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Geoengenharia: até onde podemos ir para salvar a Terra?

Soluções esbarram em questões éticas e políticas ligadas às incertezas sobre os efeitos colaterais da intervenção deliberada no delicado ecossistema terrestre


	Intervenção radical: apesar de não receberem acolhida, projetos de geongenharia se multiplicam
 (Stock Exchange)

Intervenção radical: apesar de não receberem acolhida, projetos de geongenharia se multiplicam (Stock Exchange)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 28 de setembro de 2013 às 07h48.

São Paulo – Uma das surpresas do quinto relatório do IPCC, o painel de experts em clima da ONU, divulgado ontem, foi a menção à Geoengenharia, que engloba os esforços em usar a tecnologia para manipular o meio ambiente e o sistema climático a fim de combater o aquecimento global.

No documento de 32 páginas chamado “Sumário para tomadores de decisão”, os especialistas citam a técnica de Gerenciamento da Radiação Solar (SRM, na sigla em inglês), que envolve refletir raios solares de volta para o espaço antes que antinjam a Terra, e outra chamada de Remoção de Dióxido de Carbono (CDR, na sigla em inglês), que retira CO2 do ar.

Em geral, as propostas esbarram em questões éticas e políticas ligadas às incertezas sobre os efeitos colaterais de intervenção no delicado ecossistema terrestre. “Evidência limitada impede uma abrangente avaliação quantitativa da gestão da radiação solar de ambas as técnicas e seus impactos sobre o sistema climático”, diz um trecho, completando em seguida: “métodos de CDR e SRM podem provocar efeitos colaterais e de longo prazo com conseqüências em escala global”.

Outra crítica é de que tais soluções funcionariam como um passe livre para poluidores continuarem com suas altas emissões de gases efeito estufa a partir da queima de combustíveis fósseis. Mas uma pergunta se faz urgente: até onde podemos interfirir para remediar um problema que criamos? O relatório aponta o homem como prinicipal responsável pelo aquecimento desde a era industrial.

Apesar de não receberem grande acolhida, os projetos radicais de geongenharia se multiplicam  mas, claro, apenas em escala laboratorial e quando isso é possível. Conheça algumas dessas técnicas controversas.

Reproduzir o efeito de erupções vulcânicas

Entre as medidas estudadas está, por exemplo, o bombeamento de toneladas de aerossóis de enxofre na estratosfera que, por reação química natural, ajudaria a refletir a radiação que incide no planeta de volta para o espaço, reduzindo assim a temperatura média da Terra. O custo para o uso dessa técnica de SRM foi até estimado – cerca de 5 bilhões de dólares por ano, segundo cálculos de pesquisadores, divulgados na publicação científica Environmental Research Letters.


O uso de aeronaves para aspergir as soluções de enxofre na estratosfera é, dentro das capacidades atuais da engenharia aeroespacial, um dos caminhos mais acessíveis para implentação da técnica de mitigação, diz o estudo.

Fertilização dos oceanos

Cobrindo mais de 70% do planeta, os oceanos são um dos principais sumidouros de CO2 de que a humanidade dispõe. Mas diante do aquecimento global, o fitoplâncton que converte dióxido de carbono em matéria viva está se esgotando.

O plano B aí seria derramar nos mares uma grande quantidade de ferro, que age como fertilizante para muitas plantas e alguns microorganismos - incluindo os fitoplanctons que, no processo de crescimento, devorariam o CO2.

Em 2009, o governo alemão começou a testar essa técnica para avaliar o potencial de absorção de dióxido de carbono como medida de combate ao aquecimento global. O projeto, entretanto, foi interrompido pelos protestos constantes por parte de ambientalistas contrários à intervenção no oceano. Segundo os experts do IPCC, tal técnica não conseguiria reduzir a acidificação das águas, consequência do aquecimento global e uma das maiores ameaças ao ecossistema marinho.

Colocar em órbita um mega parassol

O professor Roger Angel, do Arizona, que ajudou a criar o maior telescópio do mundo, acredita que o poder do sol poderia ser reduzido pela colocação de um parassol gigante no espaço.

O “guardassol” de 100 mil quilômetros quadrados seria composto de trilhões de lentes que reduzem em 2% a intensidade da luz solar. Essa estrutura colossal seria posicionada a 1,5 milhões de quilômetros do nosso planeta, para orbitar em um local conhecido como L1, um ponto de equilíbrio gravitacional entre o Sol e a Terra.

Mas lançar no espaço 20 milhões de toneladas (peso estimado das placas) exigiria esforços extras e muito grana para desenvolver, por exemplo, um lançador eletromagnético, que seria posicionado no alto de uma montanha onde a resistência do ar é menor.

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