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O mundo fica aterrorizado pelas novas decapitações do EI

A decapitação de Peter Kassig e de 18 soldados no fim de semana provocou repulsa, com países reafirmando determinação para eliminar o Estado Islâmico

Peter Kassig, refém americano que foi decapitado pelo Estado Islâmico nesse fim de semana (Kassig Family/Handout via Reuters)

Peter Kassig, refém americano que foi decapitado pelo Estado Islâmico nesse fim de semana (Kassig Family/Handout via Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2014 às 12h26.

Beirute - A decapitação do refém americano Peter Kassig e de 18 soldados sírios no fim de semana provocou repulsa em todo o mundo, com os países da coalizão reafirmando sua determinação para eliminar o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

A Casa Branca confirmou a autenticidade do vídeo divulgado no domingo e que mostra a cabeça do jovem refém americano de 26 anos depois de sua execução pelos jihadistas.

"É um ato de pura maldade cometido por um grupo terrorista que o mundo considera, com razão, como desumano", denunciou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

As ações do grupo "não representam qualquer fé, e certamente não a fé muçulmana que Abdul Rahman havia adotado", acrescentou, citando o nome adotado por Peter Kassig depois de sua conversão ao Islã.

Muitos líderes também condenaram as execuções, que são "uma nova ilustração da determinação do Estado Islâmico/Daesh em continuar seu programa de terror", segundo a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Ela reiterou nesta segunda-feira que a União Europeia continuará "totalmente comprometida com a luta" contra os jihadistas no Iraque e na Síria. Vários países da UE participam dos ataques aéreos contra posições do EI em território iraquiano.

Além das execuções, diplomatas e especialistas questionam a forma incomum do vídeo que foi transmitido no domingo pelo órgão midiático dos grupos jihadistas da Al-Furqan.

A gravação é completamente diferente das anteriores do EI anunciando as execuções dos quatro reféns ocidentais decapitados desde meados de agosto: os jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff e os voluntários humanitários britânicos Alan Henning e David Haines.

Rosto descoberto

Mais longo do que os anteriores, este vídeo de quinze minutos se inicia com a afirmação da vontade do EI de ampliar seu controle para além do Iraque e da Síria, onde proclamou um "califado" nas regiões sob seu controle.

Em seguida, exibe, usando closes e câmera lenta, a decapitação dos 18 "soldados de Bashar" al-Assad. Vemos o mesmo número de combatentes do EI com facas à mão forçando suas vítimas a deitar no chão e decapitá-las simultaneamente.

Pela primeira vez, mostra os rostos descobertos dos combatentes do EI, alguns com traços asiáticos e europeus.

Ao contrário dos vídeos anteriores de reféns, Kassig não é mostrado ao vivo e nenhuma ameaça é feita contra outro detento ocidental.

"Estamos enterrando o primeiro cruzado americano em Dabiq (cidade no norte da Síria), e esperamos impacientemente a chegada de outros soldados para que sejam degolados e enterrados da mesma maneira", ameaça o homem que parece ser o "Jihadi John", como é conhecido o suposto assassino dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff.

Os pais do refém americano declararam no domingo estar com o "coração partido ao saber que o nosso filho, Abdul-Rahman Peter Kassig, perdeu sua vida por causa de seu amor pelo povo sírio e seu desejo de aliviar seu sofrimento".

O jovem, um ex-soldado que havia servido no Iraque, fundou em 2012 uma organização humanitária, antes de ser raptado na Síria em 2013.

As bandeiras foram hasteadas a meio mastro nesta segunda-feira nos edifícios governamentais de sua cidade natal no estado americano de Indiana, cujo governador Mike Pence denunciou um "ato bárbaro sem nome".

O assassinato de Kassig foi associado pelo EI ao envio de cerca de 3.000 soldados e conselheiros militares americanos ao Iraque para ajudar o exército a lutar contra o grupo jihadista sunita.

"Há quatro anos vocês disseram que deixaram o Iraque (...) Na verdade, não fizeram mais que esconder algumas de suas tropas (...) Aquelas que se retiraram, voltaram em número muito maior", declara no vídeo o homem encapuzado, dirigindo-se ao presidente Obama.

Obama, que havia se mostrado inicialmente muito relutante em intervir, anunciou recentemente uma "nova fase" no Iraque, enviando 1.500 conselheiros adicionais.

O general americano Martin Dempsey visitou Bagdá no sábado para discutir com as autoridades iraquianas a estratégia para tornar operacionais o mais rapidamente possível as forças iraquianas e curdas.

Excluindo o envio de tropas terrestres, os Estados Unidos e seus aliados da coalizão aumentaram recentemente a frequência de seus ataques aéreos, permitindo que as forças iraquianas avançassem no norte do Iraque, onde retomaram o controle da cidade estratégica de Baiji.

Estrangeiros ativos

De acordo com o Daily Mail, um britânico de 20 anos estaria entre os jihadistas presentes no vídeo do EI, segundo informou o pai do rapaz ao jornal inglês.

"Não tenho certeza, mas parece ser meu filho", declarou Ahmed Muthana, 57 anos.

O britânico em questão seria Nasser Muthana, um estudante de medicina originário de Cardiff (Grã-Bretanha). O jornal britânico publicou fotos capturadas do vídeo mostrando seu rosto.

"Ele deve agora viver com medo de Deus por ter matado", afirmou o pai. Indagado pelo jornal se estaria disposto a perdoar o filho pelo que fez, ele foi taxativo: "Não. Ou ele está louco ou há algo de errado".

O Daily Mail também cita Charlie Winter, um especialista do centro de pesquisas Quilliam, que confirma que o rapaz do vídeo se parece com Nasser Muthana.

Muthana teria ido para a Síria, onde se encontrou com seu irmão mais novo, Aseel, de 17 anos, segundo a BBC.

"Estou pronto para morrer", teria dito Aseel em uma entrevista oline com a rádio inglesa. Ele acrescentou que não se importava com o que a família e os amigos pensavam dele.

Também nesta segunda-feira, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, declarou que há uma forte probabilidade de que um cidadão francês tenha participado diretamente na decapitação dos prisioneiros sírios.

"Pode tratar-se de Maxime Hauchard, nascido em 1992, no noroeste da França, e que partiu para a Síria em agosto de 2013, depois de uma estada na Mauritânia, em 2012", indicou o ministro, baseando-se numa análise do vídeo.

Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o EI já executou quase 1.500 pessoas na Síria desde que proclamou o início de seu "califado" há cinco meses.

"Documentamos a execução de 1.429 pessoas desde que o EI anunciou seu 'califado' em junho", afirmou Rami Abdel Rahman, diretor da ONG, que tem uma ampla rede de fontes em todo o território sírio.

"Das pessoas decapitadas ou vítimas de fuzilamentos em grupo, 879 eram civis, sendo 700 pertencentes aos Shaitat, tribo originária da província de Deir Ezzor, sunita assim como o EI, que se rebelou contra este grupo em meados de 2014.

Outras 63 vítimas pertenciam a outros grupos rebeldes ou aos rivais imediatos do EI na Síria, os jihadistas da Frente Al-Nusra que lutam contra o Estado Islâmico nas regiões norte e leste do país, informou Rahman.

"Além disso, 483 eram soldados do regime de Bashar al-Assad e quatro integrantes do próprio EI acusados de corrupção e outros supostos crimes", disse o diretor do OSDH.

*Atualizada às 13h26 do dia 17/11/2014

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