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Governo uruguaio acusa EUA de intromissão em sua campanha eleitoral

Acusação foi após os EUA emitirem um alerta aos seus cidadãos que viajarem ao Uruguai sobre o "aumento da delinquência" no país sul-americano

Rodolfo Nin Novoa: Chanceler uruguaio reiterou que considera que os Estados Unidos se intrometem na campanha eleitoral do país (Loey Felipe / AFP/AFP)

Rodolfo Nin Novoa: Chanceler uruguaio reiterou que considera que os Estados Unidos se intrometem na campanha eleitoral do país (Loey Felipe / AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 6 de agosto de 2019 às 19h49.

O governo uruguaio elevou o tom com relação a Washington e acusou a administração de Donald Trump de se intrometer na campanha eleitoral para as presidenciais de outubro.

Nesta segunda-feira, a chancelaria uruguaia emitiu um incomum comunicado no qual alertou seus cidadãos que viajarem aos Estados Unidos sobre a "crescente violência indiscriminada" no país após dois ataques a tiros ocorridos no fim de semana e que deixaram mais de 30 mortos.

O texto se seguiu a um aumento no nível de advertência do Departamento de Estado aos cidadãos norte-americanos que viajarem ao Uruguai devido ao "aumento da delinquência" no país sul-americano.

Nesta terça, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, reiterou que o Uruguai considera que os Estados Unidos se intrometem na campanha eleitoral uruguaia, confirmou que o comunicado de segunda-feira foi uma resposta à mensagem emitida por Washington na sexta-feira, e afirmou que se trata de uma questão de "dignidade nacional".

"Disse que (os Estados Unidos) se intrometiam" na campanha eleitoral uruguaia, afirmou Nin Novoa, durante uma entrevista com a rádio local Carve, ao mesmo tempo em que assegurou que "não há nenhuma tensão" com Washington.

No entanto, destacou que a advertência dos Estados Unidos a seus cidadãos sobre o Uruguai é como olhar para os problemas dos outros, sem olhar para os próprios.

"Os Estados Unidos têm uma taxa de homicídios de 25 por 100 mil habitantes", enquanto "no Uruguai temos a metade disso", acrescentou.

"Fizemos um comunicado nos mesmos termos que eles fizeram", acrescentou.

"Matam 30 pessoas em ataques a tiros em bares (nos Estados Unidos) e vêm nos dizer para ter cuidado com o Uruguai. Por favor!", exclamou o chanceler do governo de Tabaré Vázquez (esquerda).

Na sexta-feira, o governo americano destacou, em uma nota consular, que "os delitos violentos, como os homicídios, os assaltos à mão armada, o roubo de veículos e os furtos aumentaram" no Uruguai.

"É um exagero (e é) muito imprudente sair dizendo que a insegurança aumenta (no Uruguai) quando o tema da segurança está inserido na campanha eleitoral", respondeu o ministro, lembrando que em outubro, quando for eleito o presidente uruguaio, haverá um plebiscito que propõe uma reforma constitucional para tornar mais rígidas as medidas de combate ao crime.

Em 2018, o Uruguai, um país de 3,4 milhões de habitantes, registrou uma cifra recorde de homicídios (381), 35% a mais que em 2017. A segurança pública é um dos principais temas de campanha.

Comunicados similares

Uruguai e Venezuela publicaram no mesmo dia um comunicado de similar teor e conteúdo em relação à violência nos Estados Unidos.

Os dois textos pedem a seus viajantes para evitar grandes aglomerações e algumas cidades entre as "20 mais perigosas do mundo", falam de "crimes de ódio", e reiteram palavra por palavra que os massacres nos Estados Unidos se devem a "fatores" como a "posse indiscriminada de armas de fogo pela população".

Consultado a esse respeito, Nin Novoa destacou que não houve "nenhum contato com a chancelaria venezuelana" e acrescentou que "há chancelarias que (...) cumprimentaram (Montevidéu) por este comunicado", embora tenha se negado a apontar quais.

O governo uruguaio foi muito próximo ao do falecido Hugo Chávez e também ao de seu herdeiro político Nicolás Maduro.

Embora o candidato presidencial do governo, o ex-prefeito de Montevidéu Daniel Martínez, e o próprio ex-presidente José Mujica (2010-2015), uma referência da esquerda latino-americana, tenham mudado seus discursos, passando a qualificar a Venezuela de "ditadura", o Executivo uruguaio se recusa a emitir qualitativos e afirma que sua aposta é no diálogo entre governo e oposição.

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