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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.
Os analistas estão céticos sobre as vantagens que a Caraíba Metais e a Cibrafértil trariam para a Vale do Rio Doce. Nesta terça-feira (1/7), a mineradora informou que estuda a aquisição das duas companhias, hoje controladas pela holding Paranapanema. Para o mercado, o negócio não teria muita lógica para a maior produtora de minério de ferro do mundo. "A notícia não faz sentido em princípio, pois os ativos em questão têm pouco ou nenhum interesse para a Vale e acrescentariam pouco ao seu portfólio", afirma relatório da Fator Corretora.
O principal argumento dos analistas é que as empresas em estudo, embora operem jazidas de minerais, também se estendem até fabricação do produto final - algo que está fora dos interesses atuais da Vale. A Caraíba Metais é uma produtora integrada de cátodos de cobre e detém 36% de participação de mercado. Também fabrica vergalhões e fios de cobre. A Cibrafértil fornece superfosfato simples e fertilizantes. "Não acreditamos que a aquisição desses ativos deva ser o foco da Vale, ou mesmo que este evento, caso concretizado, tenha influência significativa sobre os fundamentos da empresa", afirma a Brascan. Para outra corretora, a SLW, a única medida que faria sentido seria a compra da mina de cobre que a Caraíba possui no Nordeste.
A situação financeira das empresas também causa dúvidas entre os observadores. A Caraíba Metais, por exemplo, importa concentrado de cobre do Chile para manter sua produção de cátodos. O alto custo da aquisição desse insumo está pesando negativamente no seu desempenho. No ano passado, a Caraíba registrou lucro bruto negativo e margem de ebitda de 2,1%. Para a Brascan, um modo de a Vale resolver o problema seria a utilização do cobre proveniente de Sossego para abater os custos da Caraíba. No ano passado, a receita líquida da empresa foi de 3,032 bilhões de reais.
Já a Cibrafértil registrou receita líquida de 75 milhões de reais no ano passado - para se ter uma idéia, a da Vale superou os 60 bilhões de reais. Os analistas acreditam que a mineradora teria que investir algum capital para que a Cibrafértil ganhasse importância dentro do grupo. "Ainda que a Vale tenha plenas condições para suportar estes desembolsos, acreditamos que os recursos poderiam ser melhor aproveitados em ativos como minério de ferro, carvão e até mesmo cobre", diz a Brascan. Os analistas ressaltam, porém, que ainda aguardam mais informações, já que a própria Vale afirmou que as aquisições ainda estão em estudo, não havendo nenhuma proposta formal.
Negócio micado
Se concretizados, os negócios envolveriam a Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, nas duas pontas. A Previ controla, desde 1996, a Paranapanema. A holding tornou-se uma das maiores dores-de-cabeça do fundo (clique aquipara ler reportagem de EXAME sobre os problemas da Previ com a empresa). Desde que a assumiu, a Previ já desembolsou 1,5 bilhão de reais para recuperá-la. No total, os acionistas aportaram nesse período 3 bilhões de reais. Em meados de junho, os sócios decidiram injetar mais 600 milhões de reais para reestruturar a dívida da empresa, a fim de torná-la mais atraente para potenciais compradores. A dívida da Paranapanema é avaliada em 1,2 bilhão de reais. Nessa operação, a Previ vai injetar mais 150 milhões. Na ponta compradora, a Previ divide, com a Bradespar e a japonesa Mitsui, o controle da Vale.
A notícia continua impulsionando os papéis da Paranapanema na bolsa. Depois de dispararem nesta terça (1/7), as ações preferenciais ( PMAM4, sem direito a voto) seguem em alta nesta quarta (2/7). Por volta das 13h15, os papéis subiam 1,22%, cotados a 8,30 reais. Já as ordinárias (PMAM3, com direito a voto) recuavam 1,94%, a 6,08 reais. No mesmo instante, o Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista, apresentava queda de 1,34%, a 62.546 pontos. Os papéis da Vale caíam ainda mais - as preferenciais (VALE5) perdiam 3,67%, a 44,35 reais; e as ordinárias (VALE3) baixavam 4,02%, a 52,80 reais.