Mundo

Putin promete respeitar decisão dos ucranianos nas eleições

Presidente russo anunciou que vai trabalhar com o chefe de Estado eleito nas votações gerais de domingo

Putin participa do fórum econômico, em São Petersburgo (RIA-NOVOSTI/AFP)

Putin participa do fórum econômico, em São Petersburgo (RIA-NOVOSTI/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2014 às 10h14.

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta sexta-feira que vai respeitar a escolha do povo ucraniano e trabalhar com o chefe de Estado eleito, amenizando as tensões a dois dias das eleições gerais de domingo, rejeitadas pelos separatistas pró-Rússia do leste.

Falando no Fórum Econômico de São Petersburgo (noroeste da Rússia), o chefe do Kremlin escolheu cuidadosamente suas palavras para dizer que respeitará a expressão do povo ucraniano nas urnas, sem, contudo, afirmar que reconhecerá o presidente e sua legitimidade.

"Segundo a Constituição, não pode haver eleição porque o presidente (Viktor) Yanukovytch (...) é o presidente em exercício", declarou Putin.

"Mas nós também queremos que a calma retorne (à Ucrânia). Vamos respeitar a escolha do povo ucraniano", acrescentou, garantindo que Moscou vai "trabalhar com as novas autoridades".

Mais uma vez, ele denunciou um "golpe de Estado" apoiado pelos americanos, referindo-se ao movimento que derrubou Yanukovytch em fevereiro.

"A crise ucraniana foi desencadeada porque Yanukovytch adiou o acordo de associação com a União Europeia. A isso se seguiu um golpe de Estado apoiado por nossos amigos americanos e o resultado é o caos e uma verdadeira guerra civil", declarou.

Putin também comentou que sanções impostas à Rússia em função de sua posição na crise ucraniana terão um efeito bumerangue contra o Ocidente.

"Não é evidente que as sanções econômicas utilizadas como um instrumento de pressão política no mundo atual terão um efeito bumerangue e vão se refletir nas relações e na economia dos países que estão em sua origem?", questionou.

"O modelo de um mundo unipolar fracassou", declarou ainda, referindo-se à política dos países ocidentais depois do fim da Guerra Fria.

A Ucrânia vai às urnas no domingo, em meio a uma crise política que levou o país à beira da guerra civil e da divisão, desencadeando a maior crise diplomática entre russos e ocidentais desde o fim da Guerra Fria.

"Saudando" as declarações de Putin, o chefe da diplomacia ucraniana, Andrei Dechtchitsa, disse "esperar que elas sejam seguidas por iniciativas concretas".

Já o chefe do Estado-Maior do Exército russo, general Valeri Guerassimov, afirmou que as tropas russas mobilizadas perto da fronteira com a Ucrânia vão retornar às suas bases nos próximos vinte dias, conforme ordenado por Putin.


Confrontos não dão trégua

Enquanto isso, os combates continuavam nesta sexta-feira. Na véspera, o Exército ucraniano registrou a morte de 18 soldados. Essas foram as suas baixas mais pesadas desde o início da operação militar no dia 13 de abril, destinada a retomar o controle das regiões de Donetsk e de Lugansk.

Na manhã desta sexta, quatro insurgentes pró-russos e três voluntários que pertencem aos batalhões que apoiam o Exército ucraniano morreram em combates perto do povoado de Karivka, na estrada que dá acesso ao noroeste de Donetsk, segundo um fotógrafo da AFP no local.

Na cidade de Slaviansk, reduto símbolo da insurreição separatista pró-russa, também houve confrontos.

Fim da campanha eleitoral

A violência comprometeu a campanha eleitoral que terminou à meia-noite desta sexta.

O grande favorito, o magnata pró-ocidental Petro Poroshenko, cancelou seu último ato em "razão da tragédia", referindo-se à morte dos soldados ucranianos na quinta.

Seus principais adversários, a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko e o pró-russo Serguei Tiguipko, participaram de debates transmitidos pela televisão, com a Tymoshenko defendendo um referendo sobre uma possível adesão à Otan para enfrentar "uma guerra não declarada", e o Tiguipko apelando para uma normalização das relações econômicas com a Rússia.

Em um breve discurso, o presidente interino, Olexander Turchynov, convocou todos os ucranianos a irem às urnas no domingo para dar um "poder legítimo" ao país.

"Não deixaremos que nos privem de nossa liberdade e de nossa independência, e não deixaremos que a Ucrânia seja transformada em um pedaço do império pós-soviético", lançou Turchynov, garantindo que as autoridades fazem todo o possível para a realização das eleições.

'Problemas' para organizar a votação

Mais de 36 milhões de eleitores foram convocados a votar, enquanto Kiev mobilizou 55.000 policiais e 20.000 voluntários para garantir a segurança do processo eleitoral.

De acordo com as últimas informações da Comissão Eleitoral, mais da metade dos colégios eleitorais das regiões de Donetsk e Lugansk não poderão abrir.

O chefe do Conselho de Segurança Nacional e de Defesa, Andrei Parubiy, já reconheceu que haverá "problemas" na organização das eleições nessa parte do país.

Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel, que considera as eleições uma etapa fundamental para estabilizar a Ucrânia, pediu a Vladimir Putin que reconheça a avaliação da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e de seus observadores internacionais sobre as eleições.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, indicou que uma "eleição bem sucedida" seria uma "etapa fundamental" para amenizar as tensões na Ucrânia.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEuropaPolíticosRússiaUcrâniaVladimir Putin

Mais de Mundo

Orsi visita seu mentor Mujica após ser eleito presidente do Uruguai

Califórnia promete intervir se Trump eliminar incentivos fiscais a veículos elétricos

Trump diz que taxará produtos do México e Canadá assim que assumir a presidência

Mais de R$ 4,3 mil por pessoa: Margem Equatorial já aumenta pib per capita do Suriname