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Capitalizados por IPOs, empresários brasileiros lideram aquisições

Pela primeira vez desde 2003, companhias brasileiras superam estrangeiras em fusões

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Nos últimos meses, as empresas brasileiras estão se acostumando a uma posição que há muito não se via: a de líderes em fusões e aquisições. Apenas nesta semana, a Datasul comprou a Bonagura, a Sadia arrematou a Big Foods, e a Marfrig adquiriu o frigorífico Mabella. Na semana passada, a Lopes Consultoria de Imóveis, maior empresa do setor no país, selou a compra da imobiliária Patrimóvel, líder no mercado fluminense, por 250 milhões de reais. Recuando mais alguns dias, encontramos operações vultosas, como a aquisição da Eleva pela Perdigão, que se tornou a maior companhia de alimentos do país, superando a Sadia, ou a compra da rede de atacarejo Assai pelo Pão de Açúcar, uma resposta ao movimento das rivais.

O que há em comum entre todos esses negócios é que envolvem apenas empresas de capital nacional. Esse tipo de acordo, conhecido como transação doméstica, é cada vez mais comum no país, e assinala o fortalecimento das companhias brasileiras como competidoras capazes de fazer frente a investidores estrangeiros na disputa pela consolidação dos segmentos em que atuam. Tão comum que, no terceiro trimestre deste ano, superaram as chamadas transações transnacionais (cross border) - aquelas que envolvem acordos entre brasileiros e estrangeiros. De acordo com a consultoria KPMG, foram anunciadas no país, no período, 237 fusões e aquisições. As transações domésticas somaram 135. É a primeira vez que isso acontece, desde 2003.

Fusões e aquisições anunciadas
Trimestre Domésticas Transnacionais Total
135102237
8399182
4072112
Fonte: KPMG

Capitalizados

O principal fator que acelerou as transações nacionais, a ponto de levarem essa categoria à liderança no terceiro trimestre, é o grande volume de recursos captados na Bolsa de Valores de São Paulo, por meio de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês). Entre janeiro e novembro, 62 empresas realizaram seus IPOs. Outras 11 companhias já listadas na bolsa também emitiram novos lotes de ações para levantar dinheiro. Em conjunto, as 73 operações registradas totalizam 62,460 bilhões de reais - mais que o dobro dos 30,436 bilhões captados em todas as ofertas públicas realizadas em 2006. Desde 2004, ano apontado pelos especialistas como o renascimento do mercado de capitais no Brasil, as empresas levantaram mais de 115 bilhões de reais com IPOs e emissões de ações.

"As empresas que abriram capital encontram-se, agora, na fase de investimento dos recursos obtidos", afirma Cláudio Ramos, um dos sócios da KPMG. Não por acaso, das 15 empresas nacionais que mais realizaram fusões e aquisições no terceiro trimestre, 13 abriram seu capital nos últimos dois anos. O destaque é para a administradora de shopping centers BR Malls. Com uma política agressiva de expansão por meio de aquisições, a companhia anunciou 26 negócios entre janeiro e setembro. Hoje, a empresa é a maior do setor.

As aquisições são o caminho mais curto para uma empresa ampliar sua fatia de mercado, aumentar o faturamento e gerar lucros. Por isso, é o mais escolhido pelas companhias que abriram capital e que, agora, sofrem a pressão dos acionistas para entregar bons resultados. "O crescimento orgânico é interessante, mas a expansão via aquisições é mais rápida", afirma Paulo Caputo, diretor de Novos Negócios da Datasul, que contabiliza sete empresas compradas neste ano.

As maiores caçadoras
Empresa Fusões e aquisições entre janeiro e setembro
BR Mall26
Ideasnet6
Datasul5
Lupatec5
Tecnisa5
Agra4
Cyrela Brazil Realty4
Grupo Total de Comunicação4
Iguatemi4
PDG Realty4
Triunfo Participações4
Anhanguera Educacional3
Dasa3
Estácio Participações3
GP Investments3
Grupo Ypy3
Rede Record3
Samcil3
Bufallo Investimentos2
Grupo Sambaíba2
Schincariol2
Perdigão2
Petrobras2
Total - Top 23 102
Total Geral de Transações Domésticas 258
Fonte: KPMG

O que ocorre no setor imobiliário e de construção civil, nos últimos meses, ilustra bem a situação. Somente neste ano, mais de dez empresas do ramo promoveram seus IPOs. O resultado é uma enxurrada de negócios. No terceiro trimestre, o setor imobiliário e de construção foi o que mais assistiu a acordos entre empresas nacionais - um total de 22. No acumulado do ano, é o segundo mais dinâmico, com 30 transações domésticas, atrás apenas do mercado de shopping centers, com 35.

"Há muitas companhias capitalizadas que precisam, agora, encontrar uma resposta para os investidores", afirma Ricardo Setton, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Agra. Desde que estreou na bolsa, em abril deste ano, a empresa criou duas empresas - a Agra Loteadora e a Agra Gerenciadora, a partir de companhias que já operavam no ramo -, e fechou três parcerias com incorporadoras regionais para futuros projetos. "Quando os recursos do IPO acabar, as empresas que não geraram os resultados esperados vão perder atratividade e haverá uma onda de consolidação no setor", diz Setton.

Cabeça-a-cabeça

No acumulado do ano, as transações domésticas ainda estão atrás das transnacionais: o placar é 258 contra 273. Mas o ritmo de expansão das negociações abarcando apenas companhias nacionais é bem maior que o crescimento das cross border, o que leva os especialistas a não se surpreenderem se o ano terminar com um empate ou, mesmo, com uma ultrapassagem.

Do primeiro para o segundo trimestre, o volume de transações domésticas saltou 107%, de 40 para 83. Entre julho e setembro, a expansão foi de 63%, somando 135 acordos. Já as transnacionais avançaram 37,5% e 3%, respectivamente, nos períodos citados. O resultado é que os acordos protagonizados apenas por brasileiros responderam por 57% do total de fusões e aquisições do terceiro trimestre. Em março, a taxa era de 36%. No acumulado do ano, elas já somam 48,5%.

Onde os negócios acontecem
Setor Número de transações domésticas (acumulado até setembro)
Shopping centers35
Construção e mercado imobiliário30
Outros24
Tecnologia da informação21
Alimentos, bebidas e tabaco20
Fonte: KPMG

Riscos passados

As transações domésticas já haviam superado as transnacionais em 2002 e 2003, mas por motivos bem distintos do que se vê hoje. Naqueles anos, uma conjuntura negativa inibiu o apetite dos investidores por novos negócios. No cenário interno, temiam-se as eventuais conseqüências da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, para a presidência. Foram meses de risco-país em disparada e câmbio nas alturas, entre outros dissabores. No plano externo, o mundo ainda se ressentia dos atentados terroristas conta os Estados Unidos, em 2001, a invasão do Iraque estava apenas no começo, e o mercado mundial de capitais era sacudido por escândalos corporativos como os da Enron e Tyco.

Tudo somado, o resultado foi uma baixa generalizada no volume de negócios. Entre 1996 e 2001, o número médio de fusões e aquisições anunciadas no Brasil foi de 342 por ano. Em 2002, caiu para 227 - sendo 143 domésticas. No ano seguinte, ficou em 230 - das quais, 116 domésticas. Somente em 2005, o país voltou a superar a marca dos 300 acordos, registrando 365 operações - 119 envolvendo apenas companhias de capital nacional.

"O fato é que as condições de mercado melhoraram no Brasil", diz Ramos, da KPMG. "Desde os IPOs, as empresas brasileiras passam por uma transformação relevante e ganham mais poder de fogo", acrescenta. Isso é vital, em um momento que os empresários acreditam ser a véspera de uma importante conquista para o país: a promoção do Brasil a grau de investimento, esperada para 2008 por economistas, empresários e governo. A nova nota atrairá para o país uma enxurrada de recursos estrangeiros que engrossarão a briga por ativos domésticos. Quanto melhor preparadas estiverem as companhias nacionais, melhor. "A disputa por ativos vai se acirrar nos próximos meses", diz Ramos.

Total de fusões e aquisições
Ano Domésticas Transnacionais Total
2006 183290473
2005 119246365
2004 100199299
2003 116114230
2002 14384227
2001 146194340
2000 123230353
1999 101208309
1998 130221351
1997 168204372
1996 161167328
1995 82130212
1994 8194175
Fonte: KPM

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