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"Wall Street está fazendo mais dinheiro do que nunca", diz historiador americano

O historiador Charles Geisst refuta a idéia de que Nova York vai perder a liderança do mercado financeiro mundial

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.

A cidade de Nova York é o principal centro financeiro do mundo e o coração do capitalismo americano. E, na visão do historiador e professor de Finanças Charles Geisst, do Manhattan College de Nova York, Wall Street está longe de perder sua supremacia no cenário internacional. Confira a entrevista exclusiva com um dos mais respeitados historiadores econômicos dos Estados Unidos, autor de livros sobre Wall Street.

EXAME - Nova York sempre foi o principal centro financeiro do mundo?

Charles Geisst - Não, Londres ocupou esse lugar do século 18 até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Após a guerra, Nova York ganhou esse posto porque os Estados Unidos saíram do conflito em uma posição mais confortável do que a Inglaterra. A cidade então se tornou a opção das empresas e governos que costumavam levantar fundos em Londres.

EXAME - E o que Wall Street representa hoje?

Geisst - Acredito que Wall Street representa o coração do capitalismo americano. Essa região de Nova York é vista por muitas pessoas como um microcosmo, uma amostra do que a sociedade de negócios significa para o país. Se você olhar para Wall Street, você consegue ver o que há de bom e mau no negócio financeiro americano. Ela dá a idéia de acumulação de fortuna e de inovação. É como alquimia, você pode fazer ouro a partir de uma pedra. Wall Street hoje passa essa idéia de que possui um poder mágico.

EXAME - No ano passado, a Bolsa de Valores de Nova York perdeu o posto de líder mundial em IPOs, as ofertas iniciais de ações na bolsa. O senhor acredita que a cidade está perdendo a posição de capital financeira do mundo?

Geisst - Eu acho que muitas empresas foram atraídas por outros centros financeiros devido à regulações mais simples oferecidas por eles, mas por um outro lado, eu não tenho certeza de que isso seja suficiente para afirmar que a cidade está perdendo sua posição de favorita. Se você olhar por um outro lado da moeda, os últimos dois anos foram anos de lucro recorde para Wall Street. Eles estão fazendo mais dinheiro do que já fizeram antes.

EXAME - Mas então o que significa o fato da Bolsa de Valores de Londres e a AIM, seu braço para novas empresas, obterem um volume maior em IPOs do que Nova York?

Geisst - Eu acho que Londres está ganhando em algumas áreas porque Nova York não pode mais suportar o volume de negócios. É muito trabalho, então Londres se beneficia disso. Nova Yokr pode estar perdendo alguns negócios, mas não a sua estatura. Acredito que, uma vez que a demanda diminua, Londres irá perder negócios também.

EXAME - Por que o senhor acha então que, preocupados com o futuro do país como centro financeiro - em especial da metrópole de Nova York - o prefeito da Big Apple, Michael Bloomberg, e o senador democrata Charles Schumer, de Nova York encomendaram da consultoria McKinsey um estudo sobre o assunto?

Geisst - O relatório de que Bloomberg fala é baseado na idéia de que os investidores estão com medo e indo embora, especialmente depois que foi promulgada a Lei Sarbanes-Oxley, em 2002. Eu acho que isso pode ser parcialmente correto, mas, por um outro lado, há muita razão para essa lei existir, acho que ela faz mais bem do que mal. Eu não olharia simplesmente pelo fato de ser muito cara para administrar. Se você tem de afugentar, eu acho que é melhor afugentar as empresas.

EXAME - Qual seria o motivo desse relatório, então?

Geisst - Acho que o problema do prefeito e do senador é basicamente político. Eles estão usando esse relatório para assegurar que terão doações políticas vindas de Wall Street, e o melhor jeito para fazer isso é fingir que você é amigo deles.

EXAME - Mas as empresas não estão mesmo tendo problemas para operar em Nova York devido ao custo de regulamentação?

Geisst - Sim, vejo que as pequenas sofrem com o custo, mas as grandes empresas têm de pagar esse preço para manter a integridade. É por isso que vejo como importante a idéia da regulação, é isso que faz Wall Street ser efetiva para a maioria das pessoas.

EXAME - Hipoteticamente, o que aconteceria se Nova York perdesse a sua posição de centro financeiro do mundo?

Geisst - Wall Street é hoje a fonte principal de receita de impostos da cidade e a maior fonte singular de demanda de consumidores. Por isso, é seguro afirmar que Nova York estaria literalmente perdida sem Wall Street.

EXAME - Como o senhor vê o futuro dos centros financeiros mundiais?

Geisst - Acredito que Londres e Wall Street serão provavelmente iguais, mas sem Nova York perder seu poder. Existe um grande mercado para as duas regiões. Mas ainda penso que Wall Street tem mais poder porque, caso ocorra alguma crise no sistema financeiro, o único lugar que vai sobreviver é aquele que é mais regulado. E isso significa Wall Street.

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