Ofensiva do regime sírio em Ghouta continua pela quarta semana
As forças do regime conseguiram neste sábado isolar Douma em uma operação que deixou 1.139 civis mortos, entre eles 240 crianças desde 18 de fevereiro
AFP
Publicado em 12 de março de 2018 às 06h38.
A ofensiva devastadora das forças do regime sírio em Ghuta Oriental entrou neste domingo em sua quarta semana, com o enclave dividido em três e dezenas de corpos sob escombros de prédios derrubados pelos bombardeios.
As forças do regime, apoiadas pela Rússia, conseguiram neste sábado isolar Douma, principal cidade deste último reduto rebelde nos arredores de Damasco, em uma operação que deixou 1.139 civis mortos, entre eles 240 crianças, e mais de 4.400 feridos desde 18 de fevereiro, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
O regime está decidido a reconquistar o reduto rebelde, de 400 mil habitantes, sitiado desde 2013. Os rebeldes lançam regularmente obuses contra a capital desde Ghuta, que, neste domingo, mataram quatro civis, segundo a TV estatal.
Nos três setores em que Ghuta Oriental foi dividida, foram registrados combates no domingo hoje, em que morreram ao menos 23 pessoas, segundo o OSDH, principalmente na cidade de Harasta.
Em Damasco, que sofre com o disparo de obuses regularmente, morreram quatro civis, segundo os meios oficiais.
Neste mesmo dia, as forças do regime recuperaram o setor estratégico de Madira (centro), apesar da forte resistência dos rebeldes, indicou a ONG. A agência de notícias oficial Sana informou que o Exército havia avançado no setor com o objetivo de cortar as vias de comunicação.
Poucos recursos
Um correspondente da AFP em Douma comprovou a quantidade de corpos que se acumulavam no necrotério ante a impossibilidade de enterrá-los, já que o cemitério está na mira das forças pró-regime presentes às portas da cidade.
Ainda restam corpos presos sob os escombros em vários setores, já que as equipes de resgate não conseguem removê-los, segundo o Observatório.
O OSDH citou pessoas que davam conta da morte em Misraba de 35 familiares, cujos corpos continuavam sob os escombros dois dias depois dos bombardeios.
"Todos os corpos que conseguimos retirar foi graças a recursos muito limitados", contou Hasan, 30, membro da Defesa Civil em Hammuriyeh, centro do enclave. Segundo ele, mais de 20 famílias permanecem sob os escombros. "Tampouco temos meios para socorrer os sobreviventes."
Os bombardeios baixaram de intensidade em Douma e Hammuriyeh, enquanto os combates prosseguiam nos arredores.
Negociações
A relativa calma em Hammuriyeh pode estar ligada a negociações sobre possíveis evacuações.
Um comitê formado por autoridades locais reuniu-se ontem com representantes do regime, informou à AFP uma fonte deste comitê.
"Discutimos uma proposta de reconciliação que garantiria a saída para quem desejar, seja civil ou rebelde, de Hammuriyeh e outras regiões da Síria sob controle dos rebeldes", indicou a fonte.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, cujo exército combate na Síria as milícias curdas sírias, criticou a Otan por não apoiar sua operação militar iniciada em 20 de janeiro na região de Afrin, para tirar as Unidades de Proteção do Povo (YPG), que considera "terroristas".