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Cristina Boner chamou a atenção de Bill Gates

Nos anos 90, a paulista Cristina Boner instalava cópias do Windows em empresas de Brasília. Após conseguir uma reunião com o dono da Microsoft, ela decidiu diversificar os negócios. Atualmente suas empresas faturam mais de 450 milhões de reais

Cristina Boner, do Grupo Globalweb: "Fundei pequenas empresas para atender necessidades diversas dos clientes" (Daniela Toviansky / EXAME PME)

Cristina Boner, do Grupo Globalweb: "Fundei pequenas empresas para atender necessidades diversas dos clientes" (Daniela Toviansky / EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2014 às 14h17.

São Paulo - Trocar experiências com clientes e fornecedores é um dos acontecimentos mais importantes no dia a dia da paulista Cristina Boner, de 53 anos.

"É nesses momentos que costumo ter ideias de novas oportunidades de negócios", diz ela. Cristina é fundadora do Grupo Globalweb, holding de empresas que prestam serviços em tecnologia da informação para mais de 4.000 clientes, entre eles empresas como Bradesco, Itaú e Gol.

Em 2013, a Globalweb faturou 465 milhões de reais. Nos anos 90, Cristina tinha uma pequena revendedora de softwares da Microsoft em Brasília. Neste depoimento, ela conta como conseguiu encontrar seu maior fornecedor na época — o americano Bill Gates — quando ele visitou a cidade, em 1996.

Nasci em Ribeirão Preto, em 1961. Fui morar em Brasília aos 15 anos. Meus pais tinham uma padaria. Quando estava de folga, eu ficava no caixa. Eles se esforçavam para dar uma boa educação para mim e meus dois irmãos. Ajudá-los no negócio era uma forma de retribuição.

Aos 18 anos, passei no vestibular para arquitetura. Queria projetar construções tão imponentes como as de Brasília. Mas eu já trabalhava, e foi difícil conciliar os horários da faculdade. Tive de largar os estudos. Foi um baque. Na época muita gente falava que informática era uma carreira promissora.

Grandes empresas tinham computadores que ocupavam salas inteiras e tinham técnicos para operá-los. Esse pessoal ganhava muito bem. Descobri que a PUC de Brasília tinha um curso de processamento de dados à noite. Passei no vestibular sem nunca ter visto um computador.

A maioria dos meus colegas de faculdade eram nerds que passavam horas mexendo naquelas máquinas enormes. Eu não podia me dar a esse luxo. Minha ideia era aprender informática para abrir um negócio no setor. Estagiei bastante para entender as necessidades do mercado em computação.


Na faculdade, casei e tive duas das minhas três filhas. Morávamos num apartamento pequeno e, para complementar a renda, dei aulas particulares de português e matemática a pré-vestibulandos.

Logo após minha formatura, em 1984, meus professores me convidaram a dar aulas de informática na faculdade. Nessa época, os computadores pessoais e os softwares feitos pela companhia americana Microsoft estavam se popularizando. Como professora, tive acesso às primeiras versões do Windows.

Fiquei maravilhada com as inúmeras possibilidades do sistema operacional. Dava para escrever textos, fazer contas de matemática, montar planilhas. Qualquer pessoa podia mexer num computador. Isso permitiria ganhos enormes em produtividade nas empresas. Percebi que a demanda por softwares iria aumentar muito nos próximos anos. E que revendê-los seria uma oportunidade de negócios enorme.

Em 1992 abri minha primeira empresa, a TBA, para revender softwares da Microsoft. Meus primeiros clientes foram órgãos públicos, como Correios, Infraero e Banco Central, que estavam espalhando computadores nas repartições.

Vendi meu carro, um Gol usado, para alugar uma sala de 44 metros quadrados no subsolo de um prédio comercial e comprar um pequeno estoque de softwares.

Eu mesma ia vender os produtos. Contratei dois ex-alunos para fazer as instalações. Como eram produtos muitos recentes, poucos clientes sabiam usá-los. Vi nisso um diferencial para a TBA.

Após a instalação, meus funcionários costumavam dar treinamentos sobre como explorar o Word, o Excel e outros recursos do sistema operacional. Quase nenhuma fornecedora de TI fazia isso. Com dois anos de vida, a TBA ganhou um prêmio de melhor prestadora de serviços da Microsoft na América Latina.

Em 1996, soube que Bill Gates iria a Brasília para encontrar a primeira-dama na época, Ruth Cardoso. Os negócios da TBA estavam crescendo muito por causa dos produtos da Microsoft. Era um privilégio tê-los como fornecedores. Mas a agenda de Gates no Brasil estava complicadíssima. Não havia chance alguma de falar com ele.

Mesmo assim o obstáculo não me desanimou. Lembrei que um amigo tinha um avião com que sobrevoava praias carregando anúncios de empresas. Pedi a ele que pintasse a maior faixa disponível, de 150 metros de comprimento, com a mensagem “Welcome Bill Gates. TBA”. No dia da visita, ordenei que ele sobrevoasse os céus de Brasília até a mensagem ser vista pelo fundador da Microsoft.


Fiquei o dia no aeroporto, tentando saber o paradeiro de Gates. Mas não consegui nada. Por sorte, ele foi a uma reunião no 20o andar na sede do Banco do Brasil, na capital federal. É um prédio alto e com paredes de vidro.

Logo no início da reunião, meu amigo passou com o aviãozinho bem perto do prédio e Gates viu a homenagem. Minutos depois recebi um telefonema da assessoria dele me convidando para encontrá-lo no dia seguinte em São Paulo.

Nunca vou me esquecer dessa conversa. O fundador da Microsoft estava preocupado porque as vendas de seus produtos iam bem, mas faltava gente qualificada para instalá-los. Expliquei que dar consultoria sobre o uso dos softwares era parte do modelo de negócios da TBA.

Na época estávamos formando 1 000 técnicos para acompanhar o uso dos programas nos clientes. Minha ousadia deu resultados duradouros. Tive quatro encontros com Gates, e vendo os produtos da Microsoft até hoje. O dilema dele me fez perceber que a prestação de serviços em informática abriria muitas oportunidades de negócios.

Ser ousada também me levou a tomar decisões das quais hoje me arrependo. No final dos anos 90 abri um provedor de internet para residências. Queria competir com grandes empresas de comunicação que estavam investindo nesse setor. Mas eu era pequeninha diante dos concorrentes. E quem se dedicava mais ao negócio era meu sócio. Ele que comprava cabos, redes de fibra óptica e modems.

O negócio crescia rapidamente, mas não dava lucro. Era muito caro investir em infraestrutura. Nessa época começaram a surgir notícias sobre provedores gratuitos à internet ao redor do mundo. Previ que logo a tendência chegaria ao Brasil.

E que aquele negócio dificilmente teria futuro. Mas o sócio queria seguir em frente. Cheguei a um acordo para comprar a parte dele. Em seguida vendi a empresa inteira, sem ter retorno do investimento. Meses depois, em 2000, foram abertos os primeiros provedores gratuitos no país. Saí na hora certa.

O percalço me tornou mais atenta ao dia a dia dos negócios. Mas não tirou minha vontade de estar o tempo inteiro buscando oportunidades de negócio. Em 2002 a TBA fechou uma parceria com o grupo indiano Tata para criar softwares de gestão customizados.

Os indianos criavam os programas com base no que nossos clientes precisavam. A parceria durou cinco anos e ajudou a TBA a conquistar contratos no setor privado, em que as demandas mudam mais rápido do que nas empresas públicas e as oportunidades são maiores.

Em 2009 criei o Grupo Globalweb com outros sócios. Dentro da holding montei pequenas empresas que atendem a necessidades diferentes dos clientes. Atualmente são seis negócios, que prestam serviços como construção de redes corporativas, armazenamento de dados na nuvem, terceirização de serviços em TI.

Um de nossos projetos foi o sistema de envio dos dados de passageiros da companhia aérea Gol que fazem o check-in pela internet. Outro foi um portal para que 150 000 clientes do Bradesco paguem suas contas pela internet. Ainda sou sócia da TBA, que está focada em contratos com empresas públicas. Mas me dedico mais à Globalweb, que deve faturar 500 milhões de reais neste ano.

Minha rotina é intensa. Quando estou livre, gosto de atividades ao ar livre, como andar de barco e fazer trilha. Mas nunca me desligo completamente. Mesmo nas férias, tiro 3 horas por dia para pesquisar novas oportunidades de negócios.

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