milhões de dólares (na cotação atual, cerca de 1,2 bilhão de reais) no resultado do Starbucks. “O novo marketing é a capacidade de usar uma plataforma de dados do consumidor. Todas as maiores empresas de hoje fazem isso e é uma estratégia decisiva para o mundo digital”.

Também há exemplos na América Latina de empresas que incorporaram serviços do ramo das fintechs aos seus negócios. No Brasil, é o caso da associação entre o portal de mídia UOL e a empresa de futuro incerto PagSeguro. Da Argentina, vemos o marketplace Mercado Livre com os diversos serviços relativos ao Mercado Pago. Na China, o aplicativo WeChat já faz pagamentos por meio de conversas na ferramenta de mensagens.

Mesmo com a tendência, não é nada fácil criar uma solução própria de pagamentos. Às vezes, a melhor alternativa é colaborar com quem possui conhecimento no assunto e criar uma solução integrada, unindo dados da empresa-mãe com as funcionalidades das fintechs.

Um notável caso brasileiro é o aplicativo de mobilidade urbana 99, que criou um cartão de crédito próprio para seus taxistas por meio de parceria com a startup Hub Fintech. Cerca de 150 mil taxistas podem receber pelas corridas em tempo real e fazer compras com o cartão, enquanto a 99 possui menor custos operacionais no repasse de transações e garante uma solução para motoristas desbancarizados.

Segundo um dos homens que revolucionou o varejo no Brasil, sua empresa terá apenas duas opções de hoje em diante: ser uma fintech ou se associar a uma. Vai aí um frapuccino?

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