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Nacionalização do petróleo isola mais Equador do que Bolívia

Sem perspectivas de acordo com grandes empresas do setor e sem qualificação técnica, equatorianos terão dificuldades para exportar e para operar as plantas de extração

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h38.

Ao embarcar na onda nacionalista e tomar os ativos da Occidental Petroleum (Oxy), companhia americana e maior investidora privada no país, o Equador colocou-se numa situação mais complicada que a de Bolívia e Venezuela, seus inspiradores. Ao contrário destes países, que, apesar da ferocidade verbal com que defendem suas medidas, ainda mostram-se abertos à negociação com potenciais parceiros e investidores, o Equador apenas expulsou a Oxy e pretende gerir sozinha seus ativos. Para os especialistas, o país não possui nem capacidade técnica, nem de investimento, para manter o mesmo nível de operação. Além disso, ao contrariar os interesses dos Estados Unidos, seu principal parceiro comercial, corre o risco de não conseguir escoar seu petróleo, sofrer sanções econômicas e não atrair, em último caso, investidores capacitados para gerir a petrolífera nacionalizada.

A expulsão da Oxy foi anunciada em 16 de maio. Tradicionalmente aliado aos americanos, o governo de Quito, presidido por Alfredo Palacios, desde que assumiu, há um ano, tem sido pressionado por grupos indígenas a nacionalizar o setor petrolífero e aplicar a renda obtida em programas de redução da pobreza. Para Roger Tissot, diretor de análise de riscos da PFC Energy, uma consultoria americana especializada no setor, o equívoco equatoriano é supor que será fácil gerenciar as unidades retomadas. A questão não é apenas conhecimento técnico, mas também recursos financeiros para investir nas operações. "As pessoas tendem a esquecer que para manter a produção, é necessário um investimento pesado. Os políticos não ganharam a eleição explicando como iriam gerir o setor petrolífero; eles ganharam propagandeando o número de hospitais e escolas que construiriam", afirmou Tissot à revista americana BusinessWeek.

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A intenção original de Quito é transferir os ativos da Oxy para a estatal PetroEcuador, mas há dúvidas sobre se a companhia tem capacidade para enfrentar o desafio. A Oxy era o maior investidor privado no país e respondia por cerca de 20% da dos 538 000 barris de petróleo que o país produz diariamente. Era, também, o maior contribuinte do Fisco equatoriano.

Atrair um investidor interessado e capaz de administrar as unidades retomadas seria uma opção, mas a quebra não negociada do contrato com a Oxy dificultará muito a tarefa. Para Tissot, os chineses são potenciais candidatos, já que a sua acelerada expansão econômica os leva a uma política agressiva de aquisição de reservas petrolíferas em todo o mundo. A dúvida é quanto tempo os equatorianos demorarão para se convencer de que não conseguem gerir sozinhos o espólio da Oxy, partindo para uma eventual parceria. "Agora, os chineses estão concentrados em comprar reservas, mas suas análises de investimento podem mudar", diz.

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