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Reino Unido precisará fazer concessões ao negociar com a UE, diz Bercow

John Bercow, ex-presidente da Câmara dos Comuns no parlamento britânico, adverte da dificuldade de um acordo com a UE

Presidente da Câmara dos Comuns do Reino Unido, John Bercow, anuncia que irá renunciar (Parliament TV/Reuters)

Presidente da Câmara dos Comuns do Reino Unido, John Bercow, anuncia que irá renunciar (Parliament TV/Reuters)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 14h00.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2020 às 15h00.

Depois de deixar a União Europeia na primeira semana de fevereiro, o Reino Unido começou a costurar novos acordos comerciais com o bloco europeu, seu maior parceiro econômico. Essa negociação não deve ser fácil ou simples e resultará em acomodações e concessões, diz John Bercow, ex-presidente da Câmara dos Comuns do Reino Unido.

"A ideia de que vamos bater na mesa e conseguir o que queremos, sem acomodações, é irrealista", disse o político, na Conferência de Risco dos Países, organizado pela seguradora de crédito Coface, que aconteceu esta semana, em Paris, França.

Bercow, festejado pelos defensores da permanência do país na UE e hostilizado por muitos cidadãos pró-Brexit, deixou a casa em outubro do ano passado, depois de 10 anos no cargo e após pouco mais de três anos do referendo que decidiu pela saída do país da UE.

“Não se deve esperar que a União Europeia sacrifique seus valores pelos do Reino Unido. Será preciso fazer acomodações, isso é uma negociação”, disse ele no evento.

Há poucos dias, Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, afirmou que o país não irá se alinhar às regras da União Europeia em relação a padrões ambientais, regulações trabalhistas e ajuda estatal nas negociações comerciais.

O acordo deve ser fechado até o fim do ano, enquanto o Reino Unido está em período de transição. "Se houver um acordo, acredito que deve ser minimalista, um esboço em relação ao comércio de produtos", afirma Bercow.

Atenção aos detalhes

Segundos ele, quando os eleitores britânicos votaram pelo Brexit em 2016, expressaram seu descontentamento com políticas do governo, principalmente em relação a imigração, mas não pensaram nas minúcias de acordos comerciais entre o Reino Unido e outros países. "O papel do Parlamento é discutir o que o governo oferece, escrutinar e desafiar", diz o político.

Para ele, esse papel de olhar atentamente para os detalhes e contra-argumentos de uma política é um contraponto a uma tendência na política. "Um grande problema para as democracias parlamentares é o fenômeno crescente do 'populismo pop up'", diz ele. Segundo Bercow, há cada vez mais pessoas que acreditam haver soluções simples para problemas complexos.

As redes sociais, bem como os "slogans simplistas" do presidente americano Donald Trump, são alguns dos sintomas dessa política, afirma. Esse pensamento levou a pressões ao parlamento britânico, para que os detalhes em relação ao Brexit fossem decididos mais rapidamente, acredita Bercow. O Parlamento tem todo direito de olhar todos os detalhes, ver o que terá impacto ou não será bom para o lugar do Reino Unido no mundo", disse.

“Maior erro”

No ano passado, em sua primeira entrevista depois de deixar a Câmara, Bercow descreveu o Brexit como "o maior erro desde a segunda Guerra Mundial". De acordo com ele, o mundo está dividido em blocos econômicos e de comércio e que o Reino Unido seria muito mais forte ao fazer parte de um bloco.

"O Reino Unido deixou seu maior bloco econômico e seu maior parceiro comercial", disse ele ontem em evento da Coface. "Agora o Reino Unido precisa encontrar seu papel no mundo."

Exame viajou a Paris a convite da Coface.

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