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Perigosa matemática da Petrobras: dívida US$24bi em 24 meses

O relógio da dívida está correndo para a atribulada gigante petrolífera


	Logo da Petrobras: trata-se de um obstáculo muito alto para uma empresa que não gerou fluxo de caixa livre em oito anos
 (REUTERS/Paulo Whitaker)

Logo da Petrobras: trata-se de um obstáculo muito alto para uma empresa que não gerou fluxo de caixa livre em oito anos (REUTERS/Paulo Whitaker)

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Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2015 às 18h40.

O relógio da dívida está correndo para a atribulada gigante petrolífera do Brasil, a Petrobras. O próximo desafio: US$ 24 bilhões em reembolsos ao longo de 24 meses.

Trata-se de um obstáculo muito alto para uma empresa que não gerou fluxo de caixa livre em oito anos e cujas taxas de empréstimos estão subindo.

Os custos anuais do serviço da dívida dobraram para R$ 20,3 bilhões (US$ 5,4 bilhões) nos últimos três anos.

A delicada tarefa de gerenciar o enorme montante de US$ 128 bilhões em dívidas acumuladas pela Petrobras -- 84 por cento delas em moedas estrangeiras -- recai sobre os dois veteranos do setor bancário que caíram de paraquedas na cúpula da empresa no início deste ano, o presidente Aldemir Bendine, 51, e o diretor financeiro Ivan Monteiro, 55.

A dupla veio do Banco do Brasil, controlado pelo Estado, para conter os danos do maior escândalo de corrupção da história do país.

Embora os procuradores federais continuem analisando anos de negócios suspeitos, o segundo ato testará ainda mais o valor dos homens do Banco do Brasil.

O desafio da dívida descontrolada da Petrobras, que se multiplicou por quatro em cinco anos, foi ampliado pelos baixos preços do petróleo, pela moeda fraca e pelas próprias penúrias fiscais do governo brasileiro.

“Se você considerasse a Petrobras totalmente independente e se não houvesse nenhuma chance de apoio do governo, o risco de calote certamente estaria muito presente”, disse Jason Trujillo, analista de renda fixa da Invesco, em Atlanta, EUA.

A Petrobras não está sem opções, mas elas tendem a ser politicamente indigestas ou pouco atraentes para o mercado.

Bendine está tentando ativamente vender participações minoritárias das unidades de dutos e distribuição, entre outras, da produtora de petróleo com sede no Rio de Janeiro, mas o plano está atrasado e enfrenta uma oposição ferrenha do sindicato mais poderoso do setor petrolífero.

Outras alternativas também enfrentam dificuldades devido à resistência de um grupo de interesses ou outro.

A única fonte de conforto para muitos detentores de bonds é a crença de que o governo brasileiro faria todo o possível para salvar a maior empresa do país -- mas, segundo Trujillo, ainda assim os mercados estão “minimizando a quantidade de apoio implícito do governo”.

Yields sobem

Os bonds em dólares da Petrobras com vencimento em 2024 têm um yield de 10,07 por cento, ou 3,80 pontos porcentuais a mais do que quando foram emitidos em março de 2014, em um de seus últimos grandes esforços de financiamento internacional.

Citando condições adversas nos mercados de capitais, a empresa cancelou uma emissão de R$ 3 bilhões em bonds no mês passado após um rebaixamento para o status de grau especulativo.

Esses spreads crescentes estão aumentando a pressão sobre uma equipe de gestão confrontada pela rolagem da dívida atual e pelo crescimento dos financiamentos.

“Não queremos sancionar o aumento dos custos de captação”, disse Monteiro, o diretor financeiro da empresa, a repórteres no Rio de Janeiro na semana passada. Ele acrescentou que embora “a Petrobras não possua a varinha mágica de Harry Potter”, a empresa conta com “uma série de alternativas sobre a mesa”.

Um assessor de imprensa da Petrobras preferiu não fazer mais comentários sobre a carga de dívida da empresa e sobre as opções de refinanciamento que estão sendo estudadas.

Sem dúvida, a Petrobras -- uma gigante que produz 2,8 milhões de barris de petróleo e gás natural por dia e que realizou a maior venda de ações do mundo em seu auge, há apenas cinco anos -- ainda tem alavancas para acionar.

Uma fonte de alívio seria se o governo liberasse a Petrobras da política dos preços fixos para a gasolina e o diesel. Mas isso poderia atingir os bolsos de uma população já bastante agitada e atiçar a inflação.

A empresa também poderia utilizar sua influência sobre os bancos estatais para pressionar por condições favoráveis para os novos empréstimos. Mas a alavancagem corporativa já está em uma alta recorde no Brasil. Além disso, qualquer tentativa de prometer ativos como garantia poderia sofrer uma forte resistência dos detentores de bonds atuais.

Como alternativa, a Petrobras poderia recorrer novamente a um financiamento da China, uma grande cliente das commodities brasileiras, como fez após a chegada de Bendine em maio, com US$ 10 bilhões em empréstimos de um trio de bancos chineses.

Se a Petrobras optasse por isso, os termos provavelmente seriam desfavoráveis para a produtora de petróleo, segundo Wilbur Matthews, CEO da Vaquero Global Investment, que tem sede em San Antonio, EUA, e investe em bonds de mercados emergentes, mas que propositadamente está evitando a Petrobras.

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