Como o BankBoston conseguiu aumentar seu lucro no trimestre em 410%
São Paulo, 18 de junho (Portal EXAME) O governo Lula tem feito severas críticas ao que afirma ser a excessiva lucratividade dos bancos no Brasil. De acordo com declarações de ministros e economistas ligados ao Planalto, há espaço para queda do spread bancário se essa lucratividade for reduzida. Mas nem sempre o lucro de um […]
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
São Paulo, 18 de junho (Portal EXAME) O governo Lula tem feito severas críticas ao que afirma ser a excessiva lucratividade dos bancos no Brasil. De acordo com declarações de ministros e economistas ligados ao Planalto, há espaço para queda do spread bancário se essa lucratividade for reduzida. Mas nem sempre o lucro de um banco é igual ao de uma empresa qualquer. Muitas vezes o resultado contábil é apenas um retrato de opções financeiras fortuitas (ainda que acertadas), que não representam toda a realidade.
O melhor exemplo disso são os números do BankBoston. Ele registrou no primeiro trimestre deste ano um lucro líquido de 162,5 milhões de reais, um salto de 410% sobre os 31,9 milhões de reais registrados em igual período do ano passado, segundo levantamento divulgado pela ABM Consulting. O resultado bateu o desempenho de grandes instituições brasileiras, como Itaú (132%) e Bradesco (20%). À primeira vista, o número parece ser estupendo mas números observados de forma solta podem não dizer nada.
Na série histórica dos últimos quatro anos, também elaborada pela ABM, o resultado do BankBoston em 2003 sinaliza muito mais uma recuperação do que um pulo estratosférico (veja quadro abaixo). O lucro do primeiro trimestre deste ano está bem atrás dos 273,4 milhões de reais registrados em 2001.
Essas comparações, no entanto, valem muito pouco para o BankBoston, porque estão em reais e não em dólar, a moeda que interessa aos acionistas da matriz nos Estados Unidos. Observar nosso resultado em reais e compará-lo com o retorno de outros bancos brasileiros é um ato de insanidade , diz Ricardo Gallo, vice-presidente de mercado de capitais do BankBoston. Fazer isso é comparar alhos com bananas.
Segundo Gallo, boa parte dos resultados do BankBoston refletem apenas os efeitos da variação cambial sobre a carteira de papéis. Tem menos a ver com operações de crédito ou com o spread alto cobrado dos clientes. O banco faz sua proteção (hedge) contra as oscilações do dólar no Brasil e registra seus efeitos no balanço local não no balanço da matriz, como fazem outras instituições estrangeiras. Os resultados são remetidos à matriz e ajustados às regras da contabilidade americana. Quando o real se desvaloriza em relação ao dólar (como ocorreu no ano passado), o resultado do banco tende a diminuir em dólar, embora possa ser maior em reais.
Há ainda um complicador adicional. Cerca de 90% da carteira do Bankboston é formada por Notas do Tesouro Nacional (NTNs), cujos rendimentos são atrelados à cotação da moeda americana, porque servem para o hedge da instituição, obrigada a prestar contas em dólar à matriz. No ano passado, a alta do dólar não foi suficiente para compensar a queda do preço unitário desses papéis e contribuiu para o banco fechar o ano com um resultado menor. O BankBoston fechou 2002 com um lucro líquido de 582 milhões de reais, volume 21% menor em relação ao resultado de 2001, de 737 milhões de reais.
No primeiro trimestre deste ano, o quadro se inverteu: o preço dos papéis aumentou e o real se valorizou, elevando também os retornos. O aumento da taxa básica de juros significou muito pouco para o BankBoston. Meu caixa em Selic é insignificante , diz Gallo. A taxa básica de juros conta também em papéis cambiais, mas não é um determinante. A taxa básica é decisiva no rendimento de outro papel público, a Letras do Tesouro Nacional (LFTs, títulos pré-fixados atrelados à taxa Selic). Por isso, o resultado do Boston é apenas um reflexo de sua política de investimentos, voltada para a prestação de contas à matriz, não de uma suposta genialidade financeira nem da cobrança de juros extorsivos.
Ranking | RESULTADO LÍQUIDO (milhões R$) | Mar-00 | Mar-01 | Mar-02 | Mar-03 | % 2002 a % 2003 |
1 | BANKBOSTON | 84,878 | 273,373 | 31,880 | 162,472 | 410% |
2 | NOSSA CAIXA | 25,580 | 23,876 | 50,591 | 121,606 | 140% |
3 | ITAU | 350,802 | 602,879 | 467,790 | 1,084,432 | 132% |
4 | CEF | (143,097) | (94,617) | 214,724 | 343,626 | 60% |
5 | VOTORANTIM | 34,966 | 35,538 | 107,836 | 165,516 | 53% |
6 | BB | 72,352 | 136,730 | 349,017 | 478,993 | 37% |
7 | BRADESCO | 647,538 | 420,365 | 424,518 | 509,523 | 20% |
8 | CITIBANK | 23,102 | 255,666 | 157,232 | 186,126 | 18% |
9 | ABN AMRO | 33,109 | 118,615 | 119,456 | 133,369 | 12% |
10 | SANTANDER BANESPA | 27,120 | 205,227 | 522,360 | 579,895 | 11% |
11 | SAFRA | 62,806 | 72,253 | 134,747 | 147,794 | 10% |
12 | UNIBANCO | 204,084 | 217,706 | 226,366 | 222,095 | -2% |
13 | HSBC | 68,915 | 86,785 | 61,182 | 58,897 | -4% |
14 | SUDAMERIS | (126,242) | 20,941 | 64,771 | 52,606 | -19% |
15 | BNDES | 596,178 | 100,628 | 294,271 | (370,141) | -226% |