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Vender é o melhor remédio

Um cliente entra no hipermercado Extra de Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo, para fazer as compras da semana. Percorre as seções e vai enchendo o carrinho com bebidas, alimentos e produtos de limpeza. Ao passar pelo setor de higiene e perfumaria, lembra-se de que precisa reforçar seu estoque de analgésicos […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Um cliente entra no hipermercado Extra de Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo, para fazer as compras da semana. Percorre as seções e vai enchendo o carrinho com bebidas, alimentos e produtos de limpeza. Ao passar pelo setor de higiene e perfumaria, lembra-se de que precisa reforçar seu estoque de analgésicos e de medicamentos para reduzir o colesterol. Deixa o carrinho na porta da farmácia, pega os remédios, paga a conta e recebe tudo num saquinho lacrado. Em seguida, apanha o carrinho de volta e continua a circular por outras seções do supermercado.

Talvez o cliente não tenha percebido, mas essa farmácia tem algo diferente das muitas outras que funcionam junto aos estabelecimentos de varejo: ela pertence ao supermercado. Em geral, os supermercados cedem uma área fora do espaço delimitado por seus caixas para uma rede de drogarias ou mesmo para uma farmácia independente explorar a venda de medicamentos no local. A drogaria em Taboão da Serra foi a primeira aberta pelo Extra, do grupo Pão de Açúcar. Começou a operar junto com o hipermercado, inaugurado em novembro de 2001. A segunda drogaria foi aberta em abril deste ano dentro do novo Extra do Plaza Shopping Mauá, também na Grande São Paulo. As duas lojas, cada uma com cerca de 80 metros quadrados e 5 000 itens de medicamentos, são pilotos de um projeto mais ambicioso: o Pão de Açúcar quer adaptar todos os seus 56 hipermercados Extra no país (35 em São Paulo) para abrigar farmácias próprias. Os novos estabelecimentos da rede já abrirão com farmácia própria -- serão quatro ainda neste ano. Algumas unidades de supermercado com a bandeira Pão de Açúcar também deverão receber a novidade. "Só estamos começando", diz Caio Mattar, diretor executivo de desenvolvimento do grupo. "A idéia é criar o hábito em nosso consumidor, e isso leva tempo." O Pão de Açúcar não revela a receita esperada nem o investimento feito nas duas primeiras farmácias. Para abrir o hipermercado de Taboão da Serra, o investimento total foi de 20 milhões de reais. O Extra de Mauá exigiu 15 milhões de reais.

A investida do Pão de Açúcar no varejo farmacêutico tem o objetivo de aumentar o mix de produtos. "Um hipermercado deve ser uma loja que supra todas as necessidades do cliente", diz Mattar. Por enquanto, a diferença mais visível entre uma farmácia de supermercado e uma comum é que a primeira reserva pouquíssimo espaço para artigos de perfumaria -- esses produtos há muito tempo estão nas gôndolas dos supermercados. Mas ser o maior grupo varejista do país, com faturamento anual de 9,8 bilhões de reais, pode fazer a diferença na negociação com fornecedores. "Uma loja isoladamente não tem poder de barganha para baratear o produto", diz Mattar. "Podemos comprar diretamente da indústria e vender a um preço mais baixo."

Reforço da marca

Pequena se comparada ao Pão de Açúcar, a rede de supermercados DAvó também enxergou oportunidades no varejo farmacêutico. "Fizemos uma pesquisa com nossos consumidores e vimos que a marca DAvó é muito forte", diz Martinho Paiva Moreira, diretor comercial da rede. "Como a compra de remédios é muito importante entre nossos clientes, decidimos investir em farmácias próprias." A primeira DAvó Farma foi montada no hipermercado de Mogi das Cruzes no fim do ano passado. A rede tem outro hipermercado em Suzano e cinco supermercados na zona leste da capital. Com faturamento de 280 milhões de reais no ano passado, é a vigésima maior rede de supermercados do país. O investimento na primeira farmácia foi de 35 000 reais, e ela já responde por 4% do faturamento da loja. A expectativa é que a participação chegue a 7% até o fim do ano, o que representaria uma receita de 500 000 reais por mês. "Em dois anos teremos farmácias próprias em nossas sete lojas", afirma Moreira. A próxima deve ser instalada no hipermercado de Suzano, onde já existe uma drogaria terceirizada. "Conseguimos vender com bons preços porque já tínhamos um bom relacionamento com laboratórios fornecedores de perfumaria", diz Moreira.

A expectativa de preços mais baixos é questionada pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Em setembro do ano passado, a entidade fez uma pesquisa envolvendo 320 produtos de perfumaria e higiene pessoal vendidos em três supermercados e quatro farmácias de rede em São Paulo. O resultado: 65% dos produtos eram mais baratos em farmácias do que em supermercados. "Se eles não vendem perfumaria a um preço mais baixo, por que venderiam medicamentos mais baratos?", questiona Sérgio Menna Barreto, presidente da Abrafarma. Já a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) cita uma pesquisa feita pelo instituto ACNielsen no período em que alguns medicamentos puderam ser vendidos nas gôndolas dos supermercados, no início do Plano Real. Segundo o levantamento, os analgésicos chegaram a ser comercializados por um preço 47% inferior ao das farmácias, enquanto os antiácidos custaram até 12% menos.

A briga entre Abrafarma e Abras é antiga. Desde meados da década de 90 as duas entidades discordam sobre a venda de medicamentos. Amparados pela Medida Provisória 1 027, que criou o Real, os supermercados passaram a vender 19 tipos de medicamento que não exigem prescrição médica, como alguns antiácidos e analgésicos. Os remédios ficavam nas gôndolas, e o consumidor pagava nos caixas juntamente com outros produtos. A venda, porém, só durou um ano: de junho de 1994 a junho de 1995. Ao votar a medida provisória do Real, o Congresso retirou a parte do artigo que autorizava os supermercados a vender medicamentos junto com outros produtos. De lá para cá, a Abras tenta conseguir o sinal verde da Justiça para voltar a comercializar os medicamentos nas gôndolas. A Abrafarma tenta barrar a permissão. O que está em jogo não é pouca coisa: o varejo farmacêutico brasileiro movimentou cerca de 14 bilhões de reais em 2000. O estado de São Paulo representa 35% desse total.

Para vender remédios sem desafiar a Justiça, o Pão de Açúcar e a DAvó tomaram alguns cuidados: vendem os remédios em lojas separadas das gôndolas e mantêm farmacêuticos de plantão durante todo o horário de funcionamento. Outras redes de varejo, porém, esperam uma definição mais clara da Justiça para só então investir no negócio. É o caso do Carrefour. Com 34 lojas em São Paulo, a rede afirma ter planos de investir no ramo, mas aguarda uma definição legal antes de tomar qualquer decisão sobre o assunto.

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