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O desafio de preservar uma cultura

O Real transforma seus funcionários em agentes multiplicadores de práticas sustentáveis. A dúvida é se o processo não será interrompido pelo novo controlador

Barbosa, presidente do Real (--- [])
DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h26.

Em junho, 200 executivos do banco Real foram submetidos a uma prova inédita na instituição. O grupo teve meia hora para dissertar sobre a importância da sustentabilidade e como o banco pode se beneficiar com o tema. Depois do teste, os executivos assistiram a uma palestra de Fábio Barbosa, presidente do Real. O evento fez parte de um programa para formar uma cultura de desenvolvimento sustentável dentro da instituição. Até o final de 2007 serão treinados quase 9 200 funcionários -- um investimento de aproximadamente 2 milhões de reais. Com esse treinamento, a instituição pretende formar líderes em sustentabilidade, que transmitam os conceitos aprendidos a seus subordinados, clientes, fornecedores e até mesmo a seu círculo de relacionamento pessoal. "O mais difícil de mudar é o comportamento das pessoas. Isso se consegue com muita consistência e perseverança, mostrando que há outra maneira de fazer negócios, na qual não é preciso apelar para o 'jeitinho' ou outros expedientes para atrair clientes", afirma Barbosa. De acordo com o executivo, é com o tempo e com o reforço da prática no dia-a-dia que a organização vai consolidando a nova cultura e criando um círculo virtuoso.

Durante o curso de sustentabilidade, são discutidos temas como direitos humanos, meio ambiente, economia solidária e empreendedorismo social. Os alunos visitam projetos dos quais o Real é parceiro e discutem de que forma é possível ampliar a teia de ação sustentável do banco. Eles são treinados para identificar riscos e oportunidades em diferentes situações, tanto do ponto de vista financeiro como do ecológico e social. Foi em um desses processos que Alexandre José da Silva, gerente regional de operações da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, deu início a um projeto de coleta de óleo de cozinha, que pode ser transformado em biodiesel. Contratado no início deste ano, Silva participou de três módulos do curso, ministrados em São Paulo. No primeiro deles, em uma discussão em grupo, surgiu a idéia de fazer a coleta de óleo de cozinha, que é uma forma de produzir energia limpa e, ao mesmo tempo, gerar renda para as pessoas que recolhem o óleo. De volta ao Rio, Silva submeteu a idéia a seu superintendente. Pouco tempo depois, as 21 agências da região instalaram equipamentos para a coleta do óleo. O engajamento dos funcionários foi surpreendente, segundo ele. "Flagrei muitos dos gerentes vendendo a idéia aos clientes como se fosse um produto financeiro", afirma o executivo. Além disso, as agências conseguiram cooptar donos de restaurantes, que descartam grandes quantidades de óleo diariamente. O saldo da iniciativa até agora são 500 litros de óleo recolhidos a cada mês.

Sob nova direção
Apesar do esforço empreendido desde 2000 para desenvolver essa cultura baseada na sustentabilidade, o Real vive hoje uma fase de incertezas. Em setembro, o banco holandês ABN Amro, dono do Real no Brasil, foi comprado por um consórcio de bancos liderado pelo espanhol Santander. Como o novo controlador não é uma instituição que se destaca por suas ações de sustentabilidade -- no Brasil, é líder em número de reclamações de clientes no Banco Central, por exemplo --, há dúvidas em relação à continuidade dos programas desenvolvidos atualmente pelo Real. No entanto, para Barbosa, o aprendizado acumulado pelos funcionários nos últimos anos deve garantir a preservação desses valores. Barbosa acredita também que os novos controladores do Real terão interesse em manter essas práticas, já que elas foram um dos pilares do bom desempenho da instituição nos últimos anos. "Em qualquer fusão ou aquisição, o objetivo dos controladores é manter o que há de melhor em cada uma das empresas envolvidas na operação", diz ele.

Avaliação da empresa
Pontos fortes
- Aremuneração dos executivos está vinculada ao desempenho do banco nas dimensões social, ambiental e econômicofinanceira.
- Os aspectos socioambientais estão inseridos nas projeções de receitas,despesas e ativos.
- Tem verbas para iniciativas de investimento social definidas em orçamento anual.
Pontos fracos
- Usa o padrão brasileiro para publicar suas demonstrações financeiras - e não as normas internacionalmente aceitas de contabilidade.
- Não possui um conselho fiscal (não é uma exigência legal, mas uma medida na direção da governança corporativa).
- Arecente compra do controlador do Real por um grupo liderado pelo Santander deixa dúvidas em relação à continuidade de suas políticas de sustentabilidade.

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Em junho, 200 executivos do banco Real foram submetidos a uma prova inédita na instituição. O grupo teve meia hora para dissertar sobre a importância da sustentabilidade e como o banco pode se beneficiar com o tema. Depois do teste, os executivos assistiram a uma palestra de Fábio Barbosa, presidente do Real. O evento fez parte de um programa para formar uma cultura de desenvolvimento sustentável dentro da instituição. Até o final de 2007 serão treinados quase 9 200 funcionários -- um investimento de aproximadamente 2 milhões de reais. Com esse treinamento, a instituição pretende formar líderes em sustentabilidade, que transmitam os conceitos aprendidos a seus subordinados, clientes, fornecedores e até mesmo a seu círculo de relacionamento pessoal. "O mais difícil de mudar é o comportamento das pessoas. Isso se consegue com muita consistência e perseverança, mostrando que há outra maneira de fazer negócios, na qual não é preciso apelar para o 'jeitinho' ou outros expedientes para atrair clientes", afirma Barbosa. De acordo com o executivo, é com o tempo e com o reforço da prática no dia-a-dia que a organização vai consolidando a nova cultura e criando um círculo virtuoso.

Durante o curso de sustentabilidade, são discutidos temas como direitos humanos, meio ambiente, economia solidária e empreendedorismo social. Os alunos visitam projetos dos quais o Real é parceiro e discutem de que forma é possível ampliar a teia de ação sustentável do banco. Eles são treinados para identificar riscos e oportunidades em diferentes situações, tanto do ponto de vista financeiro como do ecológico e social. Foi em um desses processos que Alexandre José da Silva, gerente regional de operações da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, deu início a um projeto de coleta de óleo de cozinha, que pode ser transformado em biodiesel. Contratado no início deste ano, Silva participou de três módulos do curso, ministrados em São Paulo. No primeiro deles, em uma discussão em grupo, surgiu a idéia de fazer a coleta de óleo de cozinha, que é uma forma de produzir energia limpa e, ao mesmo tempo, gerar renda para as pessoas que recolhem o óleo. De volta ao Rio, Silva submeteu a idéia a seu superintendente. Pouco tempo depois, as 21 agências da região instalaram equipamentos para a coleta do óleo. O engajamento dos funcionários foi surpreendente, segundo ele. "Flagrei muitos dos gerentes vendendo a idéia aos clientes como se fosse um produto financeiro", afirma o executivo. Além disso, as agências conseguiram cooptar donos de restaurantes, que descartam grandes quantidades de óleo diariamente. O saldo da iniciativa até agora são 500 litros de óleo recolhidos a cada mês.

Sob nova direção
Apesar do esforço empreendido desde 2000 para desenvolver essa cultura baseada na sustentabilidade, o Real vive hoje uma fase de incertezas. Em setembro, o banco holandês ABN Amro, dono do Real no Brasil, foi comprado por um consórcio de bancos liderado pelo espanhol Santander. Como o novo controlador não é uma instituição que se destaca por suas ações de sustentabilidade -- no Brasil, é líder em número de reclamações de clientes no Banco Central, por exemplo --, há dúvidas em relação à continuidade dos programas desenvolvidos atualmente pelo Real. No entanto, para Barbosa, o aprendizado acumulado pelos funcionários nos últimos anos deve garantir a preservação desses valores. Barbosa acredita também que os novos controladores do Real terão interesse em manter essas práticas, já que elas foram um dos pilares do bom desempenho da instituição nos últimos anos. "Em qualquer fusão ou aquisição, o objetivo dos controladores é manter o que há de melhor em cada uma das empresas envolvidas na operação", diz ele.

Avaliação da empresa
Pontos fortes
- Aremuneração dos executivos está vinculada ao desempenho do banco nas dimensões social, ambiental e econômicofinanceira.
- Os aspectos socioambientais estão inseridos nas projeções de receitas,despesas e ativos.
- Tem verbas para iniciativas de investimento social definidas em orçamento anual.
Pontos fracos
- Usa o padrão brasileiro para publicar suas demonstrações financeiras - e não as normas internacionalmente aceitas de contabilidade.
- Não possui um conselho fiscal (não é uma exigência legal, mas uma medida na direção da governança corporativa).
- Arecente compra do controlador do Real por um grupo liderado pelo Santander deixa dúvidas em relação à continuidade de suas políticas de sustentabilidade.
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