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Ford: a crise dos 100 anos

A direção da Ford comemora o centenário de fundação da companhia com o lema "de volta às origens", mas sabe que a viagem ao tempo em que era líder de mercado não será tão simples assim. As festas e os novos produtos lançados para a ocasião não escondem as dificuldades da matriz. A empresa não […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

A direção da Ford comemora o centenário de fundação da companhia com o lema "de volta às origens", mas sabe que a viagem ao tempo em que era líder de mercado não será tão simples assim. As festas e os novos produtos lançados para a ocasião não escondem as dificuldades da matriz. A empresa não consegue retomar a dianteira entre seus pares americanos. Permanece como a segunda indústria automobilística do mundo, atrás da concorrente General Motors (GM). Na América do Sul, a empresa ainda não saiu do vermelho: o prejuízo no primeiro trimestre ficou em 31 milhões de dólares, contra um prejuízo de 85 milhões de dólares no primeiro trimestre do ano passado.

A Ford ainda luta para reverter boa parte das mudanças _ e prejuízos _ provocadas pela gestão de Jac Nasser, ex-presidente substituído pelo bisneto do fundador Henry Ford, William Clay Ford Jr ou Bill, como é chamado. A empresa também precisa contornar uma crise econômica que afeta quase todos os países sul-americanos, em especial o Brasil, o maior e mais importante mercado da região. A marca Ford se recupera no Brasil, mas estamos muito preocupados com o baixo nível da demanda no país , diz Richard Canny, vice-presidente da Ford para a América do Sul.

Fundada em 16 de junho de 1903, a Ford organiza nesta semana uma série de eventos nos 200 mercados onde está presente para lembrar a data. Em julho, no Brasil, lança a Ranger Centennial, série especial com apenas 300 unidades, para comemorar os 100 anos. Talvez para deixar o clima mais alto astral. Poucos são os modelos que hoje exibem resultados animadores, como o recém lançado EcoSport, primeiro utilitário esportivo compacto produzido no Brasil.

Fabricado em Camaçari, na Bahia, o EcoSport ultrapassou as expectativas. As exportações avançam para Chile e Equador. No México, a empresa esperava vender 500 unidades em maio, mês do lançamento, mas comercializou 1 500 veículos em apenas duas semanas. Na Argentina, o carro está sendo chamado de o fenômeno brasileiro . Alguns de seus modelos têm lista de espera no Brasil.

Mas o Ecosport está na contra-mão de uma tendência nada animadora. Nos primeiros cinco meses do ano, as vendas da Ford cresceram 30% no Brasil em relação ao mesmo período do ano passado, em parte por causa do EcoSport. A empresa tem 11,5% do mercado nacional e a quarta colocação no ranking nacional. Mas detém uma fatia de um bolo cada vez menor. Estimativas preliminares sinalizam que as vendas do setor automotivo no Brasil durante o mês de junho podem ficar abaixo de 100 000 unidades. Esse resultado pífio renderia, no acumulado dos últimos 12 meses, um total de pouco mais de 1,3 milhão de veículos vendidos uma queda de 14% em relação à média de 1,5 milhão registrada no ano passado. As vendas em junho podem retroceder para os patamares de 1992.

O setor automotivo atravessa uma situação muito difícil no Brasil , diz Antonio Maciel Neto, presidente da Ford no Brasil. Na avaliação de Maciel, os três fatores que influenciam no resultado do setor são críticos no momento: as taxas de juros, que afetam o crédito, estão muito altas; a confiança do consumidor caiu; e o preço dos veículos subiu. Os reajustes acumulados em 12 meses chegam a 14%, fruto da pressão de matérias-primas cotadas em dólar, como o aço, que aumentou cerca de 60%.

Resultado: no primeiro trimestre, todas as montadoras registraram prejuízo no Brasil. As exportações contribuem para aliviar o resultado, mas é preciso deixar claro que não mudam a situação , afirma Maciel. O quadro de recessão no mercado brasileiro prejudica também a confiança dos acionistas, que cobram resultados. O acionista que saber quando virá o retorno do investimento feito no Brasil , diz Maciel. Ninguém vai querer investir aqui enquanto esse cenário não mudar. Como outras montadoras, a Ford prepara-se para entrar em férias coletivas. Entre 23 e 29 de junho, cerca de 3 000 metalúrgicos da unidade de São Bernardo, ficam em casa para a empresa poder regular os estoques.

Segundo reportagem publicada na semana passada pela revista The Economist, o maior de todos os desafios da Ford no centenário está nos Estados Unidos: resolver as finanças e reverter a baixa eficiência que hoje caracteriza o parque automotivo americano encastelado na cidade de Detroit. A Ford luta pela sobrevivência , diz a revista. Na década de 90, a expansão comandada por Nasser custou caro à companhia. A Ford foi de um lucro de 7,2 bilhões em 1999 para um prejuízo de 5,4 bilhões de dólares em 2001.

No primeiro trimestre deste ano, as contas melhoraram, mas ainda sem os gordos resultados dos outros anos: a Ford teve um lucro de 896 milhões de dólares contra o prejuízo de 1,1 bilhão de dólares no mesmo período do ano passado. Mas há ainda muito a fazer e clientes a recuperar. Na Europa, a participação de mercado caiu de 12% para 8%.

De acordo com a Economist todo o setor automotivo americano precisa rever processos de produção e gestão para dar conta da concorrência internacional criada em seu próprio território. Empresas internacionais mais eficientes avançam no mercado local com produtos e preços mais competitivos.

No mês passado, a japonesa Nissan, cuja presidência o brasileiro Carlos Ghosn acaba de deixar para assumir a matriz Renault, abriu no Mississipi uma fábrica de última geração, capaz de produzir 400 000 veículos por ano incluindo pick-ups e utilitários esportivos, modelos que impulsionaram boa parte dos resultados da Ford e da GM. Toyota e Honda também estão expandindo sua produção nos Estados Unidos e roubando mercado das montadoras locais.

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