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OHL espera retorno de R$ 15,5 bi com novas rodovias apesar de pedágio baixo

Mercado, porém, vê com ceticismo a vitória da empresa espanhola em leilão que a transformou na maior concessionária de rodovias do Brasil

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Em sua primeira manifestação pública desde que arrematou cinco dos sete lotes de rodovias federais leiloados pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), em 9 de outubro, a OHL Brasil procurou reverter o ceticismo do mercado quanto à viabilidade de suas propostas. Durante uma teleconferência com analistas, a empresa espanhola, que com o leilão tornou-se a maior concessionária de rodovias do Brasil, afirmou que as tarifas de pedágio que serão cobradas, consideradas surpreendentemente baixas até pelo governo, não comprometem a rentabilidade da operação. "Fomos muito conscientes e conservadores em nossa proposta. Os riscos são baixíssimos", afirmou Francisco Leonardo Moura da Costa, diretor financeiro e de Relações com Investidores da empresa. Um dos números citados para comprovar a viabilidade do negócio é a expectativa de geração de caixa (Ebitda) dos cinco lotes: um total de 15,5 bilhões de reais entre 2008 e 2032, quando vencem as concessões.

A principal dúvida dos analistas recai sobre o montante de recursos necessários para investir (Capex) e administrar (Opex) as rodovias. Durante a elaboração dos editais de concessão, a ANTT já havia sido criticada por não usar as tabelas de referência do Departamento Nacional de Infra-estrutura (DNIT) para estimar os investimentos necessários em cada trecho. Com isso, os valores constantes no edital eram cerca de 30% menores que os utilizados pelo outro órgão federal. Quando os termos da proposta da OHL Brasil foram divulgados no site da ANTT, ontem, os analistas se surpreenderam com o fato de que, na média, o Capex proposto era 10% menor que o estimado pela agência. Durante os 25 anos de concessão, a empresa estima um Capex total de 6,419 bilhões de reais. Já os custos operacionais (Opex) ficariam em 8,239 bilhões. Na prática, se as projeções estiverem erradas, a rentabilidade do negócio pode ser comprometida.

"Já operávamos quatro concessões no Brasil antes do leilão. Temos experiência em negociar com fornecedores para realizarmos investimentos com custos um pouco mais baixos", disse Costa. No primeiro ano de operação (2008), a empresa espera uma receita líquida de 275 milhões de reais, com margem de Ebitda de 18%. Em 2009, o percentual deve passar para 45%. E, a partir de 2013, a margem deve bater em 66%. Nos últimos 20 anos de concessão, a empresa espera gerar uma receita total de 21 bilhões de reais com o negócio, obtendo um Ebitda de 14,3 bilhões.

Em todos os trechos conquistados, a Taxa Interna de Retorno (TIR - outro critério para medir a rentabilidade do investimento) ficará acima de 8%. O lote 6, que abarca a rodovia BR-116 ligando São Paulo ao Paraná (Régis Bittencourt), o retorno alcança 8,68%, o maior do grupo.

Sete trechos de rodovias federais leiloados

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Financiamento

A estrutura financeira para garantir os investimentos está em negociação com os bancos, incluindo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A OHL Brasil espera obter um empréstimo-ponte equivalente a 70% a 80% do Capex necessário para o primeiro ano de operação - um montante de 776 milhões de reais. O restante seria aportado pela própria empresa.

Na segunda etapa, a companhia espera trocar o empréstimo-ponte por um financiamento de longo prazo do BNDES, equivalente a até 70% dos recursos necessários para os primeiros cinco anos da operação. O valor que seria liberado pelo banco ficaria entre 1,8 bilhão e 2,6 bilhões de reais, conforme o resultado das negociações.

Queda e polêmica

As dúvidas do mercado estão castigando os papéis da OHL Brasil na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Hoje, às 14h33, os papéis registravam queda de 2,84%, para 28,35 reais. Entre 8 de outubro (véspera do leilão) e ontem (5/11), a queda acumulada já era de 21,6%. No mesmo período, sua concorrente CCR, que saiu de mãos abanando do leilão, recuou 15%, de 38,79 para 33 reais. A curva mostra que os investidores não se impressionaram com o fato de a OHL Brasil emergir do leilão como a maior operadora de rodovias do país, responsável por 25% da malha viária concedida.

Outra eventual conseqüência de uma falha nas estimativas seria a necessidade de a OHL requisitar uma revisão dos contratos, a fim de reequilibrá-los financeiramente. Segundo Costa, isso só ocorrerá diante de fatores não previstos, como aumento da carga tributária ou novas obras solicitadas pelo governo. "Custos maiores que os da proposta não fazem parte disso. É um risco nosso", disse.

Os custos de investimento apresentados pela empresa, aliás, causaram polêmica entre os outros grupos que disputaram o leilão. Um deles, o consórcio PR/SC, afirmou ontem que vai recorrer do resultado da licitação do trecho Curitiba-Florianópolis (chamado de lote 7, envolvendo as rodovias BR 116, 376 e 101). O consórcio considera "inexeqüível" a tarifa de 1,028 real proposta pela OHL para o trecho. Além disso, o grupo quer esclarecimentos sobre investimentos previstos a custo zero pelos espanhóis em algumas planilhas.

Durante a conversa com analistas, hoje, a OHL Brasil não respondeu diretamente a essas críticas. Mas parte da linha de defesa pode ser percebida a partir de outras respostas. A principal delas é que a ANTT avaliou todos os números da empresa antes de declará-la vencedora. "A análise da ANTT implica a aprovação dos nossos números pela própria agência", disse Costa.

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