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Um difícil equilíbrio de forças

Ao conselho de administração cabe a difícil tarefa de dosar a pressão por resultados de curto prazo com as questões que vão garantir a perenidade da empresa

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h26.

Desde que a Organização das Nações Unidas cunhou a expressão "desenvolvimento sustentável", empresas de todo o mundo atentaram para o fato de que era preciso "satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras suprirem suas próprias necessidades". O alerta feito duas décadas atrás levou várias delas a incorporar a seu cotidiano o triplo alicerce social, ambiental e econômico-financeiro. Caberia ao conselho de administração dessas companhias integrar esses pilares à estratégia de negócios e zelar para que os fundamentos fossem preservados.

Essa é a teoria.

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Na prática, porém, os conselhos de administração em todo o mundo se vêem cada vez mais em meio a um embate de forças antagônicas. De um lado, as crescentes pressões de investidores por resultados de curto prazo. De outro, o escrutínio e as exigências dos chamados stakeholders, membros da sociedade (como funcionários, ativistas e fornecedores) que também têm interesse nas atividades da companhia.

Nesse jogo de forças, o mundo já presenciou distorções de ambos os lados. A inclusão de representantes de stakeholders no conselho provou-se uma utopia romântica. Em países como Japão e Alemanha, onde surgiu a tradição de nomear funcionários para o conselho, não se viram bons resultados em momentos de crise, o que exigiu corte de custos e demissões. O veto dos funcionários configurou-se uma barreira intransponível a algumas decisões favoráveis à perenidade da empresa e circunstancialmente desfavoráveis a um grupo de empregados. (A Varig é um exemplo brasileiro em que o interesse dos pilotos com poder de decisão comprometeu de maneira irreversível a sobrevivência da empresa.) De outro lado, o drástico efeito da intensa pressão por resultados financeiros redunda em escândalos corporativos e na cada vez mais efêmera passagem de executivos pela cadeira de presidente -- sobretudo nas empresas americanas.

A boa notícia é que o poder dessas duas forças tende a se equiparar. A pressão pelo lucro trimestre a trimestre sempre vai existir. Ao mesmo tempo, observa-se hoje, mesmo em países como os Estados Unidos, onde tradicionalmente predomina a pressão dos investidores, a crescente defesa dos interesses da sociedade e do próprio planeta. Mais importante: as mudanças no universo empresarial americano ecoam nas maiores corporações do mundo. O próprio empenho dos mercados em estabelecer critérios rígidos para selecionar empresas com uma postura responsável, no caso dos índices de sustentabilidade, aponta essa tendência. Os conselheiros das empresas, porém, terão mais dificuldade para desempenhar suas tarefas nesse novo modelo -- intermediar e filtrar tantos interesses será ainda mais complexo. O segredo está em não cair na armadilha de privilegiar uma ou outra parte acima do interesse maior -- a perenidade da companhia.

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