Mundo

EUA fecham agosto com 53 mortos em massacres com armas de fogo

Último episódio ocorreu em uma rodovia do Estado do Texas, entre as cidades de Odessa e Midland, e deixou 7 mortos

Texas: número de vítimas de um ataque a tiros realizado no sábado subiu para 7 (Cengiz Yar/Getty Images)

Texas: número de vítimas de um ataque a tiros realizado no sábado subiu para 7 (Cengiz Yar/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 2 de setembro de 2019 às 09h49.

O mês terminou como começou nos EUA: com tiros, massacres e um debate sem fim sobre restrições à venda de armas. Ontem, o número de vítimas de um ataque a tiros realizado no sábado, no Texas, subiu para 7. Em agosto, autoridades americanas contabilizaram 53 assassinatos em massacres semelhantes em todo o país.

O último episódio ocorreu em uma rodovia do Estado do Texas, entre as cidades de Odessa e Midland. No sábado, dia 31, as primeiras informações indicavam que cinco pessoas, incluindo o atirador, haviam sido assassinadas. O suspeito foi identificado pelos policiais como Seth Aaron Ator, de 36 anos, residente de Odessa.

Em seguida, o homem roubou um carro do Serviço Postal americano e começou a atirar com um rifle, indiscriminadamente, em quem estava no caminho. A situação foi contida depois que o atirador foi cercado pela polícia no estacionamento de um complexo de cinemas de Odessa. O motivo do ataque ainda está sendo investigado.

O termo "assassinato em massa" é definido pelo Departamento de Justiça dos EUA como "três ou mais assassinatos em um único episódio, excluindo a morte do atirador". O ataque do fim de semana no Texas foi o 38.º deste tipo no ano em todo o país.

Epidemia

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), 40 mil pessoas morreram vítimas de armas de fogo nos EUA em 2017. Quase 60% das mortes ocorre em suicídios. Em 2017, 47 mil pessoas tiraram a própria vida nos EUA, das quais 23,8 mil usaram uma arma de fogo.

Os homicídios representam um terço do total de assassinatos, aproximadamente, dos quais um número irrelevante, menos de 1%, é registrado em "assassinatos em massa".

Os números da violência nos EUA representam um índice de 12 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Parece pouco perto da realidade brasileira. Em 2017, segundo o Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil atingiu pela primeira vez o patamar de 31,6 homicídios por 100 mil habitantes.

Na Venezuela, a situação é ainda mais dramática. O país é o mais violento da América Latina, com 81,4 homicídios por cada 100 mil habitantes, segundo dados do Observatório Venezuelano de Violência.

No entanto, de acordo com estudo recente publicado pelo Jornal da Associação Médica Americana, os dados dos EUA são catastróficos quando comparados com outras potências centrais - o número de assassinatos por cada 100 mil habitantes é de 0,2, no Japão; de 0,3, no Reino Unido; de 0,9, na Alemanha; e de 2,1, no Canadá.

Controle

Sempre que um novo massacre é noticiado nos EUA, as forças políticas se movimentam entorno do debate sobre a restrição da venda de armas, seja por meio da criação de um registro geral de compradores ou da proibição de armamento pesado.

O argumento usado pela Associação Nacional do Rifle (NRA) é o de que as armas seriam uma ferramenta de dissuasão e evitariam assassinatos em massa como o que ocorreu na escola primária de Sandy Hook, em 2012, na cidade de Newtown, em Connecticut, um dos Estados onde o controle sobre a venda de armas é mais restrito.

O mesmo discurso, no entanto, tem mais dificuldades para se adaptar ao Texas, onde o controle é mais frouxo. Em agosto, dois dos piores assassinatos em massa dos EUA no ano aconteceram no Estado. O primeiro em El Paso, no dia 3, quando 22 pessoas morreram. O segundo no fim de semana, em Odessa, que deixou 7 mortos.

Trump diz que trabalhará com Congresso

O presidente dos EUA, Donald Trump, se comprometeu neste domingo horas após o último tiroteio em massa em território norte-americano, a trabalhar com o Legislativo para "frear a ameaça de ataques em massa". Ele salientou, porém, que qualquer medida deve satisfazer os objetivos de proteger a segurança pública e o direito constitucional de posse de armas.

"Queremos reduzir substancialmente o crime violento", afirmou Trump. Ele acrescentou que seria "maravilhoso dizer" que trabalharia para "eliminar" os tiroteios em massa, mas reconheceu que isso era improvável.

As declarações de Trump ocorreram horas depois um homem detido por uma infração de trânsito no Texas ter aberto fogo contra as tropas estaduais, matando sete pessoas e deixando 22 feridos antes de ser morto pela polícia. Autoridades disseram neste domingo que ainda não sabem explicar porque o homem agiu dessa forma. Registros judiciais mostram que o atirador foi preso em 2001 e acusado por contravenção e resistência à prisão. Ele confessou culpa e entrou em acordo para cumprimento de pena por 24 meses.

Os antecedentes criminais não impediriam o atirador de comprar armas legalmente no Texas, embora as autoridades não tenham informado onde ele conseguiu a arma utilizada o massacre. De qualquer forma, a ocorrência levanta mais uma vez a questão sobre maior controle de armas nos EUA. Trump, porém, pareceu lançar novamente dúvidas sobre o mérito de instituir verificações mais completas de antecedentes para a compra de armas.

O compromisso de Trump com o controle de armas está em dúvida desde que 17 pessoas foram mortas em um tiroteio em uma escola secundária de Parkland, Flórida, em fevereiro de 2018. Inicialmente, o presidente norte-americano saiu em defesa de verificações mais fortes de antecedente, mas rapidamente recuou sob pressão da National Rifle Association, o lobby dos proprietários de armas que apoiou fortemente a candidatura de Trump.

Mais recentemente, ele questionou os méritos de verificações mais fortes após os tiroteios consecutivos em El Paso (Texas) e Dayton (Ohio), que mataram mais de 30 pessoas cerca de um mês atrás. Em vez disso, Trump procurou citar os problemas de saúde mental. "Na maioria das vezes, infelizmente, se você olhar para os últimos quatro ou cinco (tiroteios) voltando mesmo cinco, seis ou sete anos, na maior parte, por mais fortes que sejam as verificações de antecedentes, elas não teriam parado nada disso" disse. "Portanto, é um grande problema. É um problema mental. É um grande problema."

Trump mencionou a necessidade de "medidas fortes para manter as armas fora das mãos de indivíduos perigosos e perturbados", juntamente com alterações em um sistema de saúde mental que ele descreveu como "quebrado". Ele também pediu para garantir que os criminosos com armas "sejam colocados atrás das grades e mantidos fora das ruas".

"A segurança pública é a nossa prioridade número 1, sempre querendo proteger nossa Segunda Emenda. Tão importante", disse ele, referindo-se à emenda constitucional que estabeleceu o direito de manter e portar armas.

Trump disse a repórteres neste domingo que estava falando com parlamentares de ambos os partidos e "as pessoas querem fazer alguma coisa". Ele disse que o governo está "olhando muitas coisas diferentes" e espera ter um pacote pronto para o momento em que o Congresso voltar à sessão na próxima semana.

Acompanhe tudo sobre:ArmasDonald TrumpEstados Unidos (EUA)MassacresMortesTexas

Mais de Mundo

Venezuela restabelece eletricidade após apagão de 12 horas

Eleições nos EUA: o que dizem eleitores da Carolina do Norte

Japão registra 40 mil pessoas mortas sozinhas em casa — 10% delas descobertas um mês após a morte

Zelensky destitui chefe da Força Aérea ucraniana após queda de caça F-16

Mais na Exame