Mulheres de burca: segundo ativistas de direitos humanos, a decisão contradiz as próprias regras internas da universidade (Fred Dufour/AFP/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2013 às 09h18.
Gaza - A decisão do movimento islamita Hamas, que governa em Gaza, de impor o uso do véu islâmico às mulheres na Universidade Pública de Al-Aqsa, causou revolta entre os estudantes menos conservadores e gerou controvérsia entre a população.
O conselho do centro educativo anunciou na semana passada a obrigatoriedade do uniforme para as mulheres, que inclui vestido com manga longa e véu, levantando críticas entre os alunos mais liberais, que acusaram a universidade de realizar as instruções do Hamas para islamizar a faixa palestina.
A decisão das autoridades universitárias é, segundo Jitam, estudante de Belas Artes de 21 anos, "uma intervenção grave nos assuntos pessoais que representa o fanatismo religioso".
Outros alunos consideram que a normativa tem como finalidade tentar evitar a rebeldia entre os jovens.
"A universidade não é só para muçulmanos, também há cristãos na Faixa de Gaza", disse à Agência Efe a jovem, que denunciou que os agentes de segurança da universidade "olham de forma estranha para as meninas e se comportam mal quando impedem que alguém sem uniforme islâmico entre no local".
O Hamas tentou várias vezes impor o véu islâmico às advogadas quando vão ao tribunal e em escolas secundárias, além de impedir que homens e mulheres se misturem em público.
O grupo também proibiu que mulheres fumem "shisha" e "hukka" (cachimbo de água) em cafeterias e outros lugares.
Embora a organização tenha reiterado que não quer impor a sharia (lei islâmica) pela força, estas normas e outras atividades, como o lançamento da "Campanha de Virtude Islâmica", mostraram o contrário.
"Quando alguém ouve que a Universidade de Al-Aqsa quer que suas estudantes usem o uniforme islâmico, os de fora imediatamente pensam que o que ocorre é que se vestem com roupas curtas e sexy", apesar de os estudantes, na verdade, se vestirem de forma "modesta" e 95% cobrirem a cabeça, explicou à Agência Efe Khalil Abu Shamalleh, da ONG Al Dameer.
A sociedade de Gaza "foi tradicional muito antes de o Hamas tomar o controle do território", acrescentou.
Na Cisjordânia, Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), condenou a nova normativa universitária.
"A decisão tem perigosas implicações sociais e políticas, que poderiam danificar seriamente a sociedade palestina em geral", assinalou em comunicado o dirigente, que considera que esta medida é uma amostra da crise política e social que vive o enclave palestino.
Além disso, segundo ativistas de direitos humanos, a decisão contradiz as próprias regras internas da universidade.
"É uma universidade pública, que pertence ao Ministério da Educação Superior, e não ao setor privado", por isso que não se pode impor um código de vestimenta islâmico, disse Jamil Serhan, da ONG Corporação para os Direitos Humanos.
Trata-se, além disso, "de uma violação dos direitos humanos e dos direitos de liberdade pessoal do indivíduo", explicou Serhan, que considera que as autoridades universitárias devem anular imediatamente a norma e respeitar a liberdade pessoal de suas alunas.
O analista político Talal Oukal considera que, com esta mudança, o Hamas dá mais um passo em sua tentativa de islamizar a sociedade de forma gradual e não dar um golpe, para evitar enfrentar a resistência da população.
"A imposição do uniforme islâmico aos estudantes da Al-Aqsa será feita de forma gradual, igual ao que estão fazendo em todas as escolas sob o pretexto de que os direitos dos estudantes não sejam violados", assegurou.
Os cinco anos de bloqueio impostos em Gaza por Israel com o apoio do Egito, aumentaram o desemprego e a pobreza entre seus 1,7 milhões de habitantes, um fator que, segundo os especialistas, está ajudando a formar uma sociedade mais conservadora. EFE