Exame Logo

Operação no Egito deixa mais de 140 mortos

Gorverno egípcio decretou estado de emergência e toque de recolher no Cairo e outras 11 províncias do país

Apoiador de Mursi ferido após ofensiva policial: Irmandade Muçulmana afirmou que o número de mortos supera 600, mas a informação não foi confirmada por fontes independentes (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2013 às 14h07.

As forças de segurança egípcia cumpriram as ameaças e entraram nesta quarta-feira em duas praças do Cairo tomadas por partidários do presidente islamita destituído Mohamed Mursi, em uma operação que provocou dezenas de mortos, segundo as autoridades, e milhares, segundo os manifestantes.

Horas depois do início da operação, o gorverno egípcio decretou estado de emergência e toque de recolher no Cairo e outras 11 províncias do país.

A operação causou repúdio imediato da comunidade internacional, e levou o vice-presidente interino Mohamed ElBaradei a apresentar sua demissão

Segundo o ministério da Saúde, o balanço oficial e parcial até o momento é de 149 mortos.

Algumas horas depois dos primeiros tiroteios e disparos de gás lacrimogêneo, um jornalista da AFP contou 124 corpos em um dos necrotérios improvisados apenas na praça Rabaa al-Adawiya.

Este balanço não leva em conta possíveis mortos em outras áreas da capital, como a praça Nahda, outro reduto das manifestações.

Os manifestantes, por sua vez, falam de mais de 2.200 mortos e 10.000 feridos, cifras que não foram confirmadas ainda por fontes independentes.

Entre as vítimas fatais da operação, estão um cinegrafista do canal britânico Sky News, Mick Deane, e a filha de 17 anos de um dos principais líderes da Irmandade Muçulmana.


Os médicos presentes em um hospital de campanha com o chão repleto de sangue trabalhavam em condições de grande pressão e se viam obrigados a abandonar os caso mais graves para tratar os feridos com mais possibilidades de sobreviver.

A operação começou no início da manhã com uma grande mobilização de tropas policiais e militares, apoiadas por máquinas, ao redor das praças Rabaa al-Adawiya e Al-Nahda, ocupadas há um mês e meio pelos islamitas que exigiam a libertação e retorno ao poder de Mursi, derrubado e detido em 3 de julho pelo exército.

A Irmandade Muçulmana, movimento de Mursi, afirmou que o número de mortos supera 600, mas a informação não foi confirmada por fontes independentes. O balanço das autoridades se limitava a sete mortos, dois deles integrantes das forças de segurança.

O ministério do Interior informo que a praça Al-Nahda estava sob controle total das forças de segurança.

Em Rabaa, porém, disparos de armas automáticas ainda eram ouvidos e o gás lacrimogêneo era utilizado contra as barracas, enquanto os alto-falantes tocavam cânticos religiosos no volume máximo.

Islamitas convocam mobilização para conter "massacre"

A Irmandade Muçulmana convocou uma mobilização geral para conter o massacre.

"Isto não é uma tentativa de dispersão, e sim uma sangrenta tentativa de esmagar todas as vozes de oposição ao golpe militar que derrubou Mursi", escreveu no Twitter o porta-voz da Irmandade, Gehad al-Haddad.

Os organizadores dos protestos pedem aos egípcios que "tomem as ruas para deter o massacre", completou.

O governo suspendeu todas as conexões ferroviárias com o Cairo para dificultar os protestos.


Os islamitas tentavam bloquear várias avenidas e confrontos foram registrados em diversos bairros da capital, assim como em outras cidades.

Na província de El Menia (centro), partidários de Mursi incendiaram três igrejas coptas, informou a agência oficial Mena.

Os coptas, que representam entre 6% e 10% da população egípcia, tiveram uma participação ativa no movimento popular que provocou a derrubada de Mursi.

A mesquita Al-Azhar do Cairo, principal autoridade sunita do mundo que havia apoiado a destituição do presidente Mohamed Mursi, se distanciou da violenta operação para desocupar as praças.

"Al-Azhar informa aos egípcios que não tinha conhecimento dos métodos utilizados para dispersar os protestos, a não ser pelos meios de comunicação", afirmou o imã Ahmed al-Tayyeb.

Tayyeb condenou o uso da violência e pediu aos dois lados que tenham moderação e pensem nos interesses da nação.

"O uso da violência nunca foi uma alternativa para uma solução política", disse.

Tayyeb reiterou o pedido por uma solução negociada para a crise, que paralisa o país.

A prestigiosa instituição provocou a revolta da Irmandade Muçulmana ao apoiar o exército na derrubada de Mursi.

Partidários e adversários do presidente deposto já haviam se enfrentado na terça-feira. O confronto deixou um morto e 10 feridos no Cairo.

A violência já havia provocado mais de 250 mortes desde o fim de junho, antes da repressão desta quarta-feira.


Preocupação internacional

A situação no Egito, o mais populoso dos países árabes, preocupa a comunidade internacional.

O chefe das Nações Unidas, Ban Ki-moon condenou com veemência a intervenção das forças de segurança contra a população egípcia e criticou as autoridades no poder por terem optado pelo uso da força, segundo seu porta-voz.

"Diante das violências de hoje, o secretário-geral apela a todos os egípcios que concentrem seus esforços na promoção genuína, inclusive na reconciliação", afirmou o porta-voz Martin Nesirky.

Os Estados Unidos também condenaram energicamente a violência contra os manifestantes e criticaram a imposição de um estado de emergência no país.

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, pediu que os militares egípcios mostrem moderação na operação de dispersão dos partidários de Mursi.

A União Europeia convidou as partes envolvidas a exercer a máxima moderação nesta crise.

"Apelo às forças de segurança para exercer máxima moderação e todos os cidadãos egípcios para evitar mais provocações e uma escalada da da violência", declarou a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton.

O Irã, por sua vez, igualmente criticou a matança e afirmou estar acompanhando de perto a situação.


Mursi, o primeiro presidente do Egito eleito democraticamente, foi derrubado em 3 de julho pelo exército, respaldado por um amplo movimento popular. A justiça prolongou na segunda-feira por 15 dias sua detenção para investigar denúncias sobre sua eventual colaboração com o movimento palestino Hamas.

A Irmandade Muçulmana, declarada ilegal em 1954, foi reprimida pelos sucessivos governos egípcios, mas voltou a atuar legalmente após a queda de Hosni Mubarak em fevereiro de 2011 e venceu as eleições legislativas e presidenciais do mesmo ano.

Veja também

As forças de segurança egípcia cumpriram as ameaças e entraram nesta quarta-feira em duas praças do Cairo tomadas por partidários do presidente islamita destituído Mohamed Mursi, em uma operação que provocou dezenas de mortos, segundo as autoridades, e milhares, segundo os manifestantes.

Horas depois do início da operação, o gorverno egípcio decretou estado de emergência e toque de recolher no Cairo e outras 11 províncias do país.

A operação causou repúdio imediato da comunidade internacional, e levou o vice-presidente interino Mohamed ElBaradei a apresentar sua demissão

Segundo o ministério da Saúde, o balanço oficial e parcial até o momento é de 149 mortos.

Algumas horas depois dos primeiros tiroteios e disparos de gás lacrimogêneo, um jornalista da AFP contou 124 corpos em um dos necrotérios improvisados apenas na praça Rabaa al-Adawiya.

Este balanço não leva em conta possíveis mortos em outras áreas da capital, como a praça Nahda, outro reduto das manifestações.

Os manifestantes, por sua vez, falam de mais de 2.200 mortos e 10.000 feridos, cifras que não foram confirmadas ainda por fontes independentes.

Entre as vítimas fatais da operação, estão um cinegrafista do canal britânico Sky News, Mick Deane, e a filha de 17 anos de um dos principais líderes da Irmandade Muçulmana.


Os médicos presentes em um hospital de campanha com o chão repleto de sangue trabalhavam em condições de grande pressão e se viam obrigados a abandonar os caso mais graves para tratar os feridos com mais possibilidades de sobreviver.

A operação começou no início da manhã com uma grande mobilização de tropas policiais e militares, apoiadas por máquinas, ao redor das praças Rabaa al-Adawiya e Al-Nahda, ocupadas há um mês e meio pelos islamitas que exigiam a libertação e retorno ao poder de Mursi, derrubado e detido em 3 de julho pelo exército.

A Irmandade Muçulmana, movimento de Mursi, afirmou que o número de mortos supera 600, mas a informação não foi confirmada por fontes independentes. O balanço das autoridades se limitava a sete mortos, dois deles integrantes das forças de segurança.

O ministério do Interior informo que a praça Al-Nahda estava sob controle total das forças de segurança.

Em Rabaa, porém, disparos de armas automáticas ainda eram ouvidos e o gás lacrimogêneo era utilizado contra as barracas, enquanto os alto-falantes tocavam cânticos religiosos no volume máximo.

Islamitas convocam mobilização para conter "massacre"

A Irmandade Muçulmana convocou uma mobilização geral para conter o massacre.

"Isto não é uma tentativa de dispersão, e sim uma sangrenta tentativa de esmagar todas as vozes de oposição ao golpe militar que derrubou Mursi", escreveu no Twitter o porta-voz da Irmandade, Gehad al-Haddad.

Os organizadores dos protestos pedem aos egípcios que "tomem as ruas para deter o massacre", completou.

O governo suspendeu todas as conexões ferroviárias com o Cairo para dificultar os protestos.


Os islamitas tentavam bloquear várias avenidas e confrontos foram registrados em diversos bairros da capital, assim como em outras cidades.

Na província de El Menia (centro), partidários de Mursi incendiaram três igrejas coptas, informou a agência oficial Mena.

Os coptas, que representam entre 6% e 10% da população egípcia, tiveram uma participação ativa no movimento popular que provocou a derrubada de Mursi.

A mesquita Al-Azhar do Cairo, principal autoridade sunita do mundo que havia apoiado a destituição do presidente Mohamed Mursi, se distanciou da violenta operação para desocupar as praças.

"Al-Azhar informa aos egípcios que não tinha conhecimento dos métodos utilizados para dispersar os protestos, a não ser pelos meios de comunicação", afirmou o imã Ahmed al-Tayyeb.

Tayyeb condenou o uso da violência e pediu aos dois lados que tenham moderação e pensem nos interesses da nação.

"O uso da violência nunca foi uma alternativa para uma solução política", disse.

Tayyeb reiterou o pedido por uma solução negociada para a crise, que paralisa o país.

A prestigiosa instituição provocou a revolta da Irmandade Muçulmana ao apoiar o exército na derrubada de Mursi.

Partidários e adversários do presidente deposto já haviam se enfrentado na terça-feira. O confronto deixou um morto e 10 feridos no Cairo.

A violência já havia provocado mais de 250 mortes desde o fim de junho, antes da repressão desta quarta-feira.


Preocupação internacional

A situação no Egito, o mais populoso dos países árabes, preocupa a comunidade internacional.

O chefe das Nações Unidas, Ban Ki-moon condenou com veemência a intervenção das forças de segurança contra a população egípcia e criticou as autoridades no poder por terem optado pelo uso da força, segundo seu porta-voz.

"Diante das violências de hoje, o secretário-geral apela a todos os egípcios que concentrem seus esforços na promoção genuína, inclusive na reconciliação", afirmou o porta-voz Martin Nesirky.

Os Estados Unidos também condenaram energicamente a violência contra os manifestantes e criticaram a imposição de um estado de emergência no país.

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, pediu que os militares egípcios mostrem moderação na operação de dispersão dos partidários de Mursi.

A União Europeia convidou as partes envolvidas a exercer a máxima moderação nesta crise.

"Apelo às forças de segurança para exercer máxima moderação e todos os cidadãos egípcios para evitar mais provocações e uma escalada da da violência", declarou a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton.

O Irã, por sua vez, igualmente criticou a matança e afirmou estar acompanhando de perto a situação.


Mursi, o primeiro presidente do Egito eleito democraticamente, foi derrubado em 3 de julho pelo exército, respaldado por um amplo movimento popular. A justiça prolongou na segunda-feira por 15 dias sua detenção para investigar denúncias sobre sua eventual colaboração com o movimento palestino Hamas.

A Irmandade Muçulmana, declarada ilegal em 1954, foi reprimida pelos sucessivos governos egípcios, mas voltou a atuar legalmente após a queda de Hosni Mubarak em fevereiro de 2011 e venceu as eleições legislativas e presidenciais do mesmo ano.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEgitoViolência política

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame