O presidente americano Donald Trump em encontro com Patrick Shanahan em maio (Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 31 de dezembro de 2018 às 12h56.
Patrick Shanahan, um homem pouco conhecido até o momento, assumirá na terça-feira (1) como secretário de Defesa dos Estados Unidos, após ser o segundo à frente desta pasta e em um período complicado para o Exército do país.
Shanahan, de 56 anos, nunca serviu no Exército e passou a maior parte da sua carreira no setor privado, no seio da fabricante americana de aviões Boeing.
O presidente Donald Trump anunciou sua nomeação como secretário de Defesa interino após a renúncia de Jim Mattis, em 20 de dezembro.
O general, que encarnava certa estabilidade em uma administração marcada por sobressaltos, abandonou o seu cargo devido a discordâncias com Trump, especialmente com relação à retirada das tropas americanas da Síria.
Mattis havia indicado a sua intenção de deixar a Secretaria de Defesa no final de fevereiro para facilitar a transição com seu sucessor, mas Trump, aparentemente incomodado com a cobertura midiática de sua renúncia, adiantou a data para 1º de janeiro.
"Será fantástico", tuitou o presidente sobre Shanahan, subsecretário de Defesa desde meados de 2017.
O trabalho que espera por ele não é simples. Deverá dirigir a retirada dos 2.000 soldados americanos mobilizados na Síria, a saída parcial das tropas do Afeganistão e gerir o impacto dessas decisões em ambos os países, tanto para a população local como para os aliados dos Estados Unidos.
Apesar das vozes mais céticas em relação a sua nomeação, os assessores de Shanahan, um homem meticuloso e de modos tranquilos, assegura que ele está preparado para realizar a sua missão.
"Teve 18 meses para observar as operações, esteve em todas as reuniões, em todas as conversas", declarou à AFP seu porta-voz, o tenente-coronel Joe Buccino.
- 'Uma raposa no galinheiro' -
Shanahan nasceu no estado de Washington, no noroeste do país. Passou 31 anos na Boeing, onde chegou a ser vice-presidente encarregado de logística e operações, e também diretor-geral do Boeing Missile Defense Systems.
Sua experiência como diretor e seus conhecimentos técnicos lhe foram úteis como subsecretário de Defesa, um cargo menos político no qual importa, sobretudo, saber gerir essa enorme administração.
Durante o seu processo de confirmação no Senado, o republicano John McCain, que comandava então a comissão das Forças Armadas, assinalou as suas lacunas diplomáticas.
O senador republicano, falecido em agosto de 2018, considerou que a falta de precisão em algumas respostas de Shanahan era "quase insultante". Para ele, além disso, nomear um ex-diretor da indústria aeronáutica no Pentágono era como "colocar uma raposa no galinheiro".
- Força espacial -
Em seu cargo de adjunto, Shanahan ajudou a modificar o orçamento do Pentágono para enfrentar as ameaças geradas por Rússia e China.
Também apoiou com entusiasmo a ideia de Trump de criar uma "força espacial" como o sexto braço das Forças Armadas até 2020.
Se quiser deixar de ser secretário da Defesa "interino", terá que adentrar um terreno mais político. Primeiro, para tranquilizar os aliados dos Estados Unidos, os quais muitas vezes Trump acusa de depender demasiadamente do Exército americano. E também para acalmar os impulsos do presidente, mas sem se indispor com ele.
O presidente republicano não hesita em demitir quem o contraria, como o ex-secretário de Estado Rex Tillerson, ou o ex-secretário-geral da Casa Branca John Kelly.
"Durante toda a sua vida adulta, Shanahan mostrou sua voz dissidente aos seus chefes quando foi necessário", assegura um responsável que o conhece bem. "Não duvidará em continuar assim".