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Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2012 às 16h54.
Cairo - As desavenças entre a Junta Militar, atualmente no poder, e a poderosa Irmandade Muçulmana não são exclusivas da arena política no Egito: ambos os grupos também buscam o poder econômico, numa luta da qual pouco se conhece.
O general Mahmoud Nasr, conselheiro financeiro da Junta, colocou sobre a mesa uma questão que será defendida por unhas e dentes pelos militares na criação da futura Constituição, o orçamento militar.
Atualmente, a Junta Militar tem o controle sobre sua elaboração e não pretendem cedê-lo para o parlamento, dominado pela Irmandade Muçulmana e outros grupos islâmicos.
"Defenderemos nossos projetos. Nós os construímos durante 33 anos, não os daremos para que sejam destruídos por alguém", afirmou o conselheiro de forma inesperada para jornalistas, apesar do manto de mistério que envolve a questão.
Não se trata somente de controlar o destino da ajuda militar de US$ 1 bilhão que o Egito recebe anualmente dos Estados Unidos, mas do conglomerado empresarial que as Forças Armadas construíram em segredo desde o mandato do presidente Anwar el-Sadat, assassinado em 1981.
Nasr minimizou a questão ao afirmar que as despesas militares só representam 5% do orçamento do governo e que as contas são supervisionadas por um órgão estatal, mas ainda persistem dúvidas sobre a real dimensão das posses das Forças Armadas.
O que começou como uma cadeia de produção para garantir o abastecimento dos militares, tornou-se uma grande rede de empresas, explicou à Agência Efe o secretário-geral da Federação de Câmaras de Comércio do Egito, Alaa Ezz.
Um exemplo dessas companhias é a Organização de Projetos de Serviço Nacional, que comercializa água mineral, alimentos, comida enlatada, produtos agrícolas e até instrumentos ópticos.
"Os militares não têm direito a ter uma economia especial, paralela à unidade do estado", criticou à Efe o analista Ahmed el Nagar, do centro de estudos Al-Ahra. Para o especialista, o responsável pelo crescimento dos negócios dos militares foi o regime de Hosni Mubarak, deposto no ano passado.
Essa opinião é compartilhada pelo braço político da Irmandade Muçulmana, o Partido Liberdade e Justiça (PLJ), que considera que as Forças Armadas devem se limitar à defesa nacional e por isso seu orçamento deveria ser debatido no Parlamento.
Mohammed Guda, deputado do PLJ, disse que espera longas negociações para evitar outro choque entre a Câmara Baixa e o Exército, que vem se enfrentando desde o início da transição democrática.
Frente ao poder econômico dos militares, os islamitas deixaram para trás a perseguição de Mubarak e fomentaram, por meio de seus vínculos políticos, a criação de uma rede de negócios.
Nesta semana, por exemplo, a nova Associação para o Desenvolvimento dos Negócios Egípcios, que agrupa cerca de 200 empresas, entre elas importantes companhias do país, e é liderada por um dirigente da Irmandade Muçulmana, Hassan Malek, reuniu-se com empresários espanhóis.
A associação, que é formada por várias correntes políticas, não apenas islâmica, propõe uma nova ética empresarial, em oposição à corrupção reinante nos anos do antigo regime.
Apesar da vontade de transparência, é difícil quantificar o valor real das empresas controladas por membros da Irmandade Muçulmana, que segundo analistas costumam atuar de forma individual ou familiar.