Sudão (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2012 às 16h49.
Juba - A independência do Sudão do Sul, que completará seu primeiro aniversário nesta segunda-feira, não trouxe a paz e a prosperidade que o povo esperava depois de décadas de instabilidade, já que a contínua tensão com seu vizinho Sudão se mostra cada vez mais complexa.
O jovem país, que nasceu no dia 9 de julho de 2011 após um referendo em que 98% da população votaram a favor da secessão, vive agora em uma verdadeira guerra fronteiriça e econômica com o Sudão por causa do petróleo, assim como diversos problemas internos, muitos relacionados à insegurança e à corrupção.
Após a independência, emoldurada no acordo de paz assinado em 2005 entre o norte e o sul do Sudão, o fechamento da fronteira por parte do vizinho do norte provocou uma alta dos preços dos bens de primeira necessidade, em sua maioria importados.
O presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, admitiu recentemente que 45 dirigentes do país roubaram US$ 4 bilhões destinados aos serviços públicos básicos, em um país que é marcado por altíssimas taxas de mortalidade materna, pouca escolarização e pelo alerta de uma crise alimentícia.
O nome desses funcionários continua no anonimato e a conta criada pelo Governo para recuperar estes fundos públicos só conta com US$ 60 milhões.
Levando em conta que o petróleo representa quase 98% da receita do governo e 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a cessação da produção de petróleo provocou um grande desastre na economia e uma escassez que desvalorizou a moeda do país em 40%.
O Sudão do Sul decidiu suspender sua produção no final do janeiro e acusou o país vizinho de querer se apropriar das reservas e impor abusivas taxas para transitar o petróleo em seu território.
Mais de 75% do petróleo que o Sudão exportava antes da independência do Sudão do Sul procedia dos campos situados em território sulista, enquanto a infraestrutura necessária para sua comercialização se encontra no norte.
Para buscar uma solução para este problema, Yuba defende a construção de um oleoduto através do Quênia, mas os analistas apontam que este projeto requereria pelo menos três anos e um investimento de bilhões de dólares.
O cru e as zonas petrolíferas fronteiriças em disputa entre ambos os países foram o estopim de contínuos confrontos, que viveram seu ponto auge quando as tropas do sul ocuparam a área de Heglig durante dez dias.
Ambos os países protagonizaram várias rodadas de negociações para dar uma saída aos problemas pendentes com mediação da União Africana, mas, por enquanto, estas reuniões não deram frutos e os dois lados se acusam de apoiar rebeldes contrários aos seus Governos.
Além disso, o Sudão do Sul sofre frequentes choques entre tribos rivais que, segundo a ONU, já provocaram a morte de 900 pessoas desde sua independência, assim como ataques de grupos armados opositores em regiões como Unity e Jonglei.
De acordo com a investigadora da Human Rights Watch (HRW) Jehanne Henry, especialista nesta região, a violência tribal evidencia a necessidade que estes crimes não fiquem impunes, assim como os cometidos por policiais e soldados.
Em declarações à Agência Efe, Jehanne lamentou o fato de não ter registrado nenhum progresso em matéria de direitos humanos durante este um ano, já que 'as leis pertinentes que foram redigidas ainda não foram aplicadas em sua totalidade'.
Nas vésperas da celebração de seu primeiro aniversário de independência, o Sudão do Sul enfrenta inúmeros desafios para dar esperanças ao povo, que sofreu duas décadas de guerra civil em sua luta por este sonho. EFE