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TAM aposta em manutenção de aviões para driblar crise aérea

Queda de lucro com transporte de passageiros faz empresa apostar na prestação de serviços para terceiros

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

No gigantesco terreno ocupado pelo Centro Tecnológico da TAM em São Carlos, a 233 quilômetros da capital paulista, o logotipo em letras garrafais da empresa aparece estampado por toda parte - até nos copos plásticos onde se toma água, durante o almoço. Porém, ao entrar na área mais impressionante do terreno de 4,6 milhões de metros quadrados, os dois hangares onde aviões inteiros ficam estacionados para reparos e checagem, o visitante se depara com dezenas de funcionários da companhia lixando, pintando ou observando mecanismos internos de aeronaves decoradas com as cores e marcas das concorrentes.

A cena surpreendente reflete uma das apostas da empresa aérea líder de mercado no país para tentar driblar a crise da aviação comercial do Brasil. Em meio à suspensão das operações da BRA, que ocupava o terceiro lugar no ranking do setor, e do desempenho fraco da própria TAM, com queda de 77% no lucro líquido do terceiro trimestre deste ano, a companhia fundada pelo Comandante Rolim Amaro registra aumento na demanda por prestação de serviços técnicos em aviões de terceiros e já começa a enxergar nesse filão uma fonte de renda e prestígio capaz de colaborar para o esforço de recuperação da marca, abalada em julho deste ano pelo acidente com um Airbus da empresa que resultou na morte de 199 pessoas, em São Paulo.

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O empréstimo de equipamentos e mão-de-obra especializada, tanto para fabricantes de aeronaves quanto para operadoras de linhas aéreas, renderá à TAM mais de 10 milhões de dólares, até o fim de 2007. Apenas o Centro Tecnológico de São Carlos responderá por 4,5 milhões de dólares dessa soma. A cifra ainda é insignificante, diante da receita líquida anual de 3,4 bilhões de dólares, registrada em 2006, mas a possibilidade de explorar um setor de interesse global e menos associado às oscilações das vendas de passagens anima os executivos da empresa.

"Existe uma perspectiva clara de aumento mundial da demanda por manutenção de aviões nos próximos dois anos, uma vez que a frota vem crescendo muito. Isso tem levado a TAM a pensar maneiras de expandir os serviços para terceiros num ritmo acima do crescimento vegetativo que temos tido", conta Daniel Gonçalves, gerente de serviços técnicos da companhia.

Ele estima que o pólo da companhia em São Carlos abrirá 100 novas vagas para atender a pedidos de outras empresas até o fim de 2009 e afirma que o tema já tem feito parte das conversas do conselho administrativo e das vice-presidências, o que deve resultar em novas decisões sobre o assunto nos próximos meses.

Clientela em meio à concorrência

A execução de revisões técnicas em aeronaves de outras empresas faz sentido na estratégia da TAM por se tratar de um setor em que há pouca concorrência, aliada à necessidade constante desse tipo de serviço. Além da TAM, apenas a Varig conta com um centro tecnológico para esse fim no Brasil. A demanda, no entanto, surge com periodicidade definida e constante, uma vez que as normas internacionais de aviação exigem checagens periódicas nas aeronaves, independentemente de elas não apresentarem indícios de problemas.

Por causa dessas obrigações, a OceanAir, uma das principais concorrentes da TAM, fechou no início de 2007 um contrato para garantir a revisão de dez de suas aeronaves até o ano que vem no centro tecnológico de São Carlos. Os aviões passam por uma espécie de check-up geral, conhecido como check C, o segundo mais detalhado na hierarquia de revisões, que vai da A, a mais simples, à D, realizada mais raramente. Eventuais desgastes em peças internas ou em itens de conforto e segurança, como poltronas e cintos, são corrigidos e, então, a aeronave é liberada para voar por mais um período. No caso de um Airbus A-320 usado em rotas freqüentes, por exemplo, inspeções como essa ocorrem num intervalo de 15 a 18 meses e tiram o avião de circulação por no mínimo cinco dias.

Outro cliente habitual da TAM é a brasileira Embraer, uma das principais fabricantes mundiais de aviões e uma das primeiras a recorrer aos serviços terceirizados da companhia. Desde 2004, 15 aviões construídos pela empresa passaram por uma fase de pintura completa, antes de embarcar para clientes do exterior. Os funcionários do centro tecnológico de São Carlos também já fizeram o check C no avião oficial da Presidência da República, um Airbus A-319 ACJ, apelidado pela oposição de "Aerolula".

Além de garantir diversificação das fontes de renda a partir de uma estrutura já construída, a prestação de reparos técnicos traz ainda ganhos para a imagem da companhia, aposta o gerente Daniel Gonçalves.

"O fato de outras empresas confiarem na TAM como prestadora de serviços essenciais à segurança dos aviões aumenta a exposição positiva diante dos passageiros", ele defende.

Em três anos, o centro tecnológico receberá um terceiro hangar de redelivery, os espaços onde cabem aeronaves completas. A nova área servirá para reparos em modelos Boeing 777, que por sua dimensão não caberiam nos hangares já existentes.

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