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Petrobras abre caminho para maior concorrência, diz Sindicom

Nos contratos com as distribuidoras, a estatal tem buscado não garantir mais 100% do suprimento, ao contrário do que fazia anteriormente

Petrobras: Gadotti frisou que a iniciativa da petroleira está em linha com o seu reposicionamento, que busca dar espaço para novos atores, estimulando o livre mercado (Paulo Whitaker/Reuters)
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Reuters

Publicado em 27 de março de 2017 às 16h50.

Rio de Janeiro - A Petrobras está abrindo caminho para uma maior concorrência no setor de combustíveis, ao estimular que distribuidoras busquem uma parcela de sua demanda com outros fornecedores, afirmou à Reuters o presidente do sindicato das distribuidoras de combustíveis no Brasil (Sindicom), Leonardo Gadotti.

Para isso, nos contratos com as distribuidoras, a estatal tem buscado não garantir mais 100 por cento do suprimento, ao contrário do que fazia anteriormente, quando se comprometia com toda a demanda, mesmo que fosse necessário fornecer volumes de outras regiões ou até mesmo de fora do país.

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Com a mudança, as contratantes serão responsáveis por procurar no mercado os volumes que a Petrobras eventualmente não tenha disponível.

Em entrevista à Reuters, na sede do Sindicom, Gadotti frisou que a iniciativa da petroleira está em linha com o seu reposicionamento, que busca dar espaço para novos atores, estimulando o livre mercado.

"Acho que o momento é certo para isso, à luz da própria visão que a Petrobras colocou: 'eu não quero mais ser o grande salvador da pátria aqui, eu quero dividir com vocês essa questão do abastecimento'", afirmou o presidente do Sindicom, com associados que respondem por aproximadamente 75 por cento do mercado de distribuição de combustíveis automotivos no Brasil.

Os novos contratos, segundo o executivo, começaram a ser assinados após a nova política de preços de combustíveis da companhia, lançada em outubro, abrindo caminho para que as distribuidoras busquem compras externas.

Em sua nova política, a Petrobras promete não praticar preços abaixo dos valores pagos por ela para importar combustíveis.

"(As importações) vieram para ficar, são saudáveis, trazem opções e competição. Então, isso deve fazer parte da vida do mercado como um todo, em qualquer mercado moderno é assim", disse Gadotti, que tomou posse da presidência do Sindicom em dezembro, após deixar a presidência do conselho do sindicato.

Durante muitos anos, a Petrobras era praticamente a única empresa que importava combustíveis.

Isso porque, durante esse tempo, a petroleira vendeu gasolina e diesel no Brasil por preços abaixo dos praticados no mercado internacional, tornando impossível comercialmente para outras empresas importarem.

O presidente do Sindicom explicou, no entanto, que na prática, a Petrobras permanece em grande parte fornecendo 100 por cento da demanda das distribuidoras, uma vez que ela ainda é a grande supridora nacional.

"Não é que ela não supre os 100 por cento, ela supre, mas não necessariamente ela te dá garantia disso. Uma parte desse produto você pode eventualmente trazer de fora, comprar de um outro fornecedor local caso exista", declarou.

Gadotti explicou que a Petrobras tem dado ainda a opção de complementar a demanda das distribuidoras, quando necessário, com contratos de curto prazo.

Para Gadotti, no entanto, esse é apenas um primeiro passo para uma grande mudança que está por vir nos setores de refino, transporte e comercialização de combustíveis, liderada pelo governo federal e com amplo apoio da indústria.

Procurada, a Petrobras não se manifestou imediatamente sobre o assunto.

Retomada do setor?

O Ministério de Minas e Energia (MME) lançou, no mês passado, um programa chamado "Combustível Brasil" com o objetivo de preparar o setor de refino e distribuição de combustíveis para uma retomada da economia brasileira, com o estimulo à livre concorrência e à atração de investimentos.

A iniciativa é necessária para a criação de um ambiente mais interessante para empresas privadas, já que a Petrobras já deixou claro que não irá investir quando não houver interesse comercial para ela.

Como exemplo, a Petrobras não voltará a investir em novas refinarias sem que tenha sócios para isso. Também já apresentou planos para a venda participações em refino, na logística de distribuição e também uma parte importante da sua subsidiária de combustíveis, BR Distribuidora.

Atualmente, a produção de derivados no Brasil tem sido suficiente, uma vez que a demanda está fraca, com o baixo estímulo econômico. No entanto, o país precisa de um plano para poder atender ao mercado, assim que o consumo reagir.

O projeto, coordenado pelo ministério, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), busca a criação de novas regras para o setor, a partir de projeções de demanda e oferta interna para o futuro.

Neste mês, foi realizado um workshop com a indústria, cujo resultado será colocado em consulta pública em breve. Após consolidado, o documento deverá ser submetido à apreciação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

As vendas de combustíveis no Brasil caíram em 2016 pelo segundo ano consecutivo, como resultado de uma recessão econômica.

Gadotti ressaltou que o consumo de derivados está muito ligado ao comportamento da economia.

"O que vem pela frente vai depender das notícias da melhora da economia ou não. Pelas notícias que estão saindo, tudo indica, vamos ter uma melhora neste sentido, pelo menos segura o patamar que a gente teve em 2016, não será um ano pior que 2016", afirmou Gadotti.

O executivo evitou fazer comentários sobre o comportamento dos preços dos combustíveis em postos, depois que a Petrobras passou a fazer reajustes nos valores nas vendas às distribuidoras de forma mais frequente.

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