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Bom projeto garante só 10% do sucesso do negócio, diz especialista

Para a americana Poonam Sharma, autora de livros sobre empreendedores de Harvard, ter um bom projeto é apenas 10% do jogo. A questão é saber como transformá-lo num negócio bem sucedido. Nessa entrevista, ela dá algumas pistas

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Mesmo antes de se formar em economia em Harvard em 1999, a americana de origem indiana Poonam Sharma começou a promover o que chama de espírito empreendedor. Dos 20 aos 22 anos foi diretora do Clube dos Empreendedores de Harvard, uma organização que reúne alunos que se interessam pelo assunto e que querem abrir a sua empresa. Na época, escreveu o livro The Harvard Entrepreneurs Club - Guide to Starting your Own Business (O clube dos empreendedores de Harvard um guia para começar seu negócio próprio, sem tradução para o português). Nele discutia, entre outras coisas, como ter uma boa idéia e quais são os principais mitos de quem quer abrir um negócio próprio.

Desde então, Poonam trabalhou numa prestadora de serviços para startups, num negócio de private equity e hoje, aos 25 anos, está numa empresa de pesquisas de investimentos em Nova York. Nesta entrevista exclusiva a NOVOS NEGÓCIOS, Poonam usa muito do que já ouviu para responder algumas das principais dúvidas de quem pensa em seguir vôo solo.

Como ter uma boa idéia de negócio?

Uma boa idéia é aquela que permite que se faça algo melhor ou de forma mais barata do que aquilo que já existe. Ou que atenda a um mercado esquecido ou ainda que satisfaça a uma necessidade que ninguém tinha antes. Curiosidade e capacidade de resolver problemas são as características mais fortes das pessoas que têm boas idéias. Para isso, é preciso ter a mente aberta para absorver tudo o que acontece ao seu redor, e não apenas no seu grupo. Quem está sempre em contato com gente diferente pode tirar proveito da diversidade e aprender a encarar situações do ponto de vista do outro. Também é importante tentar entender como as coisas funcionam e questionar por que não poderiam ser diferentes. Por último, pense que se para você algo é uma necessidade, para os outros também pode ser.

Em seu livro, você mostra que há dois caminhos na busca pela idéia perfeita. No primeiro, a idéia nasce de dentro para fora. No outro, o movimento é contrário. Qual é o mais eficiente?

A tática de dentro para fora envolve a identificação de quais são as suas habilidades e da procura de qual problema você pode resolver melhor com elas, trazer aquilo que você aprendeu no mercado e aplicar. Já na tática de fora para dentro, você seleciona um mercado alvo, identifica um problema e encontra uma forma de resolvê-lo. Não dá para dizer qual das duas é mais eficiente. Por um lado, a expertise em determinado mercado facilita a identificação de problemas que precisam ser resolvidos e possibilita que se tenha idéias originais. Por outro, a perspectiva de quem está de fora pode resolver velhos problemas por meio de novas formas de pensar.

Por que é tão difícil fazer uma boa idéia se transformar num negócio bem sucedido?

Um dos maiores mitos do empreendedorismo é de que uma boa idéia é o que basta. Não é verdade. Ela é 10% apenas do jogo. A execução é a parte crucial. Há inúmeras novas tecnologias interessantes que nunca decolam, produtos que não são colocados no mercado de forma correta, negócios que falham porque as pessoas não os administraram da maneira certa. Conhecer as condições do mercado e ter estratégia são a chave. Além disso, a execução apropriada exige planejamento, acompanhamento, paciência e muito trabalho duro.

Pesquisas mostram que maioria dos novos negócios quebra no primeiro ano. Como evitar que isso aconteça?

Acho importante estudar os seus concorrentes bem sucedidos, mas também aqueles que falharam. Somos levados a acreditar que é fácil porque só temos notícias do que deu certo. Todos dizem que devemos aprender com os próprios erros. Acho que temos que aprender com os erros dos outros. E, de forma geral, a maioria dos empreendedores falham em três pontos.

Finanças: os empreendedores não investem dinheiro suficiente ou subestimam o tempo que o negócio vai demorar a dar lucro. No final, ficam sem dinheiro.

Timing: alguns ficam tão empolgados com a sua idéia ou com o seu produto, que deixam de considerar as condições do mercado. Ou, às vezes, ignoram as mudanças do mercado ao longo do tempo, o que altera a competitividade do seu negócio.

Pessoas: é comum que elas sejam avaliadas da maneira errada.

Por que você aconselha que amigos nunca se tornem sócios?

Amigos podem ser os melhores sócios se tiverem as melhores habilidades para assumir essa posição. O que eu defendo é que ninguém deve fazer uma sociedade com alguém só porque ele é seu amigo. Escolha seus sócios com base nas suas habilidades, na sua dedicação, na sua seriedade, e não na sua amizade. É claro que trabalhar com amigos parece divertido, mas também abre a possibilidade de que as pessoas abusem da amizade e esperem que não sejam responsabilizadas por suas ações.

Como definir o limite entre amizade e negócios?

Honestidade é sempre importante, bondade não. Quando há necessidade de tomar decisões difíceis, a tendência deve sempre ser a de proteger os interesses da empresa. Uma boa forma de não deixar a amizade influenciar as decisões é pensar no que você faria se a pessoa envolvida não fosse sua amiga.

Você afirma que a idade faz pouca diferença na hora de empreender. A experiência não continua a ser fundamental?

A melhor hora para começar um negócio é quando você é jovem, porque o idealismo está mais forte do que nunca e porque as suas obrigações e responsabilidades são menores. Mas não se pode negar que aos mais novos pode faltar a experiência do mundo dos negócios e a credibilidade que ela dá. Os jovens empreendedores precisam andar numa linha tênue entre concordar com conselheiros mais experientes e ter autoconfiança suficiente para manter as suas próprias convicções. Eles devem compensar a falta de experiência se cercando das pessoas certas.

Você aponta como uma das características dos bons empreendedores a capacidade de se recuperar de um fracasso. Qual é a melhor forma de fazer isso?

Acho que é fundamental separar as suas ações de você mesmo. O fracasso deve ser encarado apenas como uma lição para aprender e um outro problema para resolver. É assim que os empreendedores crescem.

Muita gente acredita que os únicos que se dão bem são os filhos de bilionários ou de pessoas influentes. Isso é um mito?

É claro que segurança financeira e conexões familiares ajudam na hora de abrir um negócio. Mas há muitos empreendedores que começaram sem nenhum suporte desse tipo. Acredito que a essência do empreendedor nada tem a ver com a sua origem e sim com o que vem de dentro dele. A falta de suportes externos não deve impedir que alguém aspire seus objetivos.

O empreendedor deve ser necessariamente um líder?

Um empreendedor começa do nada e constrói uma organização ao seu redor. Ainda que nem todo empreendedor seja um líder fantástico, ele precisa ter habilidade para inspirar pelo menos algumas pessoas para que elas trabalhem na sua idéia, confiem na sua visão e o sigam algo que pode até fracassar. Se o empreendedor não for capaz de ganhar a confiança dos outros, possivelmente o negócio não sairá do chão.

Qual é a hora de desistir?

Ao embarcar num negócio novo é importante considerar os custos de oportunidade envolvidos. Meu conselho é perguntar a si mesmo quanto você está disposto a perder. E, então, parar para refletir quando você chegar nesse ponto.

Por que, na sua opinião, Madonna é um bom exemplo de espírito empreendedor?

Empreendedorismo é uma arte, não uma ciência. Madonna é o seu próprio produto. Tem feito um marketing eficiente em muitos mercados por vários anos porque analisa o mercado da música pop, antecipa novas tendências, e envolve seus consumidores (seus fãs) com uma versão melhorada dela mesma de tempos em tempos.

Algumas pessoas têm dificuldades em dar o primeiro passo. Por quê?

Seres humanos têm horror da rejeição. Ficam paralisados com o medo de que algo não vai dar certo. Com isso, em muitos casos, algumas pessoas nem tentam. Meu único conselho nessa situação é: tente ser honesto com você mesmo. Um empreendimento é um grande compromisso. Como na busca de qualquer tipo de excelência, ninguém melhor do que você mesmo para se motivar. Para se sentir comprometido e para dar o seu melhor.

Quais são as características essenciais dos empreendedores de sucesso?

Não há um teste que aponte quais empreendedores terão sucesso, mas o espírito empreendedor tem alguns elementos fundamentais. Número 1: automotivação. Os empreendedores sempre fazem as coisas acontecerem. Eles definem onde querem chegar ou o que querem fazer, e perseguem esse objetivo. Não precisam de ninguém para incitá-los a agir, pois têm uma confiança interior, um compromisso com sua visão. A idéia é o combustível que faz a automotivação funcionar. Número 2: filosofia do risco estratégico. Há um mito que diz que os empreendedores amam risco, que eles são super-homens que ignoram a prudência. Mas não é o que acontece normalmente. Os empreendedores mais bem sucedidos simplesmente administram o risco de forma diferente. Ao pensar estrategicamente, planejando seus passos com antecedência, conseguem aumentar o risco que podem tolerar. Número 3: autoconhecimento. É importante que o empreendedor seja honesto com ele mesmo sobre as suas forças e fraquezas. Identificar pontos fracos lhe dá a oportunidade de unir forças com pessoas cujas habilidades complementam as suas.

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