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O que a visita de Biden a Israel pode significar para a guerra? Especialistas explicam

Segundo especialista ouvidos pela EXAME, Biden deve reforçar o apoio ao aliado histórico e ampliar conversas para ajudas humanitárias aos civis na Faixa de Gaza

O presidente americano, Joe Biden, faz um pronunciamento na Casa Branca

 (AFP/AFP)

O presidente americano, Joe Biden, faz um pronunciamento na Casa Branca (AFP/AFP)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 18 de outubro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 18 de outubro de 2023 às 09h49.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realiza uma visita nesta quarta-feira, 18, a Israel em meio à preparação do país para invadir a Faixa de Gaza e pedidos internacionais para um corredor humanitário para saída de civis das zonas de confronto.

Segundo o secretário de Estado americano, Antony Blinken, o encontro de Biden com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu servirá para reafirmar "a solidariedade dos Estados Unidos a Israel e o compromisso ferrenho com sua segurança". Essa será a décima primeira viagem de Biden a Israel, segundo a agência Reuters. A primeira foi como senador, em 1973, antes da Guerra do Yom Kippur, que envolveu Israel, Egito e Síria.

Além da visita a Israel, Biden viajaria para a Jordânia, onde se reuniria com o rei Abdullah II; o líder palestino, Mahmud Abbas, e o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi. O encontro, porém, foi cancelado após um bombardeio em um hospital no centro da Faixa de Gaza. Autoridades palestinas registram mais de 500 mortos. 

Segundo especialistas ouvidos pela EXAME, Biden deve reforçar o apoio ao aliado histórico e ampliar conversas para ajudas humanitárias aos civis na Faixa de Gaza. É esperado que o americano assuma um papel de mediador do conflito para possíveis negociações para o fim da guerra.

Ao explicar o alinhamento entre Israel e Estados Unidos, o professor de relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Bernardo Wahl, explica que a aliança entre os países passa por ajuda financeira, apoio diplomático e com armamento.  "Isso se deve em parte a afinidades ideológicas, interesses estratégicos comuns e influência do lobby pró-Israel nos Estados Unidos. Essa parceria também enfrentou desafios e controvérsias, especialmente relacionados ao conflito israelense-palestino, mas, no geral, continua a ser uma aliança significativa no Oriente Médio", explica. 

A fala de Wahl é reforçada por pesquisas de opiniões nos EUA. De acordo com o levantamento Reuters/Ipsos, 41% dos entrevistados concordaram com a frase" os EUA deveriam apoiar Israel" e apenas 2% demonstraram o mesmo apoio aos palestinos. 

Apoio e alerta

No último domingo, em entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS, ao falar sobre o conflito, o presidente democrata reafirmou o apoio a Israel, mas disse que seria um erro o país manter uma ocupação militar na Faixa de Gaza após a invasão planejada para os próximos dias.

O professor de políticas internacional da FGV, Daniel Rio Tinto, aponta que Biden deve falar a Benjamin Netanyahu sobre a necessidade de Israel seguir as regras de guerra. "A visita de Biden é um sinal de apoio, mas também é para dizer a Israel que tenha moderação e observe a importância do sistema internacional baseado em regras", diz Tinto. 

O professor acrescenta ainda que a ideia dos Estados Unidos será a de manter os israelenses abertos a um diálogo sobre o conflito com os americanos e com a comunidade internacional. O fato de Biden se deslocar para uma região em conflito será colocada como preponderante para Israel ouvir o americano.  " O fato de o presidente se deslocar em meio a um conflito aumenta a importância da visita. Isso serve para a audiência doméstica nos EUA, para Israel e outros países na região, e para demonstrar o compromisso dos EUA na solução do conflito", complementa. 

O que a visita pode significar para os desdobramentos da guerra?

Ao projetar o significado da visita de Biden no futuro da guerra, o professor da FESPSP acredita que entre os principais objetivos do americano estará os esforços para promover negociações de paz ou cessar-fogo, além de ajuda humanitária. "Os EUA frequentemente desempenham um papel de mediador em conflitos no Oriente Médio, e a visita do presidente Biden pode ser uma tentativa de avançar nas negociações", afirma Wahl.

Ontem, uma reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para votar a proposta brasileira sobre a guerra entre Israel e Hamas foi adiada. Entre os principais pontos da resolução do Itamaraty estão a permissão de ajuda humanitária e a condenação dos taques terroristas do Hamas. A pesquisa Reuters/Ipsos mostrou que 78% dos norte-americanos, incluindo maiorias de democratas e republicanos, apoiam os esforços diplomáticos dos EUA para que os cidadãos da Faixa de Gaza possam fugir do conflito e se refugiar em um país seguro

Por outro lado, Wahl diz que acordos de cooperação militar, venda de armamentos ou a coordenação de estratégias militares nesse momento de conflito também podem acontecer visto a parceria militar significativa entre os países. "Biden está buscando mostrar liderança global: os presidentes dos EUA muitas vezes usam visitas a países estrangeiros, especialmente aliados, para demonstrar liderança global e destacar o compromisso dos EUA com a estabilidade e segurança em regiões-chave do mundo", explica. 

Fator Palestina

Apesar do posicionamento de Biden nos últimos dias a favor de uma solução que envolva a criação do Estado da Palestina, os especialistas acreditam que, no momento, será difícil o democrata liderar uma negociação com Israel nesse sentido, em meio a escalada do conflito. "Biden provavelmente vê utilidade em ser um mediador e está tentando avançar nessa questão, como o Brasil também está fazendo. Ser um protagonista na resolução desse conflito é uma meta importante para muitos países. Quanto aos limites dessa abordagem, isso é uma incógnita", afirma Daniel Rio Tinto, da FGV.

Na mesma linha, Wahl, da FESPSP, acredita que o tema terá holofotes, mas está longe de ser resolvido. "Embora possam ganhar destaque nas narrativas diplomáticas, há um longo caminho pela frente para que as negociações pela demanda do Estado palestino possam evoluir e eventualmente se concretizar", diz.

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