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Volta às origens

Um Mahle participou da criação da Metal Leve

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Das histórias que cercam o empresário alemão Ernst Mahle, fundador da Mahle, uma ficou famosa: ele teria se disfarçado de copeiro para entrar no quarto do hotel em Stuttgart onde Henry Ford se hospedava. Foi assim que apresentou ao pioneiro da indústria automobilística americana a novidade do pistão de alumínio. Corria o ano de 1930. Dois anos depois, um modelo semelhante começou a ser feito nos Estados Unidos.

A história da Mahle começa dez anos antes, quando os irmãos Mahle, o engenheiro Ernst e o contador Hermann, empregaram-se numa oficina do aviador Hellmuth Hirth, que desenvolvia o pistão de alumínio. Hirth vinha experimentando desde 1917 a confecção de peças para aviões com esse novo material. Mas o alumínio ainda precisava ganhar mais resistência para se tornar industrialmente viável. Ernst acabou por aperfeiçoá-lo. Patenteou em 1931 um pistão dotado de um sistema inédito de controle de calor, que impedia a queda de desempenho. No ano seguinte, ele e o irmão assumiram a empresa.

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Com a ascensão do nazismo, a Mahle fora envolvida num incidente. Um de seus operários cortara o fio de um cabo, prejudicando a transmissão por rádio do primeiro discurso feito por Adolf Hitler em Stuttgart. A Gestapo pressionou os Mahle a identificar e demitir os funcionários suspeitos de pertencer ao Partido Comunista. Em seguida, os empresários foram compelidos a se filiar ao partido nacional-socialista, caso quisessem manter a fábrica, que abastecia com seus pistões motores de aviões da Luftwaffe e até de submarinos.

Com o fim da Segunda Guerra, Hermann foi preso e teve de se submeter ao programa de desnazificação da Alemanha, implementado pelos aliados. Ernst, que morava na Áustria, chegou a ser detido, mas foi logo liberado. Com a produção de pistões semiparalisada devido às restrições à produção de aviões e automóveis (a Mahle passou a fazer carrinhos para transportar material de construção), Ernst buscou novos mercados no exterior. Foi quando recebeu uma carta do engenheiro vienense Ludwig Gleich, que conhecera como cliente quando este trabalhava numa retífica em Berlim. A exemplo de um amigo também de origem judaica, Adolf Buck, com quem trabalhara na retífica, Gleich, fugindo do nazismo, emigrou para o Brasil em meados dos anos 30.

Em sociedade com o empresário Samuel Klabin, Gleich fundou a retífica Motorit, em São Paulo. Como planejavam transformá-la numa fábrica de pistões, convidou Mahle a visitar o país para submeter-lhe suas idéias. Mahle gostou dos planos e do país. Com outros sócios na parada -- José Mindlin, então advogado da Motorit, Luiz Camilo de Oliveira Neto e Buck --, nascia a Metal Leve, no bairro paulistano do Cambuci. Mahle trouxe para São Paulo uma equipe de engenheiros e a primeira linha de montagem de pistões que daria a partida à nova empresa. Mahle viveu no Brasil com a família até 1955. Naquele ano, Mahle, que morreu em 1982, foi chamado pelo irmão Hermann para retomar os negócios em Stuttgart e vendeu suas ações da Metal Leve.

Um de seus filhos, o músico Ernst, permaneceu em São Paulo, onde ganhou reputação como maestro e compositor. Juntamente com a mulher, a paulista Maria Apparecida, fundou em Piracicaba, no interior de São Paulo, uma escola de música que hoje é uma referência nacional. Mas Ernst, assim como seus três irmãos e quatro primos, tornou-se herdeiro sem-empresa. Desde os anos 70, a Mahle pertence a uma fundação que investe em projetos filantrópicos. Não há mais nenhum Mahle na direção da empresa -- nem sequer no conselho de administração.

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