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"Foi o melhor negócio possível", diz ex-controlador da Tenda

Para Henrique Alves Pinto, a transação com a Gafisa era a única saída

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Depois de mais de uma hora de conversa na terça-feira (2/9), Henrique Alves Pinto, o ex-CEO e ex-controlador da Tenda, a incorporadora voltada para a baixa renda, resumiu a sua visão sobre a tomada de controle da sua empresa pela Gafisa, uma das maiores transações do setor imobiliário brasileiro dos últimos anos: "Não foi um negócio excelente, mas foi o melhor possível". Até recentemente, Alves era uma das estrelas mais cintilantes do então festejado mercado imobiliário. Desde o IPO da Tenda no ano passado, sua postura refletia a imagem da empresa, considerada promissora e inovadora. Na última terça-feira, horas depois da conferência telefônica com analistas e investidores para explicar a transação fechada às pressas no final de semana, o empresário que entrou em uma das salas de reunião da sede da Tenda, no bairro Vila Olímpia, em São Paulo, era uma sombra do Alves de alguns meses. Exausto, não escondia o abatimento. Do ponto de vista pessoal, não se eximiu de crítica: "Agora a empresa vai ter uma gestão mais profissional e isso será uma lição para mim", disse com lágrimas nos olhos. Sobre o futuro, porém, sua visão era bem mais positiva: "Tenho certeza absoluta que os investidores sentirão os benefícios da minha decisão em menos de um ano".

No começo deste ano, o conselho e a diretoria da Tenda chegaram à conclusão que o futuro da empresa seria invariavelmente a associação com uma das gigantes do setor - o racional era que as de menor porte tendem a ter mais dificuldades de captação e custos maiores por conta da falta de escala. Ninguém no conselho e na diretoria, porém, esperava que o desenlace se desse em condições tão dramáticas. A primeira proposta concreta que a Tenda recebeu foi, sempre segundo Alves, a da Gafisa. A reunião que iniciou a negociação formal ocorreu no dia 1º de agosto, durante um café da manhã no hotel Intercontinental, na região dos Jardins, em São Paulo. Além de Alves, participaram do encontro Wilson Amaral, presidente da Gafisa, Rodrigo Osmo, diretor de desenvolvimento de negócios da Gafisa, André Vieira, diretor executivo da Tenda, Eduardo Borges, diretor do Banco Modal, e Luiz Muniz, o principal executivo do banco de investimento Rothschild. As conversas prometiam se arrastar por meses, mas foram atropeladas pelo mercado.

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Onze dias depois do primeiro encontro, a Tenda divulgou seu balanço trimestral, que trouxe números piores do que os esperados pelos analistas e que os projetados pela própria empresa. A partir daí, as ações da incorporadora perderam o chão. Dessa data até a última sexta-feira, 29, quando ocorreu a reunião em que Alves e Amaral decidiram partir para a rodada final da negociação, as ações da Tenda ( TEND3 ) caíram 60,5%, a maior baixa da bolsa no período. "A reação do mercado foi exagerada. Tivemos alguns números piores que o previsto, mas nada que indicasse problemas sérios", diz Vieira, diretor executivo da Tenda. "A gente geriu mal as expectativas do mercado, mas isso é diferente de ter uma empresa mal gerida", completa Alves.

Pelo que foi acordado, a Tenda irá incorporar a FIT, empresa de baixa renda da Gafisa, e haverá mudanças no capital da empresa. No desenho final, a Gafisa ficará com 60%, Alves - que antes tinha mais de 50% - terá 20% e o restante com os minoritários. Parte do mercado achou que a transferência de controle foi uma decisão precipitada, mas Alves se defende. "Estávamos preocupados em não piorar a situação. Não podíamos correr o risco de perder membros da nossa equipe, por exemplo, ou de gerar desconfiança no mercado", diz. Outra reclamação do mercado é a diluição da fatia dos minoritários - que caiu de 49% para 20%. Alves reconhece que a companhia foi vendida num mau momento, mas acrescenta que "o valor das ações vai se recuperar nos próximos meses." Como? Sobre isso, o executivo não dá detalhes. "Quando pudermos divulgar o plano de negócios, todos irão ver", disse antes de concluir: "Estou no mesmo barco dos acionistas minoritários".

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