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CCR é a favorita do mercado na disputa pelo Rodoanel

Baixo endividamento e sinergia com outras concessões dão vantagem à empresa no leilão

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

De todas as empresas que devem disputar o leilão do trecho oeste do Rodoanel paulista, em março, nenhuma é acompanhada tão de perto pelo mercado quanto a CCR, concessionária controlada pelas construtoras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez em parceria com a portuguesa Brisa. Para os analistas, a empresa é a que reúne as melhores condições estratégicas e financeiras para arrematar a licença. Além disso, após a derrota para a espanhola OHL nas licitações de rodovias federais, em outubro, o mercado acredita que a CCR tem o dever de levar o Rodoanel ou será punida com uma desvalorização de suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo. "Não tem jeito: se a CCR perder o leilão, seus papéis serão castigados", diz um analista que prefere não ser identificado.

A primeira vantagem da companhia sobre as concorrentes é o conhecimento do trecho que irá a leilão. Os 32 quilômetros que serão licitados cortam as rodovias Anhangüera, Bandeirantes, Castello Branco e Raposo Tavares - todas administradas pela CCR. Isso permitiria à concessionária dados mais precisos sobre o tráfego do Rodoanel, que envolveriam desde a origem e destino dos veículos que transitam por lá até a sazonalidade e as tendências de desenvolvimento. Essa experiência evitaria, por exemplo, polêmicas como a causada pela OHL no leilão das rodovias federais de outubro. Para oferecer deságios maiores que os concorrentes, a OHL estimou um volume de tráfego em algumas rodovias bem superior às projeções correntes. Agora, a dúvida do mercado é se a OHL errou nos números apresentados ou não - algo que só será demonstrado quando a concessionária assumir os trechos efetivamente e, ao final de seis meses, começar a cobrar o pedágio nas estradas que administrará.

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O conhecimento adquirido pela CCR na operação das rodovias também pode lhe favorecer em outro ponto: a exploração de sinergias. "Os custos de manutenção podem ser bem menores", afirma Fernando Camargo, sócio-diretor da consultoria LCA. Entre os pontos mais óbvios, estão a economia com o transporte de equipamentos de manutenção e a contratação de serviços em pacotes maiores. Em outra frente, a empresa poderia racionalizar o trabalho de equipes de assistência mecânica e médica aos usuários, por exemplo.

Sinergia com o grupo

A sinergia também vai além da atividade-fim da CCR. Por contar com duas construtoras como acionistas, a empresa também pode esperar ganhos gerados por uma estratégia global de atuação das companhias que a controlam. A Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), por exemplo, pretende lançar um megaempreendimento residencial em Caieiras, município paulista que pode ser acessado pelo Rodoanel.

Em dezembro, a CCDI pagou 28 milhões de reais por um terreno da Companhia Melhoramentos. Na área de 5,2 milhões de metros quadrados, a incorporadora pretende construir 15.000 unidades, entre apartamentos e casas. O lançamento está previsto para 2010, e cada unidade será oferecida por preços entre 70.000 e 200.000 reais. As vendas totais são estimadas de 2,5 bilhões a 3 bilhões de reais. Caso vença a licitação do trecho oeste, a CCR será beneficiada pelo aumento do tráfego em suas vias, causado pelo empreendimento de uma empresa do grupo.

Outra tendência é o desenvolvimento de condomínios logísticos próximos do Rodoanel. Em um mesmo terreno, são construídos galpões de diversos tamanhos, alugados a empresas dos mais variados tipos. As companhias ali instaladas repartem os custos de manutenção do complexo, como segurança e iluminação. A Racional Engenharia, por exemplo, pretende construir um desses condomínios na Raposo Tavares, próximo ao Rodoanel. A planta terá 90.000 metros quadrados de área. Essas iniciativas também reforçam o tráfego local e, no futuro, ajudarão o caixa da concessionária que administrar a via.

O futuro administrador do Rodoanel também pode se beneficiar, no médio prazo, com a construção do terceiro aeroporto paulista. Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a decisão governamental de erguê-lo já está tomada, e os primeiros passos práticos devem ser tomados no ano que vem, com a elaboração do projeto. Por ora, vários locais são cotados para abrigar a nova pista. Uma das principais apostas do mercado é que o aeroporto seja instalado em uma área próxima ao Rodoanel, o que também favoreceria o operador do Trecho Oeste.

Fôlego financeiro

O caixa da CCR é apontado como outra vantagem na disputa do leilão de março. "Como a CCR não conquistou nenhum trecho das federais, está com mais caixa para investir. Além disso, apresenta um baixo nível de endividamento", afirma Fernando Abdalla, analista da corretora do Unibanco.

A CCR fechou o terceiro trimestre de 2007 com um ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 410,7 milhões de reais. Sua margem de ebitda foi de 66,5%. No acumulado de nove meses, a geração de caixa chegou a 1,077 bilhão de reais, com margem de 62,7%. Em setembro, a dívida líquida da empresa era de 1,278 bilhão de reais. A relação dívida líquida/ebitda era de 0,91. Traduzindo: seriam necessários pouco mais de 10 meses de caixa da empresa para pagar toda a dívida.

Mais ousadia

Nestas condições, a concessionária poderia fazer lances mais ousados para vencer a licitação. A pergunta do mercado é: a CCR será, mesmo, mais agressiva desta vez? Os analistas notam que, tradicionalmente, a postura da empresa é conservadora, e sua diretoria não se cansa de repetir que não adotará posições que prejudiquem os acionistas. Mas alguns fatores podem forçar uma mudança de postura. O primeiro é o assédio das concorrentes sobre o Rodoanel. Embora conte com vantagens competitivas, a montagem de consórcios rivais pode abalá-las. Mesmo com um nível bem maior de endividamento, a OHL poderia, por meio de um consórcio, atrair um investidor capaz de equilibrar o jogo, por exemplo. O mesmo está sendo negociado por outras companhias.

O resultado do leilão federal, em outubro, também pode estimular uma mudança de atitude. Para os especialistas, o cenário das concessões rodoviárias mudou, e as operadoras do ramo precisam se contentar com taxas menores de retorno. Calcula-se que o retorno das federais leiloadas e do Rodoanel fique ao redor de 8% ou 9% por ano, contra as taxas de quase 20% das estradas licitadas nos anos 90.

Por fim, o próprio mercado pode punir a CCR, se não se satisfizer com o resultado do leilão. Em 9 de outubro do ano passado, por exemplo, os papéis da companhia (CCRO3) fecharam com forte queda de 7,17%, negociados a 36,01 reais. O recuo foi a resposta dos investidores à derrota da empresa para a espanhola OHL no leilão das federais. No mesmo dia, o Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, subiu 1,42%. É verdade que a OHL também pagou o preço de ser ousada demais para o mercado, ao ofertar descontos no pedágio acima do esperado. No dia do leilão, seus papéis caíram 3,25%. No dia seguinte, quando os analistas estudaram a situação com mais calma, o tombo foi maior: 8,42%.

A mensagem é clara: os investidores esperam um bom resultado da CCR, mas não a qualquer custo. A própria diretoria da CCR, em entrevistas recentes à imprensa, afirmou que a empresa adotará uma postura mais agressiva no mês que vem, mas sem cometer loucuras. O mercado aposta na CCR, mas aguarda uma vitória precisa e sem sacrifícios. A CCR não retornou o pedido de entrevista até o fechamento da reportagem.

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