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Uma relação delicada

Destaque no mercado financeiro mundial por suas políticas de sustentabilidade, a Aracruz tenta pôr fim aos conflitos com índios e com o MST

Aguiar, presidente da Aracruz (--- [])

Aguiar, presidente da Aracruz (--- [])

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h26.

No final de agosto, o Ministério da Justiça publicou uma portaria determinando a demarcação de 11 000 hectares de terras indígenas no município de Aracruz, no Espírito Santo. A área era motivo de disputa entre a Aracruz, maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, e índios guaranis e tupiniquins. Estudos da Fundação Nacional do Índio (Funai) apontaram que as terras tomadas por eucaliptos da Aracruz eram originalmente ocupadas por índios. A empresa, porém, afirma ter comprado legalmente as terras em 1967. "Tínhamos dois caminhos a seguir depois da decisão do ministério: ir à Justiça ou aceitar a decisão", diz Carlos Aguiar, presidente da Aracruz. "Escolhemos a segunda opção."

Com a entrega das terras, a Aracruz espera enterrar de vez uma fonte de graves problemas. Em maio de 2005, índios guaranis e tupiniquins invadiram as terras em litígio no Espírito Santo para pleitear a ampliação de sua reserva. Um ano depois, bloquearam a entrada de uma fábrica da Procter & Gamble na Alemanha e pediram que a multinacional suspendesse a compra de celulose da Aracruz. Mas o pior estava por vir. Em dezembro passado, cerca de 200 índios e ativistas do Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra (MST) paralisaram por dois dias as atividades do Portocel, terminal da Aracruz no Espírito Santo. "O objetivo era pressionar o governo federal a fazer a demarcação das terras", diz Carlos Alberto Roxo, diretor de sustentabilidade e relações corporativas da Aracruz.

Esses percalços causaram algum prejuízo, mas não abalaram a imagem internacional da Aracruz. Em 2007, a companhia se manteve, pelo terceiro ano seguido, na lista de empresas que compõem o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, da Bolsa de Valores de Nova York. O indicador, que reflete as melhores práticas em sustentabilidade corporativa no mundo, é composto de 318 empresas de 24 países, incluindo sete brasileiras -- a Aracruz é a única indústria florestal no planeta a figurar no índice. Primeira empresa latino-americana a assumir metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, hoje a Aracruz tem um estoque de créditos de carbono de 15 milhões de toneladas. Todas as suas florestas plantadas são certificadas pelo Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor), que atesta a racionalidade no uso dos recursos florestais. Na Bahia, as florestas da Veracel, uma associação entre a Aracruz e a sueco-finlandesa Stora Enso, já se encontram em processo de obtenção da certificação internacional emitida pelo Forest Stewardship Council (FSC). Em 2008 será a vez de a Aracruz iniciar o processo. "Só não o fizemos antes porque o FSC dá peso às questões sociais e a disputa de terras com os índios atrapalhava", diz Aguiar. A certificação do FSC é importante e pode ajudar a Aracruz a abrir novos mercados no exterior.

Certificação internacional
Virada a página com as comunidades indígenas, a empresa ainda tem o desafio de lidar com o MST. Neste ano, a Aracruz sofreu invasões de áreas em Prado, na Bahia, e em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. "O MST já deixou claro que seu objetivo principal é a luta contra o agronegócio. Pensamos em projetos em conjunto, mas o movimento tem recusado qualquer tipo de cooperação", diz Roxo. O executivo cita o Produtor Florestal como exemplo de programa que poderia gerar renda para os assentamentos. Hoje, a iniciativa envolve 3 000 pequenos proprietários rurais, que recebem mudas de eucalipto, financiamento, assistência técnica e garantia de compra da madeira. Esses produtores devem fornecer neste ano 12% do suprimento de madeira da Aracruz. "A idéia é que eles respondam por 30% de nossas necessidades no longo prazo", diz Aguiar.

Avaliação da empresa
Pontos fortes
- É a única empresa florestal no mundo a figurar no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, da bolsa de Nova York.
- Começou a usar os indicadores Global Reporting Initiative (GRI) no relatório de 2006, padronizando e melhorando a prestação de contas da empresa.
- Adota transparência em relação a multas e autuações que recebeu de órgãos ambientais.
Pontos fracos
- Apesar de admitir doações a candidatos e partidos na última eleição,não informa,em seu relatório, quais foram os beneficiados.
- Não possui processos formalmente implementados para erradicar o trabalho infantil.
- Não tem uma política de valorização da diversidade no quadro de funcionários.
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