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A gigante das águas

Depois da reestruturação, a Sabesp consegue melhorar seus serviços -- e sua imagem

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

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    Durante a campanha para governador de São Paulo em 1994, Mário Covas descobriu que a pior empresa de serviços públicos do estado, na avaliação da população, era a Sabesp, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. "Ele não queria carregar esse ônus político na sua gestão", diz o executivo Ariovaldo Carmignani, nomeado presidente da Sabesp em 1995, após a vitória do candidato tucano. "Para mudar o quadro, começamos a aumentar nossa capacidade de gerar receita e retomamos os investimentos", afirma. A gestão foi descentralizada, com a criação de 16 unidades de negócio, separadas de acordo com as bacias hidrográficas do estado e cada qual com sua meta de performance. Houve também corte de funcionários: desde 1995, cerca de 8 000 pessoas aderiram ao plano de demissão voluntária.

    Na atual gestão, três estações de tratamento foram concluídas (São Miguel Paulista, ABC e Parque Novo Mundo), enquanto a de Barueri foi duplicada. O abastecimento de água, que atingia 96% da população, foi universalizado. A taxa de coleta de esgoto subiu de 70% para 79%. O nível de tratamento do esgoto coletado subiu de 29% para 65%. Com números como esses, o serviço de coleta e tratamento de esgotos da Sabesp é mais eficiente que o de alguns países europeus, como França, Bélgica e Portugal. É um feito considerável para uma empresa que, em número de clientes atendidos, é a terceira maior do mundo entre as concessionárias de serviços de água e esgoto.

    A Grande São Paulo é responsável por 75% da receita da Sabesp, que atingiu quase 1,6 bilhão de dólares no ano passado. Aqui estão os maiores desafios, devido ao crescimento desorganizado da cidade. "Estender os serviços de água e esgoto para regiões degradadas e periféricas sai muito caro", diz Carmignani. "Isso aumenta o preço das tarifas." Outra dificuldade é o alto índice de perda de água (causado por problemas como vazamentos), que chega a 20%. As chamadas perdas "não físicas"envolvem falhas na cobrança e atingem cerca de 10% da operação da Sabesp -- são fruto de ligações clandestinas, fraudes e má medição do consumo.

    Em 1997 e 1998, a Sabesp investiu mais de 1 bilhão de reais por ano. Em 2001, foram 719 milhões -- como os maiores gastos com infra-estrutura já foram feitos, os investimentos atuais são menores. Nos primeiros anos da atual gestão, o principal objetivo foi equiparar a produção de água à necessidade de abastecimento. "Até 1997, a oferta de água era muito menor do que a demanda", diz Carmignani. "De 1998 a 2000, apesar de enfrentarmos a maior estiagem dos últimos 65 anos, conseguimos manejar o sistema com poucas restrições." Além de aumentar a capacidade de produção, a Sabesp investiu na intercomunicabilidade do sistema: um manancial pode cobrir a falta de água de outro.

    A redução nos problemas de abastecimento contribuiu para diminuir o descontentamento do consumidor: em 2001, a Sabesp ficou em oitavo lugar entre as empresas que mais motivaram reclamações ao Procon de São Paulo. "Há sete anos, éramos os campeões", diz Carmignani. Além de reclamar menos, a população passou a reconhecer mais a marca da empresa. Uma pesquisa do instituto Indicator, realizada no estado em novembro do ano passado, apontou que a Sabesp era a líder no top of mind das empresas de serviços públicos: foi lembrada por 30% dos 250 entrevistados. Em segundo lugar, com 14% das primeiras citações, ficou a Eletropaulo. Em 1998, num levantamento similar, as posições estavam invertidas: 25% lembravam-se primeiro da companhia de eletricidade, contra 18% da Sabesp.

    Em 1997, a Sabesp abriu seu capital. A segunda rodada de venda de ações ocorreu em maio deste ano. Hoje, cerca de 28% delas estão em poder do público -- os outros 72% permanecem nas mãos do estado. A legislação atual exige que pelo menos dois terços das ações da Sabesp fiquem com o governo.

    No balanço divulgado pela estatal referente ao segundo trimestre de 2002, o Ebitda foi de 485 milhões de reais. Mas o prejuízo líquido foi de 329 milhões de reais, puxado pela dívida em dólar. "Nossa dívida é basicamente de longo prazo, de dez a 25 anos", diz Paulo Domingos Galletta, diretor econômico-financeiro da Sabesp. Em 30 de junho, cerca de 42% da dívida era em moeda estrangeira -- entre 1995 e 1998, com a estabilidade do real, a empresa fez empréstimos no exterior para aproveitar taxas de juro mais baixas que a brasileira. "O grande impacto da dívida em moeda estrangeira se dará de 2003 em diante", afirma Galletta.

    A Sabesp atua diretamente em 366 dos 645 municípios do estado. Várias prefeituras preferem comprar a água no atacado e cuidar elas mesmas da distribuição e do tratamento. Em 1995, a Águas de Limeira (associação entre a Odebrecht e o grupo francês Ondeo) tornou-se a primeira empresa privada a cuidar de serviços de saneamento no Brasil. Em São Paulo, hoje há cinco cidades atendidas por operadores privados. Para Carmignani, ainda é cedo para falar em concorrência. "Essas primeiras experiências ainda não fazem muita diferença", afirma. "O mercado carece de competitividade."

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