Luta contra terrorismo divide sociedade civil egípcia
Na prática, novas prerrogativas se traduziram na continuidade da repressão ao movimento de protesto contra o presidente Al-Sisi surgido nas universidades
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2014 às 17h40.
Cairo - A nova campanha de segurança lançada pelo presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, para combater o terrorismo dividiu à sociedade civil do país entre os que mostraram total apoio e os que a consideram uma verdadeira repressão que menospreza ainda mais as liberdades democráticas.
O brutal ataque terrorista lançado na sexta-feira passada na Península do Sinai e que causou a morte de 31 pessoas do exército foi seguido, imediatamente, por uma série de medidas que favorecem a presença e a ação militar em todo o país.
Na última segunda-feira, três dias após o luto oficial decretado por conta do atentado, Al-Sisi ordenou às Forças Armadas que ajudassem à polícia na proteção das "instalações públicas e vitais" do país durante os próximos dois anos.
No mesmo decreto emitido pelo presidente, que exerce um poder absoluto à revelia de parlamento, estipula-se que os delitos cometidos contra estas instalações civis serão remetidos à Justiça Militar.
Na prática, estas novas prerrogativas se traduziram na continuidade da repressão ao movimento de protesto contra Al-Sisi surgido nas universidades coincidindo com o início do ano letivo, assim como no despejo imediato de vários civis na população de Rafah, fronteira com a Faixa de Gaza.
Segundo distintas fontes, quase mil famílias poderiam ser afetadas por esta decisão, que as autoridades justificam com o argumento de que servirá para conter a entrada de extremistas vindos de Gaza através dos túneis subterrâneos que comunicam ambos os lados da fronteira.
Estes supostos radicais alimentariam, segundo o relato oficial, as fileiras de grupos jihadistas, como Ansar Bait al-Maqdis, que operam no Sinai.
Estas novas concessões às Forças Armadas dadas por Al-Sisi, que liderou a derrocada militar do então presidente, o islamita Mohammed Mursi em 3 de julho de 2013, contaram com o apoio imediato de 13 partidos políticos, assim como com o dos principais jornais do país.
Conforme disse à Agência Efe o presidente do Partido Reforma e Desenvolvimento (PRD), Mohammed Anwar al Sadat (sobrinho do presidente de mesmo nome, assassinado em 1981), trata-se de uma aliança dirigida com objetivo de colaborar na preservação do Estado e apoiar os esforços do exército e da polícia em sua luta contra o terrorismo.
De acordo com o político, esta aliança pretende "abrir o diálogo com os habitantes da Península do Sinai e com os estudantes das universidades e seus professores para cessar a violência e a sabotagem".
Por sua vez, o sindicato da imprensa egípcia e responsáveis dos maiores jornais do país, como "Al-Ahram", "Akhbar el-Youm", "Al Dustur" e "Al-Masry al Youm", decidiram de maneira conjunta "suspender a emissão de comunicados que apoiem o terrorismo ou prejudiquem às instituições do Estado".
No entanto, por trás desta declaração de intenções se sobrepõem posturas muito díspares.
Desde o apoio incondicional mostrado pelo chefe de redação do jornal "Al-Ahram", Mohammed Abdul Hadi Allam, para quem "Se nossa sociedade perde o direito à vida, como podemos pedir ao Estado que proteja as liberdades gerais ou a liberdade de expressão?", até as reservas expressadas nas colunas do jornal "Al Shuruq" pelo jornalista Mohammed Esamet, que considera que Al-Sisi e seu governo "podem cometer um erro catastrófico se aumentam as medidas excepcionais em detrimento das liberdades".
Nesta mesma linha se pronunciaram hoje 19 ONGs, para as quais desde 2010 o país foi testemunha de uma "deterioração dramática" dos direitos humanos.
Para o analista Mohamed Elmenshawy, do Middle East Institute, "a sociedade civil egípcia está encurralada pelas políticas draconianas contra as liberdades", como a lei contra as manifestações.
Ele considera que Al-Sisi está aplicando as mesmas estratégias que o deposto ditador Hosni Mubarak, adotando "soluções de segurança" que o analista considera como "errôneas".
Conforme declarou à Agência Efe este especialista, as medidas repressivas adotadas no Sinai por Mubarak após os atentados de 2004 e 2006 em Taba e Sharm el-Sheikh só conseguiram colocar à população civil contra o regime.
"Nos dirigimos rumo a um Mubarak 2.0", ressalta Elmeshawy antes de afirmar que esta situação só conduzirá à piora da situação da sociedade civil, do jornalismo e das minorias perante a passividade dos Estados Unidos e a União Europeia que, segundo ele, renunciaram a pressionar o regime.
Cairo - A nova campanha de segurança lançada pelo presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, para combater o terrorismo dividiu à sociedade civil do país entre os que mostraram total apoio e os que a consideram uma verdadeira repressão que menospreza ainda mais as liberdades democráticas.
O brutal ataque terrorista lançado na sexta-feira passada na Península do Sinai e que causou a morte de 31 pessoas do exército foi seguido, imediatamente, por uma série de medidas que favorecem a presença e a ação militar em todo o país.
Na última segunda-feira, três dias após o luto oficial decretado por conta do atentado, Al-Sisi ordenou às Forças Armadas que ajudassem à polícia na proteção das "instalações públicas e vitais" do país durante os próximos dois anos.
No mesmo decreto emitido pelo presidente, que exerce um poder absoluto à revelia de parlamento, estipula-se que os delitos cometidos contra estas instalações civis serão remetidos à Justiça Militar.
Na prática, estas novas prerrogativas se traduziram na continuidade da repressão ao movimento de protesto contra Al-Sisi surgido nas universidades coincidindo com o início do ano letivo, assim como no despejo imediato de vários civis na população de Rafah, fronteira com a Faixa de Gaza.
Segundo distintas fontes, quase mil famílias poderiam ser afetadas por esta decisão, que as autoridades justificam com o argumento de que servirá para conter a entrada de extremistas vindos de Gaza através dos túneis subterrâneos que comunicam ambos os lados da fronteira.
Estes supostos radicais alimentariam, segundo o relato oficial, as fileiras de grupos jihadistas, como Ansar Bait al-Maqdis, que operam no Sinai.
Estas novas concessões às Forças Armadas dadas por Al-Sisi, que liderou a derrocada militar do então presidente, o islamita Mohammed Mursi em 3 de julho de 2013, contaram com o apoio imediato de 13 partidos políticos, assim como com o dos principais jornais do país.
Conforme disse à Agência Efe o presidente do Partido Reforma e Desenvolvimento (PRD), Mohammed Anwar al Sadat (sobrinho do presidente de mesmo nome, assassinado em 1981), trata-se de uma aliança dirigida com objetivo de colaborar na preservação do Estado e apoiar os esforços do exército e da polícia em sua luta contra o terrorismo.
De acordo com o político, esta aliança pretende "abrir o diálogo com os habitantes da Península do Sinai e com os estudantes das universidades e seus professores para cessar a violência e a sabotagem".
Por sua vez, o sindicato da imprensa egípcia e responsáveis dos maiores jornais do país, como "Al-Ahram", "Akhbar el-Youm", "Al Dustur" e "Al-Masry al Youm", decidiram de maneira conjunta "suspender a emissão de comunicados que apoiem o terrorismo ou prejudiquem às instituições do Estado".
No entanto, por trás desta declaração de intenções se sobrepõem posturas muito díspares.
Desde o apoio incondicional mostrado pelo chefe de redação do jornal "Al-Ahram", Mohammed Abdul Hadi Allam, para quem "Se nossa sociedade perde o direito à vida, como podemos pedir ao Estado que proteja as liberdades gerais ou a liberdade de expressão?", até as reservas expressadas nas colunas do jornal "Al Shuruq" pelo jornalista Mohammed Esamet, que considera que Al-Sisi e seu governo "podem cometer um erro catastrófico se aumentam as medidas excepcionais em detrimento das liberdades".
Nesta mesma linha se pronunciaram hoje 19 ONGs, para as quais desde 2010 o país foi testemunha de uma "deterioração dramática" dos direitos humanos.
Para o analista Mohamed Elmenshawy, do Middle East Institute, "a sociedade civil egípcia está encurralada pelas políticas draconianas contra as liberdades", como a lei contra as manifestações.
Ele considera que Al-Sisi está aplicando as mesmas estratégias que o deposto ditador Hosni Mubarak, adotando "soluções de segurança" que o analista considera como "errôneas".
Conforme declarou à Agência Efe este especialista, as medidas repressivas adotadas no Sinai por Mubarak após os atentados de 2004 e 2006 em Taba e Sharm el-Sheikh só conseguiram colocar à população civil contra o regime.
"Nos dirigimos rumo a um Mubarak 2.0", ressalta Elmeshawy antes de afirmar que esta situação só conduzirá à piora da situação da sociedade civil, do jornalismo e das minorias perante a passividade dos Estados Unidos e a União Europeia que, segundo ele, renunciaram a pressionar o regime.