Voluntariado de resultados
A Serasa incentiva o engajamento dos funcionários e troca o modelo de simples doações por consultorias completas em gestão de instituições beneficentes
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h26.
Todo mês de novembro, 64 instituições beneficentes de várias cidades brasileiras recebem a visita de funcionários da Serasa e de seus familiares. Eles se dividem em turmas, identificadas por camisetas de cores diferentes, e se dedicam a atividades como jardinagem, pintura, organização da farmácia, da biblioteca e até mesmo da contabilidade do lugar. Organizados de acordo com a afinidade pessoal de cada participante, os grupos têm sempre um líder, que não ocupa cargo de chefia na empresa. "Eu e os diretores participamos, mas nunca assumimos a coordenação do grupo. Além de fazer a integração entre nossos funcionários, a iniciativa é uma oportunidade para descobrirmos bons potenciais de liderança", diz Elcio Aníbal de Lucca, presidente da Serasa. Ao todo, o Dia do Voluntário, promovido pela empresa, movimenta 2 500 pessoas em 18 municípios.
No dia-a-dia, a Serasa acompanha as atividades de 104 instituições de caridade, o que envolve o trabalho de 946 funcionários. Mais do que fazer doações, a Serasa, uma das maiores empresas do mundo em análise de crédito, preocupa-se em desenvolver para essas entidades projetos completos de gestão. As equipes dão apoio permanente em atividades como marketing, planejamento estratégico e técnicas de qualidade total. "Fazer voluntariado não é dar dinheiro. É dar o recurso necessário para criar a infra-estrutura", afirma De Lucca. Nos últimos meses, a ONG paulistana Núcleo Assistencial Irmão Alfredo pôde constatar os benefícios provocados pela mudança de postura na gestão. Fundada em 1982, a entidade, que oferece cursos de capacitação para 500 crianças e adolescentes, começou o ano de 2007 com duas grandes empresas doadoras. Hoje, depois de um ano de aprendizado com a Serasa, tem 12 parceiros do porte de Alcoa, Cargill e Nokia. "A Serasa nos ensinou a profissionalizar a captação de recursos", diz a pedagoga Sônia Costa, responsável pelas relações institucionais da ONG.
Edifício amigável
A sede da Serasa, um edifício erguido na zona sul de São Paulo, é a parte mais visível da busca da empresa pela sustentabilidade. Nela trabalham 1 595 funcionários. Inaugurado há cinco anos, o edifício é considerado exemplar pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e venceu, em 2003, um prêmio de mobilidade e sustentabilidade concedido pelo Secovi, sindicato do setor imobiliário. O prédio, construído de vidro e alumínio, preserva árvores de 50 anos. Há rampas com inclinação inferior a 15 graus, portas com largura adequada a cadeirantes, corrimões e outros recursos para facilitar a movimentação de portadores de deficiência. Os funcionários também têm à disposição salão de beleza, espaço para meditação e uma igreja. Além disso, a Escola Serasa oferece desde aulas de alfabetização até cursos em nível superior e de pós-graduação, ministrados em parceria com a Universidade de Santo Amaro e com a Fundação Getulio Vargas. "O tripé formado por atenção à sociedade, cuidado com a natureza e bom ambiente corporativo é fundamental, mas não é suficiente", diz De Lucca. "É preciso que a empresa tenha um modelo de gestão que integre esses aspectos. Nada pode ser pontual."
Em junho, 65% do capital da Serasa foi adquirido pelo grupo britânico Experian, por 2,3 bilhões de reais. O contrato prevê uma opção de compra do restante das ações nos próximos cinco anos. Atualmente, a empresa lidera o mercado de análise de crédito na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Com isso, a dúvida de especialistas é se o novo controlador vai perpetuar as políticas de sustentabilidade da Serasa (procurado por EXAME, o Experian não quis falar sobre o assunto).
Avaliação da empresa |
Pontos fortes - Mantém um programa de inclusão de pessoas com deficiência que é reconhecido pela Organização das Nações Unidas. - Oferece aos funcionários cursos do ensino básico à pósgraduação. - Incentiva as entidades que recebem ajuda a repensar sua gestão. |
Pontos fracos - Não tem 10% de negros em cargos de gerência nem de diretoria. - Agestão é centralizada na figura do presidente,que está no cargo há 16 anos. - Sofreu,nos últimos três anos, ações judiciais relativas à violação de normas de defesa do consumidor - segundo a Serasa,as ações foram movidas por consumidores insatisfeitos com bancos ou empresas que não retiraram seus nomes da lista de maus pagadores. |