Ministros da Defesa americanos discutem gastos militares
Leon Panetta, que apresentou na reunião uma nova estratégia para o hemisfério, se comprometeu a fortalecer as associações de defesa na região
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2012 às 14h28.
Punta Del Este - Os Estados Unidos pediram à América Latina que deixe a polícia encarregada da segurança interna, e não o exército, no início da X Conferência de Ministros da Defesa das Américas, na qual o anfitrião Uruguai questionou os gastos militares e a Junta Interamericana de Defesa.
A conferência, que conta com a participação de 29 delegações dos 34 países que integram o Fórum, tem como tema central a cooperação para enfrentar os desastres naturais, o papel do continente nas missões de manutenção da paz e a vigência do sistema interamericano de defesa.
O secretário de Defesa americano, Leon Panetta, que apresentou na reunião uma nova estratégia para o hemisfério, se comprometeu a fortalecer as associações de defesa na região. Nesse sentido, já concordou em modernizar os acordos de cooperação com o Uruguai e Peru.
Além disso, Panetta pediu aos países latino-americanos que deixem a polícia cuidar da segurança interna, e não o exército, prometendo ajuda dos Estados Unidos para tanto.
Nos últimos anos, vários países latino-americanos, como México, Bolívia, Honduras e Guatemala, confiaram parte da tarefa de manter a ordem interna às Forças Armadas, como parte de sua luta contra os cartéis de drogas e aumento da criminalidade.
"O uso de militares para a aplicação da ordem civil não pode ser uma solução de longo prazo", disse Panetta, de acordo com o texto de seu discurso.
Ele ressaltou que os Estados Unidos "farão o seu melhor para reduzir as necessidade das Forças Armadas na manutenção da ordem", e se comprometeu a fazer isso "de uma maneira que respeite os direitos humanos, a lei e a autoridade civil."
Panetta também apoiou uma iniciativa chilena para acelerar e coordenar o apoio à assistência humanitária civil em caso de desastres naturais.
Mais cedo, o ministro da Defesa uruguaio, Eleuterio Fernández Huidobro, questionou na abertura da conferência a Junta Interamericana de Defesa (JID), o consumismo, o sistema financeiro e as despesas militares.
"A Junta Interamericana de Defesa (JID) tem 70 anos de idade, a mesma idade que eu, está velha e eu estou velho, e nasceu quando o mundo passava por coisas feias", declarou o ministro ao abrir a conferência, que decorrerá até quarta-feira em Punta del Este (120 km a leste de Montevidéu), a portas fechadas e com um forte esquema de segurança.
Huidobro enfatizou que a desigualdade "é o grande problema que estpa acima e sobrevoa todos os demais problemas" e que "não vão alcançar todos os militares do mundo para resolvê-lo".
Questionou o papel de grande parte do sistema financeiro como um gerador de "organizações criminosas transnacionais piores do que as do tráfico de drogas, armas, terrorismo, pessoas, órgãos, resíduos tóxicos".
Embora tenha lembrado que o Uruguai é o país do mundo que mais contribuiu proporcionalmente com tropas para missões de paz, lamentou que "se há missões de paz é porque há guerras (...) e enormes gastos militares".
"Saber que uma pequena parte das colossais despesas militares que dilapida a humanidade poderia resolver graves problemas que nos afligem, é constatar a profundidade da estupidez que nos afeta", disse ele.
Nesse sentido, "não pode haver produto melhor nem mais desejável que a paz (...) transnacional, regional, hemisférica e global."
"Eu nunca teria pensado em 60 anos que (...) teria que fazer em minha vida um discurso assim", acrescentou Huidobro, ex-líder do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, guerrilha urbana fundada em 1965 e derrotada pelas forças de segurança em 1972.
Uma ironia também destacada pelo presidente uruguaio, José Mujica, outro ex-líder tupamaro: "Eu nunca pensei em minha vida me ver em um transe de ter que ajudar a inaugurar uma reunião deste tipo", disse.
Os ministros já decidiram que a próxima conferência, em 2014, será no Peru e a seguinte na Jamaica.