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Família Klein estuda venda da Casas Bahia

Processo vem sendo conduzido há três meses, em sigilo absoluto. A empresa nega

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Segundo sete fontes independentes ouvidas por EXAME nos últimos três dias, a família Klein, dona da Casas Bahia, está procurando um comprador para a maior varejista de eletrodomésticos e móveis do Brasil. Três dessas fontes são executivos de empresas diferentes que participam diretamente das negociações. Há cerca de três meses, a Casas Bahia enviou a potenciais interessados uma carta com números da empresa, abrindo as conversas. Foram assinados acordos de confidencialidade e, desde então, os interessados e seus assessores financeiros analisam os números e elaboram as possíveis estruturas da transação. De acordo com um cronograma previamente estabelecido, as ofertas iniciais deveriam ser feitas até o fim da semana passada. Nos últimos dias, porém, a informação circulou entre bancos de investimento, que começaram a procurar outros investidores para entrar no processo - que, se antes era restrito a poucos participantes, pode ganhar novos atores nos próximos dias.

Segundo EXAME apurou com executivos que participam das negociações, é cedo para dizer se a Casas Bahia será efetivamente vendida ao final do processo. "Nos abordaram e tivemos extensas reuniões com eles, mas isso não quer dizer que o negócio vai ser concluído", diz o assessor de um dos interessados. Segundo dois executivos envolvidos, a Casas Bahia não teve seus balanços auditados por firmas independentes, passo considerado básico para quem deseja atrair compradores, especialmente entre empresas de capital aberto. E o representante dos Klein não seria um banco de investimento, mas o consultor especializado em varejo Marcos Gouvêa de Souza. A aquisição seria um passo colossal, certamente a maior transação da história do varejo brasileiro. O faturamento da companhia beira os 12 bilhões de reais. Pelos padrões de valor de mercado de empresas do setor, uma eventual compra custaria cerca de 6 bilhões de reais.

A falta de balanço auditado, o tamanho da Casas Bahia e a ausência de um banco de investimentos do lado dos vendedores deram origem a um indisfarçável ceticismo entre os possíveis compradores. Segundo um executivo que se debruçou sobre os números da Casas Bahia, é praticamente impossível fazer uma aquisição desse porte sem que a companhia vendedora faça, antes, um extenso dever de casa. A história recente do varejo brasileiro dá provas disso. Há cerca de dois anos, os sócios da rede Atacadão tentaram vender a companhia, mas o negócio não foi concretizado. À época, os valores oferecidos beiravam os 600 milhões de dólares. Os sócios decidiram, então, auditar seus balanços e colocar as contas em ordem. Foi um sucesso: em abril, o Carrefour comprou o Atacadão por 1,1 bilhão de dólares. "A impressão que dá é que os Klein estão testando a temperatura da água", diz um alto executivo do setor, que não quis ter seu nome revelado por ter assinado um acordo de confidencialidade com a Casas Bahia. "Se não receberem uma proposta espetacular, podem decidir reestruturar a companhia e voltar a atrair interessados ou fazer uma abertura de capital no futuro."

Fundada em 1952, a Casas Bahia se tornou na última década um dos maiores fenômenos de crescimento do capitalismo brasileiro. Seu modelo de negócios inovador, voltado ao consumidor de baixa renda, fez com que atropelasse o antigo líder Ponto Frio e crescesse num ritmo superior a 30% ao ano. No ano passado, esse ritmo começou a diminuir e a companhia fechou lojas deficitárias. As conversas em torno da aquisição da Casas Bahia são o início de um fenômeno há muito aguardado por especialistas: a consolidação entre o varejo de alimentos e o varejo de não-alimentos. O primeiro grupo, liderado por Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart, está chegando aos estágios finais de uma onda de aquisições. Com a venda do Atacadão e, mais recentemente, do Gbarbosa, restaram poucos alvos que possibilitem uma maior expansão dos varejistas de alimentos. Segundo essa tese, é justamente no varejo de não-alimentos que essas redes buscarão crescimento nos próximos anos - entre os participantes do processo de venda da Casas Bahia estão varejistas de alimentos, além de grandes fundos de private equity.

Procurada, a Casas Bahia afirmou que não está à venda. Segundo seu diretor-administrativo, Michael Klein, nada impede que a companhia seja assediada, mas ele negou que a família tenha tomado a iniciativa de convidar interessados na compra do controle. Michael é filho do fundador da companhia, o empresário Samuel Klein. "Meu pai jamais venderia a empresa, isto é a vida dele", afirmou. O consultor Marcos Gouvêa de Souza disse que faz um trabalho de natureza estratégica para os Klein, mas negou que esteja assessorando a venda da Casas Bahia.

 

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