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Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
São Paulo, 18 de junho (Portal EXAME) O governo Lula tem feito severas críticas ao que afirma ser a excessiva lucratividade dos bancos no Brasil. De acordo com declarações de ministros e economistas ligados ao Planalto, há espaço para queda do spread bancário se essa lucratividade for reduzida. Mas nem sempre o lucro de um banco é igual ao de uma empresa qualquer. Muitas vezes o resultado contábil é apenas um retrato de opções financeiras fortuitas (ainda que acertadas), que não representam toda a realidade.
O melhor exemplo disso são os números do BankBoston. Ele registrou no primeiro trimestre deste ano um lucro líquido de 162,5 milhões de reais, um salto de 410% sobre os 31,9 milhões de reais registrados em igual período do ano passado, segundo levantamento divulgado pela ABM Consulting. O resultado bateu o desempenho de grandes instituições brasileiras, como Itaú (132%) e Bradesco (20%). À primeira vista, o número parece ser estupendo mas números observados de forma solta podem não dizer nada.
Na série histórica dos últimos quatro anos, também elaborada pela ABM, o resultado do BankBoston em 2003 sinaliza muito mais uma recuperação do que um pulo estratosférico (veja quadro abaixo). O lucro do primeiro trimestre deste ano está bem atrás dos 273,4 milhões de reais registrados em 2001.
Essas comparações, no entanto, valem muito pouco para o BankBoston, porque estão em reais e não em dólar, a moeda que interessa aos acionistas da matriz nos Estados Unidos. Observar nosso resultado em reais e compará-lo com o retorno de outros bancos brasileiros é um ato de insanidade , diz Ricardo Gallo, vice-presidente de mercado de capitais do BankBoston. Fazer isso é comparar alhos com bananas.
Segundo Gallo, boa parte dos resultados do BankBoston refletem apenas os efeitos da variação cambial sobre a carteira de papéis. Tem menos a ver com operações de crédito ou com o spread alto cobrado dos clientes. O banco faz sua proteção (hedge) contra as oscilações do dólar no Brasil e registra seus efeitos no balanço local não no balanço da matriz, como fazem outras instituições estrangeiras. Os resultados são remetidos à matriz e ajustados às regras da contabilidade americana. Quando o real se desvaloriza em relação ao dólar (como ocorreu no ano passado), o resultado do banco tende a diminuir em dólar, embora possa ser maior em reais.
Há ainda um complicador adicional. Cerca de 90% da carteira do Bankboston é formada por Notas do Tesouro Nacional (NTNs), cujos rendimentos são atrelados à cotação da moeda americana, porque servem para o hedge da instituição, obrigada a prestar contas em dólar à matriz. No ano passado, a alta do dólar não foi suficiente para compensar a queda do preço unitário desses papéis e contribuiu para o banco fechar o ano com um resultado menor. O BankBoston fechou 2002 com um lucro líquido de 582 milhões de reais, volume 21% menor em relação ao resultado de 2001, de 737 milhões de reais.
No primeiro trimestre deste ano, o quadro se inverteu: o preço dos papéis aumentou e o real se valorizou, elevando também os retornos. O aumento da taxa básica de juros significou muito pouco para o BankBoston. Meu caixa em Selic é insignificante , diz Gallo. A taxa básica de juros conta também em papéis cambiais, mas não é um determinante. A taxa básica é decisiva no rendimento de outro papel público, a Letras do Tesouro Nacional (LFTs, títulos pré-fixados atrelados à taxa Selic). Por isso, o resultado do Boston é apenas um reflexo de sua política de investimentos, voltada para a prestação de contas à matriz, não de uma suposta genialidade financeira nem da cobrança de juros extorsivos.
Ranking | RESULTADO LÍQUIDO (milhões R$) |
Mar-00
|
Mar-01
|
Mar-02
|
Mar-03
|
% 2002 a % 2003
|
1 | BANKBOSTON |
84,878
|
273,373
|
31,880
|
162,472
|
410%
|
2 | NOSSA CAIXA |
25,580
|
23,876
|
50,591
|
121,606
|
140%
|
3 | ITAU |
350,802
|
602,879
|
467,790
|
1,084,432
|
132%
|
4 | CEF |
(143,097)
|
(94,617)
|
214,724
|
343,626
|
60%
|
5 | VOTORANTIM |
34,966
|
35,538
|
107,836
|
165,516
|
53%
|
6 | BB |
72,352
|
136,730
|
349,017
|
478,993
|
37%
|
7 | BRADESCO |
647,538
|
420,365
|
424,518
|
509,523
|
20%
|
8 | CITIBANK |
23,102
|
255,666
|
157,232
|
186,126
|
18%
|
9 | ABN AMRO |
33,109
|
118,615
|
119,456
|
133,369
|
12%
|
10 | SANTANDER BANESPA |
27,120
|
205,227
|
522,360
|
579,895
|
11%
|
11 | SAFRA |
62,806
|
72,253
|
134,747
|
147,794
|
10%
|
12 | UNIBANCO |
204,084
|
217,706
|
226,366
|
222,095
|
-2%
|
13 | HSBC |
68,915
|
86,785
|
61,182
|
58,897
|
-4%
|
14 | SUDAMERIS |
(126,242)
|
20,941
|
64,771
|
52,606
|
-19%
|
15 | BNDES |
596,178
|
100,628
|
294,271
|
(370,141)
|
-226%
|