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Polarizada eleição no Peru deve manter pautas progressistas longe do país

Embora seja disputada por um candidato de esquerda e um de direita, ambos defendem a concepção tradicional de família, são contrários à legalização da maconha e não dão importância a direitos da população LGBT

Eleições Peru: Castillo e Keiko se enfrentam no 2° turno (Sebastian CASTANEDA / POOL/AFP)
TL

Thiago Lavado

Publicado em 5 de junho de 2021 às 17h45.

Última atualização em 5 de junho de 2021 às 17h48.

Quem quer que ganhe a votação presidencial polarizada de domingo entre o esquerdista Pedro Castillo e a direitista Keiko Fujimori, o Peru continuará a manter um perfil conservador com a recusa de legislar sobre aborto, casamento homossexual e identidade de gênero.

A única coisa em que ambos os candidatos concordam ideologicamente é na defesa da "família tradicional", recorrendo inclusive a referências bíblicas.

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"O religioso não divide os seguidores de Fujimori ou Castillo, eles são todos conservadores, assim como o povo peruano", disse à AFP o analista Luis Pásara.

Esta abordagem está em sintonia com boa parte da sociedade peruana, que tem valores enraizados por causa de sua formação católica e que se recusa a reconhecer os direitos das minorias.

Fujimori é católica, assim como Castillo, cuja esposa é evangélica.

"Não há luta política entre eles por essas questões", acrescenta Pásara.

"Voto crítico"

Embora a filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori defenda o livre mercado e o professor da escola rural defenda um papel econômico ativo do Estado, ambos têm mais pontos em comum do que diferenças nas questões que fazem parte da agenda do século 21 em muitos países.

Ambos são contra o aborto, defendem a ideia de família tradicional — formada por um homem e uma mulher — e não dão importância aos direitos da comunidade LGBTI. Os dois também se opõem à legalização da maconha e à eutanásia.

Soma-se a isso o questionamento da abordagem sobre gênero na educação sexual nas escolas, questão contra a qual as Igrejas católica e evangélica fazem causa comum no Peru.

"É uma pena que não haja um candidato no segundo turno que aborde a luta pela comunidade LGBTI, mas eu voto no senhor Castillo", afirmou a ativista trans Gahela Cari à AFP, que considera a esquerda como "o mal menor".

"É um voto crítico, porque apesar de seu machismo e de sua tremenda ignorância sobre essas questões, pelo menos há possibilidade de lutar por reformas".

"Agora a única opção é bloquear o caminho para o fujimorismo, porque foram eles que obstruíram a luta pela conquista de direitos", acrescenta a ativista, que apoiou a candidata de esquerda Verónika Mendoza no primeiro turno eleitoral.

Compromisso bíblico

"Sempre defenderei a vida, desde a concepção até a morte natural", disse Fujimori à rádio RPP ao expressar sua rejeição ao aborto.

Ela é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, embora admita que os direitos patrimoniais devam ser para esses casos reconhecidos.

Por seu lado, Castillo declara "defender a família na escola. Pensar em outra coisa é quebrar a família".

O professor, que como a rival, às vezes cita trechos da Bíblia, expressou em várias entrevistas sua recusa em legalizar o aborto, o casamento igualitário e a eutanásia.

"Não legalizaria o aborto de forma alguma e, pior ainda, o casamento igualitário", declarou à rádio RPP em abril.

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