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“Nein” para as portas abertas

Não, nós não damos conta de tudo. Essa foi a resposta, no domingo, dos eleitores do Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, umas das mais verdes e belas regiões da Alemanha, no nordeste do país. Desde que abriu as portas da Alemanha para a imigração, permitindo a entrada de 1 milhão de refugiados, no ano passado, a […]

MERKEL: a alemã sofre pressões internas e externas sob seus valores  pró-imigração e em prol de manter o bloco europeu unido / Stefanie Loos/ Reuters (Stefanie Loos/Reuters)

MERKEL: a alemã sofre pressões internas e externas sob seus valores pró-imigração e em prol de manter o bloco europeu unido / Stefanie Loos/ Reuters (Stefanie Loos/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2016 às 19h49.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h53.

Não, nós não damos conta de tudo. Essa foi a resposta, no domingo, dos eleitores do Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, umas das mais verdes e belas regiões da Alemanha, no nordeste do país. Desde que abriu as portas da Alemanha para a imigração, permitindo a entrada de 1 milhão de refugiados, no ano passado, a chanceler Angela Merkel tem respondido às críticas com a frase “wir schaffen das” (o equivalente alemão ao “yes we can” da primeira campanha de Barack Obama, ou algo como “nós damos conta”).

Nein, disseram os eleitores, que depositaram 31% dos votos no Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, que participa da coalizão de governo; 21% na xenófoba Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita; e humilhantes 19% para a União Democrata-Cristã (CDU), de Merkel. Isso, no Estado do qual a chanceler provém. A AfD foi fundada em 2013, para se opor à União Europeia. Em março, já havia ficado em segundo lugar nas eleições da Saxônia-Anhalt, com 24%. Mas foi a primeira vez que um partido de direita superou a CDU em uma votação — e na casa de Merkel, é um duplo triunfo. A eleição era considerada um plebiscito sobre a “política de portas abertas” da chanceler, que deve se candidatar pela quarta vez, nas eleições gerais, dentro de um ano.

Analistas ouvidos por EXAME Hoje reconheceram o peso do golpe contra Merkel, mas não acham que sua liderança, tanto no seu partido quanto na Europa, fica irremediavelmente abalada. “Coloca em perigo a liderança dela, mas até agora não há ninguém que a desafie na CDU”, analisa o cientista político Nikolaus Werz, da Universidade Rostock, que fica no Estado onde ocorreram as eleições de domingo.

Gero Neugebauer, cientista político da Universidade Livre de Berlim, garante que a derrota “não ameaça de forma alguma” a liderança de Merkel. “Houve apenas cerca de 170.000 votos contra a política de imigração de Merkel, de um total de 800.000”, contabiliza Neugebauer. “Numa eleição nacional, 62 milhões podem participar. “Na última (2013), foram 42 milhões. O problema é o valor simbólico desse resultado.” Neugebauer também não vê “ninguém, até agora, que possa realmente desafiar” a chanceler em seu partido.

O Instituto de pesquisas Infratest Dimap perguntou se Merkel deveria se candidatar à reeleição. Dos alemães em geral, 51% responderam que “não” e 46%, que “sim”; já entre os eleitores da CDU, a resposta positiva foi de 81%. Haverá mais cinco votações regionais e locais antes das eleições parlamentares de setembro do ano que vem. Dentro de duas semanas, será a vez de Berlim, que tem status de Estado. Na capital, as pesquisas mostram a CDU em segundo ou terceiro lugar, atrás do SPD e/ou dos Verdes. A AfD está no momento em quinto. Neugebauer ressalva, com cautela alemã: “Como você sabe, as previsões não são seguras, porque se referem ao futuro, e na verdade ninguém sabe”.

De acordo com a mesma pesquisa do Infratest Dimap, se as eleições gerais de daqui a um ano fossem hoje, 33% votariam na aliança CDU/CSU; 23%, no SPD; 14%, na AfD; 11%, nos Verdes; 9%, no Partido da Esquerda; e 5% no Partido Liberal Democrata.

Merkel insiste 

Os alemães estão irritados não só com o custo econômico dessa avalanche de imigrantes, mas, principalmente, com a onda de atentados terroristas que se seguiu. No curto intervalo entre os dias 18 e 24 de julho, ocorreram quatro ataques, todos cometidos por muçulmanos: três imigrantes — um afegão e dois sírios —, e o quarto, um filho de iranianos. Três deles ocorreram na Baviera, a base da CSU. O governador do Estado, Horst Seehofer, que é da CSU, considerou “perigosa” a situação do partido e de seu aliado nacional, a CDU, e fez um apelo a Merkel para que modifique sua política de imigração.

Em Hangzhou, na China, onde participou da cúpula do G-20, Merkel reconheceu estar “insatisfeita com o resultado das eleições”, e que “muitas pessoas não têm a nossa confiança em relação à questão dos refugiados”. Mas reiterou que considera a sua política correta.

No cenário europeu, a liderança de Merkel se tornou ainda mais importante, com a decisão britânica de sair da União Europeia (UE) e a baixa popularidade do presidente francês, François Hollande, que também enfrenta eleições no ano que vem, sob a ameaça de crescimento da líder ultradireitista Marine Le Pen, que se opõe à imigração e à permanência da França no bloco.

Merkel tem se reunido com governantes europeus, para discutir o redesenho da UE e uma estratégia para manter o bloco coeso depois da saída do Reino Unido. Em cada encontro, ela dá ênfase ao aspecto mais premente para cada país. Com Hollande, o tema principal foi o aprimoramento da segurança no bloco, para enfrentar o terrorismo; com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, como estimular o crescimento econômico. A chanceler alemã tem enfrentado mais resistências entre os países do Leste Europeu, que não querem estreitar a integração. Os encontros servem para definir um plano de ação para a cúpula de Bratislava, dia 16 — a primeira sem o Reino Unido. Um dos temas principais será justamente a imigração.

À pergunta sobre se a derrota eleitoral abala o papel de Merkel na Europa, Werz responde: “Na UE, não sobrou praticamente ninguém que siga a política dela em relação aos refugiados”. Já Neugebauer adverte: “É cedo demais para quaisquer conclusões”. A única coisa certa é que vem mais incerteza por aí. E quando a Alemanha espirra, a Europa inteira pega um resfriado.

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